epílogo.

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Maisie desviou Evelyn para casa dos avós de Ashton, pois não havia ano em que a ceia não fosse lá feita. Era como o ponto de encontro para toda a família. Ao entrar, Evelyn sentiu uma arfada de amor, chegar-lhe à alma. Tudo lhe parecia brilhar, até a estrela no cimo da árvore se mostrava cintilante, como se fosse realmente verdadeira. Evelyn até lhe tocava, se não estivesse quase à altura do teto. Desde idosos a primos afastados. Pais babados e novidades para serem reveladas; havia sentimentos a serem partilhados, e para que tudo fosse perfeito Evelyn quis oferecer um pouco dos seus dotes culinários como ajuda. Porém, não foi aceite na cozinha. Não que não tivesse potencial, mas a avó de Ashton via-a como convidada e a hospitalidade Canadense tinha das suas regras. Para quê ripostar? De volta à entrada, Evelyn deu-se com Ashton a chegar com uma criança ao colo. Aparentemente algo normal sim, mas não para ela. A forma como ele pegava na bebé transmitia tanto carinho e conforto. "Daria um ótimo pai", foi o que passou involuntariamente pela cabeça de Evelyn.

- Priminha, diz olá à Eve. - Disse Ashton, embalando a criança nos braços. A menina parecia sorrir-lhe: ou gozar-lhe devido ao timbre mimoso com que ele falava.

- Que fofinha, adoro crianças - Revelou Evelyn sorrindo amena para o namorado - Parece que tu também.

- Sim eu adoro crianças, talvez seja por isso que gosto tanto de ti - Gracejou ele, rindo-se de seguida.

- Idiota - Reagiu Evelyn, dirigindo-se para o exterior bastante mais arejado. Na verdade apenas tinha corado com o sorriso ardente de Ashton, mas isso ele não percebeu.

Exposta às últimas horas de claridade, Evelyn ainda pensou em ligar ao pai. Mas para tal acontecer, teria de lutar contra o orgulho e a maior parte das vezes ele fazia a maior força. Caminhando para a frente e para trás no alpendre, Evelyn riu-se das suas figuras. Mais parecia um cão desconfiado a pontos de atacar. "É só uma chamada", murmurou para consigo, retirando o telemóvel do blusão. Ainda esteve um bom tempo a deslizar o dedo pelo ecrã táctil, mas logo se decidiu... Em recuar. 1000000 -- 0, ganha o orgulho.

- Estás bem? - Anunciou-se Christian de surpresa.

Evelyn respondeu com um sorriso distante. Encolheu os ombros e sentou-se na pequena escadaria, onde ele acabou por se sentar também.

- É quase Natal, e estás assim? Triste? - Persistiu ele, olhando para toda a vizinhança quase escurecida.

- É por ser quase Natal que estou assim. É o primeiro sem o meu pai. - O vento a soprar com rajadas fortes levou-os ao silêncio.

- Provavelmente tu e o Ashton precipitaram-se. - Disse Christian um tanto receoso. Queria falar mas tinha medo de não medir as palavras. Prosseguiu - Ele está diferente! Parece que não se diverte tanto; acho que vocês estão a levar o namoro a sério demais. Lembrem-se que são apenas adolescentes e que nada dura para sempre.

Evelyn engoliu a seco para ganhar coragem, ainda assim não foi capaz de falar. E porquê? Porque não havia resposta a dar. A verdade estava exposta da forma mais nua e crua possível.
- Tens razão, mas eu amo-o.

- Não acredito nisso - Contrapôs Christian - Pensem bem no que andam a fazer.

Ao levantar-se Christian esbarrou contra Ashton, que ouvira a conversa desde que teve inicio. Mas o americano não levantou um dedo. Apenas baixou a cabeça de desapontamento. Por um lado estava desiludido com o melhor amigo, por outro lembrou-se do ditado "Quem diz a verdade, não merece castigo". Christian encolheu os ombros e seguiu para dentro, sem remorsos, sem peso na consciência.

- Ashton - Arquejou Evelyn, com a lágrima ao canto do olho.

Ele apenas abanou a cabeça num sinuoso "Não digas nada, não são precisas palavras", e seguiu para dentro, mas não atrás do melhor amigo. Dirigiu-se mesmo para o quarto de infância, aquele onde passara tantas outras noites em branco após presenciar alguma discussão entre os pais. Desta vez a preocupação era outra, as lágrimas tinham um outro motivo.

evelyn | irwinOnde histórias criam vida. Descubra agora