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Ambiente tenso como seria de esperar. Muito se cruzavam, mas nada falavam! E caso o faziam, era para distribuir insultos. Kellee estava intrigada a olhar para os dois adolescentes, enquanto bebia o seu café matinal.

- Mas vão continuar assim por muito tempo? - Perguntou a mãe de Ashton. Como resposta recebeu olhares enfurecedores que a fizeram arrepender-se de ter aberto a boca

Claro que a situação tinha o seu peso cómico... Mas ambos tinham orgulho a dobrar. A verdade é que nenhum dos dois estava disposto a dar o braço a torcer. Dar parte fraca e mostrar o que lhes ia realmente no pensamento? Nem mortos. Preferiam ficar a comunicar inconscientemente por olhares indiscretos, que a revelarem arrependimento nas palavras antes ditas. Entretanto o telemóvel de Ashton deu sinal. O nome "Ava" piscava no ecrã. Ashton sorriu indiferente atendendo a chamada.

- Olá Ava - Saudou Ashton em tom suficiente para chamar a atenção de Evelyn - Tudo bem bebé? Claro que já estou despachado, vemo-nos na entrada do Colégio, devo estar aí em dez minutos

- Aldrabão - Sussurrou Evelyn simulando uma tosse repentina

- Tá Ava eu apresso-me - Disse ele, fitando Evelyn de revés - Adeus, amo-te!

Assim que o sinuoso "Amo-te" chegou aos ouvidos de Evelyn, esta engasgou-se e cuspiu o leite para a face do Americano, propositadamente ou não. Depende até que ponto a palavra a perturbou.

- Mas o que é que... - Reagiu Ashton - Desmiolada! - Gritou. Então Kellee viu-se obrigada a abandonar local e deixar o seu bolo de chocolate para trás, antes que começassem a voar pratos

- Foi sem querer! Engasguei-me! - Defendeu-se Evelyn

- Não, não foi nada sem querer - Contrapôs ele, batendo o pé - Sujaste-me o uniforme todo, tu vais-me pagar por esta... Mas é que vais mesmo

- Mas assim vais fazer a Ava esperar - Riu-se sem humor - Não me atrases também a mim

Ashton ficou a roer os pulsos para não saltar em cima da rapariga.

[...]

Evelyn gritou aos primeiros minutos da aula, assim que viu sua mão submersa em cobertura de chocolate. Mas oxalá que fosse só a sua mão. Olhou mais atentamente para o interior da sua mala, deparando-se com bolo de chocolate desfeito entre os livros.

- Evelyn o que é isso? - Perguntou Lauren, contendo os vómitos

- Irwin - Murmurou Evelyn, fitando a fila da frente até dar àqueles olhos denunciadores - Isto não fica assim!

Por de trás daquele ar angelical e carisma arrebatador, escondia-se um diabrete sem chifres. Ashton sabia perfeitamente como tirar uma pessoa do sério com uma simples partida. No Denver era perito em arranjar confusão entre os amigos, mas nenhum deles o ousou desafiar tanto tal como Evelyn. Mas lá vieram as saudades da sua terra. Ashton deixou-se banhar por memórias. Aventuras e desventuras com o seu melhor amigo... O quanto tramavam as raparigas, mas principalmente o quanto se riam no final. Ashton precisava de voltar a rir assim. Precisava do seu Christian.

[...]

Quinze minutos livres de matéria! Tempo suficiente para Evelyn ter uma conversa séria com Ashton. Caso este não estivesse a ninhar com Ava, sentados num banco corrido no pátio do Colégio. "Tem de ser", murmurou Evelyn, dirigindo-se a eles determinada.

- Ashton precisamos de falar - Ava olhou a ex-melhor amiga de baixo a alto, como se tivesse encarado a atitude de Evelyn um gesto de provocação - É rápido - Insistiu ela

- Ava, já volto amor - Deu um enorme beijo na rapariga, fazendo Evelyn revirar os olhos

Ashton e Evelyn afastaram-se para lá dos corredores. Ele encostou-se à parede, cruzando os braços como se resignado.

- Então e o teu namorado? Acho que não vais gostar de nos ver assim tão próximos - Avançou Ashton, com as provocações

- O que foi aquilo na minha mala meu estúpido? - Disparou ela fazendo-o rir - Responde!

- Que graça, por momentos até pensei que me fosses pedir desculpas - Confessou Ashton

- Pelo quê? Por teres ido para a cama com a minha ex-melhor amiga? Por me teres iludido? - E lá começou a lengalenga do costume

- Tu estás-me a querer pôr maluco não estás? - Inquiriu Ashton, massajando as fontes - Que conversa é essa de te ter iludido? Não achas que foi mais ao contrário?

- Eu iludir-te?

- Eu vejo nos teus olhos a insegurança Evelyn - Aproximou-se dela - Medo! Tu tens medo de ser amada... Tens sido tão mal tratada que não aceitas a ideia de que alguém possa gostar realmente de ti - Afirmou Ashton, certo do que dizia

- Tu gostas de mim? - Perguntou ela sem mais papas na língua - Sim ou não Ashton?

[...]

As aulas de Física faziam lembrar a Evelyn os documentários da vida selvagem, à qual costumava assistir pela TV todos os Sábados de manhã. O comportamento exótico das raparigas igual às Chitas, quando olham para uma presa difícil. Neste caso era a captura a Ashton. Corriam que nem doidas atrás do Americano. De repente Física deixou de ser uma tortura, para começar a ser um pretexto de poder tocar naqueles braços fortes descobertos por uma camisola cava, mas não muito volumosos. O suficientemente bom, para fazer qualquer uma querer ser abraçada por eles. "Se eu gosto de ti? Nem me faças responder", palavras que percorriam a cabeça de Evelyn, no decorrer dos seus alongamentos.

- Juntem-se todos! - Ordenou o professor - Hoje vamos dançar - Fez um movimento estranho com as ancas, acentuando bastante nos R's

Destino ou não. Coincidência ou não. Sorte! Ou não... Ashton e Evelyn ficaram como par. Mas o que mais afligia o Americano não era a parceria em si. Mas sim o facto de a voltar a ter nos braços e resistir à vontade de a beijar. De a ter. Já Evelyn parecia confortável com a ideia.

- Peguem nas mãos das meninas como verdadeiros cavalheiros - Instruía pondo a rodar Valsa, para animar as cabeças no ar

- Mas o que raio é isto? - Protestou Ava, roída de ciúmes

- Se está mal, vá-se embora - Repreendeu o professor, não gostando dos modos da Aluna

Ashton nem sequer sabia como posicionar as mãos. Vendo-o atrapalhado, Evelyn pegou-lhe na mão direita e chegou-a à sua anca. As mãos esquerdas, ficaram erguidas, entrelaçadas uma na outra. Ashton realmente não percebia a calma de Evelyn. Aliás, estava a irritá-lo. Começaram por movimentos leves e coordenados. Até que quebraram o gelo, e dançaram como se não houvesse amanhã. Deixaram de ouvir a musica de fundo, deixaram de ouvir os sussurros da turma atrapalhada com os passos, deixaram de estar presos à realidade para flutuarem num mundo inteiramente deles. E ali estavam. Unidos. Mais uma vez. Num silêncio acolhedor, numa cumplicidade única. Abstraíram-se de tal forma, que se não fosse Lauren a entrar abruptamente na aula, ter-se-iam beijado diante todos.

- Desculpe o atraso professor - Disse a cheerleader, reprimindo a voz trémula

Evelyn afastou-se de Ashton, para ir ter com a amiga. Parecia-lhe estranha e perturbada com algo.

- Estás bem?

- Estou ótima fofa - Respondeu Lauren, sem a encarar, usando as unhas como alvo de atenção

[...]

Após um fim de dia a andar de Skate, Ashton entrou em casa estafado. Sentiu o chão tremer sobre os seus pés à medida que se dirigia para o seu quarto. Antes de mais, olhou para a porta do quarto de Evelyn semiaberta. Espreitou, vendo-a de fones nos ouvidos a rodopiar de um lado para o outro, como se estivesse a tocar guitarra elétrica. Esforçou-se para não se rir, mas de facto Evelyn estava linda. Ele pôde ver-lhe de novo o seu sorriso lindo a conjugar com o pijama às bolinhas ajustado ao seu corpo perfeito. O Americano sacudiu a cabeça, vendo-se a mirar o que não devia.

- Tenho de te tirar da cabeça - Murmurou ele



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evelyn | irwinOnde histórias criam vida. Descubra agora