Ahñ, deixa que eu passo.
#ClichéTheory
Inacreditável a minha capacidade de ser trouxa e ficar relembrando o passado, o que acaba me deixando em um estado psicológico horrível.
Passei mais uma noite em claro pensando na possibilidade do vídeo da traição ter circulado nos celulares de outros alunos, além dos do Santa Amélia.
Fiquei tão atordoada com o babaca do São Vicentino, que acabei errando três vezes os pedidos dos clientes, o que me fez levar uma bronca daquelas de Diarra, e acabei sendo "dispensada" mais cedo, o que óbvio faz ser descontado do meu salário depois.
Mas qual seria a chance do vídeo ter vazado para fora dos portões do colégio? Afinal, eu não tive que lidar com humilhações e zoações de outras pessoas que não fossem as do meu colégio - foram dois meses difíceis de lidar, mas a música me ajudou a não desistir de tudo -, sinceramente eu não sei qual é a graça de ficar vendo um vídeo onde uma garota descobre que está sendo traída.
É natural do ser humano fazer as outras pessoas se sentirem mau, porque só assim elas se sentem bem consigo mesmas, elas se divertem com a desgraça alheia - porque com tanto que não seja com elas, está ótimo. Sei que uma lógica horrível de se pensar, mais é a raça humana.
É, eu sei, ficou meio deprê isso aqui. Desculpa, as feridas demoram um pouco para cicatrizar.
Respiro fundo e ajeito meu óculos escuros no rosto, que tive que colocar devido a noite mau dormida, se é que se pode considerar duas horas de sono, como noite mau dormida.
O Batman está ao meu lado nesse exato momento, fingindo mexer no celular, digo fingindo porque consigo perceber que ele me olha pelo canto dos olhos. Observo, sem deixar transparecer que estou acompanhando seus movimentos, ele bagunça seus cabelos num movimento bonitinho, guarda o celular no bolso da calça moletom escura; muda a mão que está segurando o estojo do violino e dá sinal para o ônibus parar.
Como sempre, ele me deixa entrar primeiro. Porém quando eu ia passar pela catraca a merda do meu cartão de estudante não passou, tentei mais uma, duas vezes e nada. Simplesmente aquela merda não passou. Eu estava um pouco vermelha, de vergonha e raiva.
- Merda. - murmuro guardando o cartão na mochila e pegando os três e trinta da passagem, mas antes que eu desse o dinheiro para o cobrador:
- Ahñ, deixa que eu passo. - fala uma voz rouca porém aveludada, atrás de mim, o que faz meu corpo inteiro arrepiar.
Eu não conheço a voz, porém não preciso me virar para saber quem é. Além do perfume - que sem dúvida nenhuma, já o entrega -, somente o Batman está atrás de mim, também tem o fato dele ser o único garoto que eu conheço que tem nos dedos da mão uma quantidade extrema de anéis e unhas pintadas de preto.
E assim, ele passa seu cartão, pagando minha tarifa de ônibus.
O garoto se senta em um banco atrás de mim, levanto e me sento ao seu lado, essa atitude o pega de surpresa, não só a ele mas a mim também. Foi mais forte que eu, juro. Mas eu precisava devolver a quantia da tarifa que ele pagou para mim.
- Obrigado. - agradeço sorrindo.
- Por nada.
- Aqui. - digo lhe estendendo o dinheiro, mas ele não pega as notas.
- Não precisa. - ele fala sorrindo.
- Certeza? - insisto.
Ele assenti e assim acaba nossa conversa.
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stay with me - adaptation noart | ✓
Fanfic+ noart ||.❝ é assustador como uma pessoa pode fazer você nunca mais confiar em ninguém.❞ Sina Deinert tem uma teoria. Ela acredita que todos os adolescentes estão destinados - pelo menos uma vez na vida - a ter uma cena clichê. Desde uma típica cen...