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Ashton levantou-se do chão, como se nada fosse. Embora tivesse o braço esquerdo submerso em sangue, ainda ajudou Oliver a erguer-se. Evelyn não conseguia estar de outra forma, senão petrificada com mãos em concha pressionando a boca. Tudo sem saber o que fazer, dizer ou pensar. Oliver tal como ela, tentava digerir o que se tinha acabado de passar.

- Meu - Pausou, quase sem palavras - Obrigado, salvaste-me a vida! Quer dizer obrigado mesmo - Abraçou-o fortemente, fazendo o Americano soltar um guincho abafado

- Isto está com muito mau ar, anda à enfermaria do Colégio Ashton - Disse Evelyn, olhando pouco da ferida, através do enorme rasgão na camisa
- Tem calma é só um arranhão - Respondeu-lhe, na tentativa escusada de a sossegar

- Sim é melhor ires. - Aconselhou Oliver, ainda atordoado

- Não vou nada, eu estou bem - Ashton experimentou bater na ferida, para lhes mostrar como realmente estava bem, mas logo a seguir arrependeu-se. Rangeu os dentes de aflição, acabando por gritar.

- Então? E agora? Já queres ir ou não? - Asseverou Evelyn, batendo o pé

[...]

O orgulho de Ashton levou-o a sofrer até casa. Para castigo, Evelyn deu-lhe um carolo na nuca com toda a sua força.

- Merda Evelyn! - Gritou ele, cravando de seguida os dentes no lábio

- Tu és estúpido não és? E agora? Como é que vais tratar essa coisa horrível? - Resmungou ela, sem mãos a medir - E agora imbecil? Aliás o que te deu na cabeça para teres feito o que fizeste?

- Não disseste para ir morrer longe? Tentei fazer-te a vontade - Riu-se sarcástico

Evelyn chegou-se até ele, e deu-lhe um estalo descomunal. De seguida sentou-se no sofá, e cobriu a cara com as mãos. Ao ouvi-la lacrimejar, Ashton sentiu um enorme nó na garganta. Quase tão insuportável quanto a dor que se alastrava por todo o seu braço. Colocou-se ao lado dela, tentando não manchar nada com o seu sangue. Inclinou a cabeça para cima, e suspirou, captando a atenção dela.

- Tinha eu oito anos... - Murmurou Ashton - A minha mãe disse "Não te afastes muito Ashton, olha que esta praia é perigosa". Eu? Não lhe dei ouvidos. Mais necessidade tive em aventurar-me. Assim que dei pela sua distração, peguei no meu balde comecei a distanciar-me ao longa da margem - Suspirou, e prosseguiu - Um brilho incandescente despertou-me a atenção. A minha curiosidade juvenil levou-me a subir até ao cimo daquelas rochas, tudo para ter aquela concha cintilante nas minhas mãos! A maré estava demasiado agitada, e uma onda apanhou-me. Gritei em plenos pulmões, mas a agua não tardou a calar-me. Julguei mesmo que a minha linhagem iria acabar por ali, até que... Uma luz vinda do cimo mergulhou e me alcançou o pulso. Quando abri os olhos ainda a cuspir sal, vi-me nos braços do meu pai. Evelyn, ele salvou-me daquele imenso azul quando tudo parecia estar perdido. Ele arriscou a vida... A partir daí, dei-o como meu herói. Passei uma vida a observar-lhe cada passo... Tudo o que fiz e faço é a tentar ser como ele. Audaz, corajoso... Diferente! Portanto se tiver de morrer, então morro para fazer um outro alguém viver... Percebes? - Tirou do seu bolso um imenso fio, com uma concha nela presa. A concha.

- E mesmo... E mesmo assim conseguiste o que querias - Disse Evelyn, entre soluços - Espantoso

- É linda não é? - Gargalhou - Também não sou de desistir! Afinal de contas não me ia vomitar todo para depois não a ter

Perdidos pelo momento, nenhum dos dois se apercebeu da presença de Kellee. Também ela sensibilizada com as palavras do filho. Mas depressa o seu olhar esgueirou para o enorme rasgão imundo de sangue, no braço de Ashton.

- Ashton Irwin! - Fez com que os dois adolescentes dispersos saltassem de susto - O que é isso?

- É a perfeição - Respondeu ele, tranquilamente, referindo-se à sua pessoa

- Casa de banho já! - Ordenou-lhe Kellee aos berros - E não me pingues o chão - Acrescentou
- Isso mãe! Eu aqui a esvaziar sangue e tu preocupada com o chão... - Resmungou ele, rindo pelos cotovelos

[...]

Ashton cruzou os braços à frente do corpo, dolorosamente, e retirou a camisa a mando da Mãe. Tudo para que ela lhe pudesse avaliar e tratar da ferida. Fora da vestimenta formal do Colégio, Ashton revelou a sua camisola de interior cava por baixo. Era tão justa que se notavam todos os vincos daquele conjunto de abdominais bem definidos. Evelyn observava-o de tal forma, que começou a dar conta, que ele era exatamente o seu tipo de rapaz. Alto, magro mas firme, de peito e ombros largos de fazer uma rapariga desmaiar de desejo. Pior foi quando Ashton se arrepiou assim que Kellee lhe pôs as mãos frias sobre a pele saturada. Sentia o braço como se no seu interior cacos de vidro lhe estivessem a picar a carne. Evelyn fez-se sentir ansiosa ao vê-lo contrair todos os músculos, dado ao ardor provocado pelo algodão submerso em álcool. O seu inimigo número um.

- Ashton - Murmurou ela, entre suspiros

Ele inclinou a cabeça, de modo a olhá-la direito.

- Sim?

- Sim o quê? - Despertou Evelyn

- Chamaste-me - Respondeu, enquanto Kellee lhe cobria o braço com uma espécie de compressa

- Chamei? - Estava de tal maneira aluada, que até perdeu controlo nas palavras. Ele arqueou a sobrancelha, dando de ombros, voltando a sentir uma enorme facada no braço

- Bem, já está - Anunciou Kellee, colocando a caixa de primeiros socorros no seu devido lugar - Agora descansa Ashton, eu vou dar uma volta - Piscou-lhe o olho

"Outra saída? Porra" pensou Ashton, bufando entre dentes. Sentia que estava a deixar Evelyn na ignorância, pois o que ele mais odiava era mentir. Se bem que no caso, se aplicaria mais... Ocultar.

[...]

Querendo pôr a matéria em dia, Ashton decidiu tirar o resto de fim de tarde para marrar nos livros. Na sua cabeça, achava que o professor Martin tinha arranjado maneira de implicar com ele. Quando na realidade, Ashton fazia de tudo para tirar a paciência ao pobre o homem, mas sem maldade. No fundo a relação clássica entre professor e aluno. Assim que abriu o livro, encravou na primeira alínea! "Filosofia odeio filosofia, odeio tanto isto, mas é que odeio mesmo", murmurava para os seus botões.

- Estás com dificuldades? - Apareceu-lhe Evelyn no quarto, inicialmente para lhe perguntar o que queria para jantar

- Dificuldades? Estás a gozar? Pior que isso! Estou a zeros... Já te disse que odeio Filosofia? - Perguntou ele, a pontos de mandar o manual pelos ares

- Tu é que és burro - Troçou ela, sentando-se a seu lado na secretária - Queres que te comece a dar explicações? - Perguntou ela prestável

- Podes começar já - Disse ele, rindo

- Ah está bem então - Prosseguiu ela - Por exemplo... Isto aqui é - Absorvido pela sua voz, Ashton deixou-se distrair...

Sentiu-se reconfortado, ao saber que Evelyn se preocupava com ele em todos os sentidos. E que estava sempre disposta a ajudar. Ashton estava intrigado, dado que, em todo o seu historial feminino não achava nem uma rapariga que o fizesse sentir tão... Simples, quanto Evelyn. Podia ser ele mesmo, embora isso tanto tivesse o seu lado bom como mau. É que havia alturas em que ela conseguia mesmo puxar-lhe o pior de si. Deixá-lo completamente desordenado, irritado... Confuso! Ashton esticou o braço direito ileso de feridas, sobre os ombros de Evelyn. Esta por sua vez olhou para ele, sentindo o seu toque descair-lhe ao longo das costas. Ashton inclinou-se até aos seus lábios, erguendo a mão dorida até ao rosto suave dela.

- Posso? - Perguntou, pedindo permissão para a beijar

- Depende... O que é que vais fazer depois? Fugir? Culpar-me? Censurar-te? - Inquiriu ela, delineando um leve sorriso - Ou desde que não te estejas a enganar a ti próprio nem em fazer-me acredita... - Acrescentou, levantando-se da cadeira

- Fazer-te acreditar? Em quê?

- Sim acreditar que possa haver algo! Eu não sei Ashton, não te vou mentir... Eu sinto algo quando te vejo com a Ava, sinto algo quando te vejo... Senti algo quando nos beijámos! Mas eu não quero ser uma aventura tua - Confessou ela, apertando as mãos uma na outra atrás das costas - Como hoje por exemplo - Virou-se para ele - Disseste para deixar o Noah. Pensei que o tivesses dito para depois estarmos juntos sem problemas. Ganhei esperanças a sério que ganhei

- Mas... - Murmurou Ashton, tentando expressar o que realmente havia no seu mais intimo -Cheguei-me mais à Ava porque sim sou um mulherengo sem remédio, mas um mulherengo que está a passar por algo que nunca passou antes! Por ciúmes... Desde que te vi pela primeira vez, reparei no teu jeito Eve. Desde então morro de medo que o Noah te faça mal, porque acho que és uma miúda espetacular e... - Pausou - Tu amas ele, e não me quero meter

- Mete-te - Sussurrou-lhe ela ao ouvido, deitando-o sobre a cama - Mete-te porque eu quero

Ashton agarrava uma mecha do cabelo de Evelyn, enquanto esta, o beijava como se jamais se pudesse fartar dele. Debruçada e de pernas em redor dele, deslizava-lhe a língua ao longo dos seus lábios. Fazendo-o sentir a sua entrega, o seu calor, o seu desejo.


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evelyn | irwinOnde histórias criam vida. Descubra agora