23.

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Recuperou lentamente a lucidez na manhã após o sucedido, sem memória alguma do que lhe tinha acontecido. Evelyn deu-se com uma dor inexplicável no pescoço. Dor essa que a impedia de fazer movimentos bruscos ou circulares. Apoiou-se nas mãos e joelhos, deparando-se com um imenso nada à sua volta. "Mas onde é que eu estou", murmurou, levantando-se por fim. Julgou estar morta, até que tocou algo firme e maciço... Assustou-se com a sua frieza. Se o sentiu... Então estava viva. Suspirou de alívio, achando algo de positivo em tanta obscuridade. Mas voltou ao pânico interior...Calcou receosa esse algo, apercebendo-se ser apenas uma parede. E pouco mais ao lado uma outra. Tão ou menos distanciadas, quanto os seus braços abertos lateralmente.Viu-as como apoios. Os seus olhos, já habituados à escuridão, começaram a destingir uma ligeira fresta de luz a poucos metros de si. Absorveu todo o ar seco que conseguiu, retendo alguma coragem para avançar.

Tateou uma porta de madeira, isolada em tábuas velhas. Tão velhas, que não ofereceram resistência assim que Evelyn as puxou. De seguida alcançou o trinco,e aí sim, viu-se em dificuldades.

- Abram! - Gritou Evelyn, forçando a porta... - Abram por favor - Começou a perder a esperança na voz assim como a força, à qual esbofeteava a madeira

Assim que virou costas e se afastou, começou a ouvir um chiar. A porta começara-se então a ceder diante si... Perfurando o espaço com um traço de luz.Avançou até ele, espreitando entre a semiabertura.

- Mas o que é... O que é isto - Murmurou Evelyn estranha ao que via

Aventurou um pé... De seguida viu-se inteiramente a andar entre um total desconhecido. Já fora do pequeno barracão, agora iluminado mas completamente vazio, Evelyn vagueava pelo que lhe parecia ser um jardim. Esquecido?Abandonado? Por ali, ervas cresciam por vontade própria como se quisessem alcançar o divino. Cheirava tudo a antigo... A mofo. Estátuas alinhadas paralelamente sobrepostas em neblina, pareciam observar cada passo de Evelyn. Ela olhava-as com interesse. Que figuras enigmáticas marmorizadas, como se presas à eternidade! As raízes secas que as percorriam, pareciam calá-las no seu próprio silêncio. Evelyn arrepiou-se até à ponta dos cabelos, enquanto se afastava pelo pavimento estalado. Sentou-se num banco em pedra, também ele frio... A gelar-lhe as pernas, cobertas de apenas de uma saia que mal chegava aos joelhos rosados. Sentia-se solitária, no meio do nada. Abraçou seus próprios braços, correndo a vista por todo aquele lugar... Nostálgico. Tão moribundo. Para cemitério, só faltavam as lápides. E daí, era só uma questão de as procurar.

[...]

Ashton leu, vezes e vezes sem conta, as linhas deixadas por Evelyn.

"Afastei-me. Nem sequer me procures... Estou com alguém de confiança. Adeus Ashton. Esquece-me!"

Atordoado, o Americano atirou o telemóvel à parede, quebrando-o em mil e um pedaços. Afastou os cobertores do seu corpo, saindo disparado da cama. Andou em círculos de mãos na cabeça, tentando achar justificação para tal atitude. E as juras feitas um ao outro? Ela não gostava dele? Então? Porquê uma fuga tão... Incredível.Isso mesmo, não dava para a acreditar. Não, não dava. Não podia! A Evelyn, a sua Eve, não faria algo tão irresponsável, tão impensado. Ou faria? Faltavam respostas a Ashton. Respostas essas que, dado ao seu desgosto, não se limitou a procurar.

[...]

Inconsolável, Ashton isolava-se a um canto do Bar do Colégio, com um copo de água sobre a mesa para o otimista meio cheio, para o pessimista meio vazio. Também acabada de chegar, Lauren dirigiu-se ao Americano assim que o avistou.

- É verdade? É verdade que a Evelyn desapareceu? - Perguntou ela

Ashton deu de ombros, sem se limitar a encará-la. Bufou os lábios como para mostrar desinteresse ao assunto, quando no fundo, bem lá no fundo, lhe corrompia a corrente sanguínea. Continuava a pensar naquelas palavras que Evelyn lhe deixara. Sem sentido algum. Foi despertado com um choque térmico cabeça abaixo. Lauren ter-lhe-á jogado a água sobre a cabeça, para acorda-lo de um profundo transe.

- Mas estás doida? - Reagiu Ashton, saltando da cadeira

- Diga-me! Onde está a Eve? O que lhe aconteceu? O Oliver pouco me disse fofo -Insistiu a cheerleader, por explicações - Bastou ontem ter faltado o dia todo para tal coisa acontecer?

- Eu não sei onde ela está, porra - Exclamou Ashton, atolado em vergonha - Quis afastar-se! Por vontade própria... Foi-se! Foi-se caramba - Olhou então para Lauren,de olhos encarniçados. Parecia ter acabado de chorar. Podia ser do desaparecimento da melhor amiga sim, caso fosse a primeira vez que ela se encontrasse de tal forma. Nos últimos dias andava estranha, distante, dispersa no seu mundinho. A pressão para o musical, sendo ela a protagonizar o papel principal... Pois bem, sensível à sua situação, Ashton reprimiu seus modos -Desculpa, estou passado de todo com esta história toda

- Foi-se? Sem mais nem menos? - Inquiriu Lauren - Conte-me tudo moço!

- Não sei, foi tudo uma questão de minutos! Só sei que ela falou com o Noah e depois pronto, já sabes - Explicou Ashton

- Com o Noah? O Noah foi a ultima pessoa com quem ela este-ve? - Gaguejou Lauren,reagindo negativamente à informação - Como assim?

- Porra Lauren, eu não sei de nada, não me chateies - Disse bruscamente deixando a morena na sua ignorância

[...]

Largou seu saco de desporto Adidas pelo banco escorrido, e sentou-se ao lado dele. A vontade de Ashton era pôr-se no autocarro e seguir para casa. Mas, de certa forma, os treinos iriam ajudá-lo a abstrair-se de tudo. Pelo menos Ashton assim o pensava.

- Então? Ainda não sabes nada dela? - Anunciou-se a voz de Oliver - Tem calma,ela vai aparecer

- Quero lá saber, simplesmente estou-me a borrifar para a Evelyn - Falou Ashton sem medir as palavras

- Que falas amigo? Que falas tu? - Inquiriu Oliver - Desistes assim?

- Ela é que desistiu - Murmurou Ashton, descaindo uma pressão em seus ombros -Ela desistiu

Oliver abanou a cabeça, não estando de acordo com a forma de pensar do Americano.

- Estás a ver um jogo de basketball? -Perguntou Oliver em tom prático - Se estivesses a perder por dois pontos e se faltassem dois minutos para a final? O que farias? Desistias?

- O quê? - Ashton olhou o rapaz que lhe sorria abertamente esperando uma resposta - Não, eu não desistia! Em dois minutos tudo se faz! - Exclamou convicto

- Se não desistes de um jogo, desistes de uma paixão? - Rebateu Oliver tentando ao máximo comparar duas realidades distintas que se encontram numa só verdade -Sim ou não Ashton? É tão simples quanto isso...

- Há coisas às quais já tão perdidas...

- Só estão perdidas a partir do momento em que as declaramos irrecuperáveis! -Finalizou Oliver, não querendo mais amassar o temperamento frágil do Americano

Entretanto assentou o Diabo e os seus diabretes, pelo balneário dentro. Noah fitou Ashton de imediato, passando a língua pelos lábios rebentados dado ao confronto do dia anterior. Já Ashton também não se livrou de pequenas sequelas.Ao mergulhar naquele imenso azul, Ashton lembrou-se de Lauren "Com o Noah? O Noah foi a ultima pessoa com quem ela esteve?" e de seguida de Oliver "...estão perdidas a partir do momento em que as declaramos irrecuperáveis". Tudo se juntou então na sua mente, para fazer sentido.

Saiu abruptamente do balneário, deixando saco e tudo para trás. Claro, provocou o riso entre o clã, embora a situação não tivesse qualquer tipo de humor. Oliver ainda tentou apanhar Ashton, mas lá o deixou ir, sentindo um rasto de esperança deixado pelo Americano.

- Nem acredito que te viras-te para o lado desse rapaz - Comentou Connor -Devias ter vergonha nessa cara

- Quando ganhares vida própria, então sim, vem dar-me juízos de valor - Rebateu Oliver sem medos, sem receios!

- Estás-te mesmo a habilitar - Asseverou-se Connor

- Volta para as saias do Noah, e deixa-me em paz!

Ryan impediu que Connor perdesse a cabeça e se atirasse para cima de Oliver. Já Noah, ignorava toda aquela onda de provocações, distraído em seus pensamentos controversos.

[...]

Desta vez Ashton corria em direção de uma resposta à muito esperada. Decidido,determinado, esperançado encontrava-se já a trespassar as portas do anfiteatro até ao palco.

- Lauren! - Chamou-a, captando a atenção de todo os muitos outros presentes -Vens comigo agora!

- O quê? Nem pense, estou a ensaiar caso não te... - Antes de se concluir, Ashton cortou-lhe a palavra, pegando-a ao colo

Suaram assobios inapropriados pela parte de quem via, mas nada percebia. O Americano levou a cheerleader, até ao pátio do Colégio, aguentando-a a espernear-se até lá. Encostou-a junto a um pilar, de modo a olhá-la olhos nos olhos. Encurralou-a em todos os sentidos.

- Agora vais-me dizer, o que o Noah te fez!

- Mas é que nem pense! Não lhe vou contar n... - Deu-se com os lábios de Ashton aproximarem-se dos seus - O que está a fazer

- Fala, ou beijo-te! O que mais tenho a perder? - No fundo Ashton sabia que tudo dependeria da resposta que Lauren lhe tivesse a dar!



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evelyn | irwinOnde histórias criam vida. Descubra agora