Evelyn dormia profundamente, já Ashton não pregava olho. Sentindo a sua consciência pesar, avizinhava uma noite difícil. "Arruinei uma amizade", remoía ele. Mesmo com o frio de esfriar ossos, atravessou o ar gélido a pé descalço, até a janela no outro lado do quarto. Uma aragem fria trespassava-lhe os cabelos, à medida que este se deleitava pela melodia do escuro. Apenas vi-a o que a luz desvanecedora da lua lhe permitia. Ruas cheias de vazio, onde apenas rondavam os livres e selvagens. Os cães ladravam, e as sombras que por ali vagueavam. Esclarecido pelo negro céu, Ashton voltou para a cama, cobrindo-se até aos ombros.
A passos curtos e discretos, Ashton preparava-se para sair de casa. De espantar, não fossem apenas sete e meia da manhã. "Rápido antes que alguém acorde", murmurava ele, fechando a porta cuidadosamente. A cacimba cai-a leve, e Ashton foi curvava-se entre as luvas, casaco e gorro, procurando reter algum calor. Mas sacrifícios teriam de ser feitos, se quisesse chegar ao Colégio a tempo de apanhar Ava a sós.
Poucos alunos se viam pelos corredores, e os que se viam estavam num lastimável estado por ser Segunda-feira. Não encontrando quem procurava, foi até ao bar tentar a sua sorte, saindo sucedido. "Boa!", Murmurou festivo ao ver Ava.
- Bom dia - Cumprimentou-a Ashton - Podemos falar?
Então sente um puxão forte sobre o ombro, não se admirando por ser Noah. "Não, agora não!"
- Olá Irwin - Disse Noah, sarcasticamente - O que queres da minha irmã? - Perguntou, arregalando os seus olhos azuis
- Eu? Nada que tenha a ver contigo fofinho - Provocou Ashton, retribuindo-lhe o sorriso sarcástico - Ou calma, o menino vai ficar irritado? Vai perder o controlo é?
Noah torceu os punhos, mas respirou bem fundo para não perder a pose. Não em frente da irmã. Cerrou os maxilares, e afastou-se.
- O que é que queres? - Perguntou ela com desprezo
- Porque é que reagiste daquela maneira ontem? - Prosseguiu Ashton - A Evelyn ficou mesmo mal por se terem chateado por algo tão ridículo
- Sim. É ridículo que ela queira tudo e todos - Completou Ava - Mas bem, eu não estou mal contigo! Aliás, és um querido não tens culpa - Afirmou. Aproximou-se de Ashton pondo-lhe a mão sobre o colo do rosto
- Então é assim? Destróis uma amizade por alguém que mal conheces? - Indignou-se Ashton, colocando-lhe a mão para baixo
- Enquanto a Evelyn se continuar a colocar no meu caminho, então a nossa amizade nunca vai funcionar! - Garantiu Ava
- Acho mal que penses assim - Lamentou, virando costas. Ava agarrou-o pelo casaco e puxou-o para si. "Só não desisto de ti", sussurrou-se ela ao ouvido. Continuando sem a encarar, Ashton apenas sorriu nervoso, seguindo caminho.
"Tentei", suspirou descontente. Ficou surpreso ao ouvir a campainha tocar. Ashton não era nada adepto das aulas. O que realmente o movia era desporto. Já no Denver era assim mesmo. Deixou-se de lamúrias, e dirigiu-se até ao seu cacifo.
- Caraças? Mas isto não abre? - Resmungou Ashton, não conseguindo abrir o cadeado da porta. Quanto mais fazia pressão na chave, mais impaciente ficava. Farto, deu um murro no cacifo... E por segundos todos os presentes o olharam. Levando a mão à nuca e olhando de revés, fingiu não ser nada com ele.
- Precisas de ajuda? - Apresentou-se uma voz prestável. Evelyn. - Esse cacifo foi meu o ano passado... É preciso um jeito especial. Calma eu ensino-te - Demonstrou, conseguindo de facto fazer o que Ashton tentara há horas
- Obrigado - Agradeceu Ashton, sem a olhar diretamente
- Passasse alguma coisa? Saíste de casa tão cedo, nem esperas-te por mim - Disse Evelyn um tanto preocupada
- Estou ótimo
- Que... Esquisito - Murmurou Evelyn, completamente perplexa com a postura do americano. Deu de ombros e foi também para a sala
[...]
"Eu amo-te tanto, não me deixes. Sabes que fico nervoso com qualquer coisa, mas prometo nunca mais te tocar...prometo amor", refletia Evelyn, nas palavras de Noah com as ideias em turbilhão. Tinha a mente num pesadelo e a verdade é que se sentia tentada a cair nos braços do namorado. O amor tem outra má vertente. A ignorância. E de facto de a sua melhor amiga não lhe dar apoio algum, e de estar chateada por míseros assuntos, pouco ajudava.
- Desculpe o atraso - Apressou-se Lauren com a sua voz típica nasalada
- Pode juntar-se à menina Evelyn - Ordenou o professor Martin
Ao ouvir o seu nome, Evelyn deixou cair a caneta no chão. Opôs-se em pensamento à ordem do professor. "Era o que mais me faltava", murmurou ela, vendo Lauren tentar mover Martin. Por muito que tentasse, Evelyn não conseguia, nunca conseguiu, dar-se com Lauren. Via nela o que mais desprezava numa pessoa. Futilidade. O que de bonito teria um rosto maciço em maquilhagem? Uma mente carregada de fantasia? Uma maldade simbólica? Lauren era simplesmente... cheerleader, e namorada de Connor. Para Evelyn, bastava. Apanhou então o lápis do chão, e começou a batucar com ele melancolicamente. Sentiu uma leve tentação em olhar para a fila da frente, e mirar aquele menino. Que por acaso estava cabisbaixo. "Algo se passa com ele", pensou Evelyn ao ver Ashton afundar-se abatido na cadeira.
- Eve querida? Está-me a ouvir? - A voz irritante. Evelyn rangeu os dentes e encarou Lauren de olhos esbugalhados
- Céus! Estava a chamá-la há mais de meia hora fofa... Tem um lápis que me possa emprestar? É que eu esque... - Antes que a aquela voz lhe pudesse rasgar os tímpanos, Evelyn antecipou-se e deu-lhe logo o lápis. Voltou-se então mais uma vez, para Ashton.
[...]
Antes que Ashton desvanecesse mais uma vez pela multidão de alunos acabados de sair para Intervalo, Evelyn alcançou-lhe o braço e levou-o para um sítio mais calmo. Distante de falsos olhares.
- Porque estamos no ginásio? - Perguntou Ashton confuso
- O que se passa contigo? Estou desde manhã para falar contigo, e tu parece que foges! O que tens Ashton?
- Nada... - Respondeu friamente, enquanto acedia a uma bola de basketball
- Nada? - Reagiu ela
- Yupe - Sonorizou, incestando a bola.
Cheia de tudo, Evelyn agiu por impulso. Tirou-lhe a bola assim que esta a recuperou, e atirou-a para o outro lado do campo. Olhou-o olhos nos olhos, e Ashton não teve outra opção se não falar.
- Chega! Não percebes? Eu não quero criar confusões para o teu lado Evelyn. Perdeste uma amizade por minha causa... - Censurou-se - Eu não me conformei com isso e tentei hoje falar com a Ava, mas mais-valia ter ficado calado
- Mas a culpa não foi tua - Disse Evelyn, positiva
Ashton, compreendendo Evelyn, aproximou-se dela. Colocou as mãos sobre a cabeça dela, aliciando os seus caracóis negros e ficando-se no verde de seus olhos. Sorriu-lhe e virou-lhe costas. Evelyn sacudiu a cabeça, e quando acordou para a realidade, já ele estava do outro lado dos portões. "Idiota!", Guinchou ela.
[...]
Ashton estava de tal forma estranho, que nem esperou por Evelyn para irem juntos de volta para casa.
- Filho da mãe! - Murmurou ela, sendo puxada por uma mão feminina
- Fofa! - Para cúmulo de Evelyn, eram a Lauren mais as suas amigas lambe-botas - Para quando combinamos fazer o trabalho?- Trabalho? - Gaguejou - Mas que trabalho?
- Sim querida! Aquele que o professor mandou... Ficámos juntas lembra-se fofa? - Ter ficado a aula toda à parte trouxe as suas consequências. Evelyn não fazia a mínima ideia ao que Lauren se referia.
- Ah... Está bem - Disse, fingindo estar a par do assunto - Para... Quando combinamos então?
- Pode ser no sábado fofa? Em minha casa? Olhe, durante a semana acertamos os pormenores - Apressou-se Lauren, ouvindo a voz de Noah chamando-a
Evelyn inspirou bem fundo, para não explodir. Não até chegar a casa.
comment & vote if you liked
adicionem à vossa biblioteca/lista de leituras

VOCÊ ESTÁ LENDO
evelyn | irwin
Fiksi PenggemarOs seus caminhos cruzaram-se, e a vida trocou-lhes os planos. Houveram noites longas e acordadas. Mãos dadas em silêncio. Conversas com os olhos. Mas houve o depois: a vida e a realidade, sombras e fantasmas. E um amor que, de repente, já não tinha...