E você, vai esconder até quando que é igual a mim?
#ClichéTheory
- DE NOVO, GABRIEL! - meu pai berra pela centésima vez só nessa manhã. E ainda nem deu sete horas. - Força nesse saque. Parece uma mulherzinha.
Suspiro. Esse é um dos xingamentos que ele mais usa, e um dos que mais me irrita.
Pego impulso para sacar e quando o faço, soco a bola como se fosse a cara de Luiz Almeida, meu pai. Observo a bola passar por cima da rede, bater com força na parede e depois quicar três vezes no chão.
- Isso, garoto! - meu treinador comemora, vulgo, meu pai. - Por hoje é só. Vai tomar um banho, sua aula começa daqui a pouco.
Obedeço e sigo até o vestiário com um sorrisinho de lado, não pelo elogio, mas sim por estar satisfeito com o resultado do meu saque. E está tão raro esse sentimento de satisfação na minha vida nos últimos dias, porque tudo parece estar dando errado. Primeiro meu término com a Joalin, depois mais uma traição sendo exposta para todo o colégio; um jogo perdido e como consequência mais pressão por parte do meu pai; e agora essa maldita gravidez da Joalin.
- Gabriel Almeida de Oliveira? - questiona um homem parado em frente ao meu armário, já dentro do vestiário, acompanhado de mais dois homens.
Me aproximo deles devagar, um pouco confuso com a presença deles a essa hora no Santa Amélia. Como conseguiram entrar? O porque de estarem ali? O que queriam comigo? São perguntas que rodeiam a minha mente, a medida que eu me aproximo mais deles.
- Sim, algum problema?
Mais um problema? - É o que eu deveria perguntar. Virei um imã para isso.
- Esse armário é seu? - assinto meio desconfiado. E só então me dou conta, ou melhor percebo o distintivo em seu pescoço, a voz grave e autoritária e que eu estou ferrado de todas as formas. - O senhor queira me acompanhar até a delegacia. - diz me entregando um papel, e não precisa ser um gênio para saber que aquilo é minha passagem para o inferno. - o senhor está sendo preso por tráfico de drogas.
Meu pai vai me matar.
E o que tinha do meu mundo, termina de despedaçar.
Depois da ordem de prisão, entro em modo automático. Os dois homens me conduzem até a saída do colégio, com meu pai ao meu lado; observo alguns olhares sobre mim, e a coordenadora conversando com um dos polícias civis. Não lembro do trajeto até a delegacia; quando dou por mim já estou na sala gelada do delegado, com meu pai de um lado e o advogado do outro. Lembro que confirmei que a droga era realmente minha, notei o olhar de reprovação do meu pai, por eu ter me entregado. Falei para o delegado que era para uso próprio e não para revenda, observei o olhar dele sobre mim, como se não acreditasse em nada que eu havia dito. Na hora que ele me perguntou onde eu consegui, eu me calei. Não posso contar, porque sei o que acontece com quem abre a boca e entrega o ponto de venda - foi o primeiro conselho que recebi. Permaneci calado ouvindo o sermão do delegado mesmo depois de saber que eu poderia responder por tráfico em um centro de recuperação para jovens infratores, eu continuei calado quando ouvi que minha carreira de atleta havia terminado; permaneci quieto mesmo quando meu pai ofereceu dinheiro para o delegado em troca da minha liberação, mas o oficial recusou e quase deu ordem de prisão para o Luiz - e mesmo depois disso eu fui liberado.
Eu já não me importo mais com nada, tudo está desmoronando, não há mais nada que eu possa fazer, por isso continuo aqui sentado no sofá da minha sala de estar ouvindo o sermão interminável do meu pai. Olho para o homem de cabelos castanhos com alguns fios grisalhos, ele está gritando, isso eu sei, mas eu já não escuto mais, só observando sua boca mexendo rapidamente, gesticulando as mãos freneticamente, com os olhos dilatados.
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stay with me - adaptation noart | ✓
Fiksi Penggemar+ noart ||.❝ é assustador como uma pessoa pode fazer você nunca mais confiar em ninguém.❞ Sina Deinert tem uma teoria. Ela acredita que todos os adolescentes estão destinados - pelo menos uma vez na vida - a ter uma cena clichê. Desde uma típica cen...