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Um choro sôfrego penetrava pelo quarto de Evelyn. Que som aquele a perturbar-lhe a noite! Assustada levantou-se da cama, olhando em redor, mas nada vendo. Apenas escuro. Mas continuava a ouvir alguém chorar. Mais um fungar. Quase sem se aperceber, entrou no quarto de Ashton. Os lençóis, banhados pela luz da noite, faziam-se tremer. Evelyn pegou e afastou-os cuidadosamente. Ele estava pálido e lacrimejava de pálpebras cerradas. Não aguentando tanto sofrimento, Evelyn tentou acordá-lo, abanicando-lhe os ombros.

- Pai! - Gritou ele ao abrir os olhos como se saído de uma cena terrorífica - O meu pai? Onde está o meu pai? Evelyn onde está o meu pai? - Parecia não estar em si, apenas se agitava não sabendo para onde se virar

- Estavas a sonhar, calma - Tentou Evelyn sossegá-lo - Está tudo bem

- Não, não está tudo bem - Disse ele - Há uma coisa que não está bem - Levantou-se da cama, dirigindo-se para o centro do quarto de cabeça baixa. Todo ele transpirava

- O quê?

Ainda de cabeça baixa, Ashton voltou-se na direção de Evelyn. Aproximou o seu tronco despido ao dela e beijou-a sem noção. Assim que afastaram bocas ela encarou-o olhos nos olhos. Estava vidrado, nem sequer reagia ao estalar de dedos dela. Assustada, Evelyn percebeu que se passava algo com ele. Parecia quase possuído. Ashton virou a cara para a janela. Inexpressivo, abriu-a deixando que um vento indomável lhe entrasse quarto dentro. Desde folhas a sobrevoarem a objetos facilmente quebráveis em cacos no chão.

- Ashton o que é que estás a fazer? - Reagiu Evelyn assim que o viu transpor uma perna para o outro lado da Janela - Pára - O vento tempestuoso dificultou a chegada de Evelyn até à mão de Ashton.

Esta conseguiu agarrá-lo assim que ele se inclinou para uma queda de cinco metros. Puxou-o para dentro, fechando as janelas num ápice. Kellee e Ethan entraram no quarto ao darem pelos gritos. Depararam-se com Ashton adormecido no chão e de cabeça pousada nas pernas de Evelyn, que muito chorava.

[...]

Levada por aquela voz, Evelyn saltou da cama em fúria. Abraçou-se a ele, abraçou-se a ele como nunca antes.

- O que é que ela tem? - Gesticulou Ashton a Kellee, que por sua vez encolheu os ombros na ignorância - Não penses que com abraços ficamos bem!

- Hã? - Reagiu Evelyn

- Estás a chorar? - Apercebeu-se Ashton - O que é que se passou?

- Estás bem, graças a deus que estás bem! O que é que o médico te disse? Porque é que fizeste aquilo Ashton? Odeio-te tanto - Balbuciou ela, deixando cair a cabeça no peito dele - Não voltes a fazê-lo nunca mais na tua vida

- Mas do que é que estás a falar? - Ashton pegou-lhe nos ombros e afastou-a para a encarar com olhos de ver - O que é que eu fiz? E porque é que estás a chorar?

- Esta noite Ashton, esta noite ias-te atirar da Janela! Eu agarrei-te. E. e a Kellee estava lá, ela estava lá pergunta-lhe - Olharam os dois para a mãe de Ashton, que nada tinha a dizer. Estava tão boquiaberta quanto o filho - Não se lembra? - Perguntou Evelyn perdendo a esperança na voz. Kellee apenas balançou a cabeça negativamente

- Eu cá passei a noite bem, pelos vistos tu é que não - Rebateu Ashton - Tiveste um pesadelo! Ah calma, foi mas é um sonho veres-me cair - Troçou ele, levanto um estalo em troca dos risos

[...]

Ainda com os seus cinco dedos marcados na cara, Ashton olhou sobre o ombro, fitando Evelyn a escrevinhar no manual. Estava inquieta. Nervosa. "És tão estranha", sussurrou o Americano àqueles olhos esverdeados que o inquietavam no seu mais íntimo. O esquerdino, pegou uma folha e escreveu:

- Temos que falar, vai ter comigo atrás do pavilhão! Por favor - Dobrou-o com toda a minúcia e fê-lo sobrevoar até à mesa de Evelyn

Depressa, embora devagar, o toque para o intervalo suou a bem dita hora. Ashton olhou para Evelyn, e esta piscou-lhe o olho assentindo ao seu pedido por escrito. Ela mordiscava os lábios, ao seguir-lhe a sombra. Estava frio, Evelyn tremia como se estivesse a nadar em gelo puro. Tremia tanto, mas tanto, que lhe doíam os maxilares de tanto os bater.

- Tens frio? - Perguntou ele. Despiu o seu blusão, e colocou-o sobre as costas dela... - Melhor? - Sorriu-lhe

- O que me queres falar? - Perguntou ela em tom prático

- Aquilo de manhã... - Prosseguiu Ashton, passando a mão pela bochecha, como se ainda estivesse a sentir o ardor do estalo - Bem, explica-me o que se passou

- Bem - Suspirou - É que pelos vistos sonhei que te ias atirar da janela

- Mas como assim? - Puxou por ela

- Ouvia-te chorar, fui até ao teu quarto... Até chamaste pelo teu pai! E bom, assim que te acordei...bem nós beijámos-mos - O coração dele apertou - e depois dirigiste-te à janela e... - Evelyn cerrou os olhos, como se estivesse a ver tudo acontecer em pequenos flashes na sua mente

- Eu estou aqui, estou bem - Delicadamente Ashton estendeu-lhe a mão ao queixo, como que para lho levantar - E... bem, obrigado por me teres salvado no teu sonho - Riu-se - Será que o que fizemos no teu sonho, pode acontecer aqui e agora?

Evelyn corou, sabendo que ele se referia ao beijo. Mas ela mesma avançou até ele. Ela mesma o quis. Os lábios dele, tão quentes e suaves. Nada houve senão um toque suave e sentido. Algo tão especial.

- Gosto de ti - Disseram os dois em simultâneo, prosseguindo com o beijo

- E agora? Vamos voltar a zangar-nos? Vamos voltar a magoar-nos um ao outro? Estamos destinados a isto? - Inquiriu Ashton, encostando a cabeça à parede, fazendo sobressair o longo do seu pescoço. Deu a Evelyn uma enorme vontade de o morder, que nem uma vampira sanguinária

- Deixa a Ava e eu deixo o Noah de uma vez por todas - Exclamou Evelyn, determinada

Ashton arqueou a sobrancelha, não crendo no que a rapariga lhe tinha acabado de dizer. Sentiu uma vontade imensa de gritar, explodir de felicidade... Mas conteve-se.

- E depois de deixares o Noah e eu de deixar Ava? Estarias disposta a namorar este ordinário, mulherengo, estúpido, idiota - Começou a enumerar todos os nomes que Evelyn lhe aplicou

- E tu estarias disposto a namorar esta dissimulada? - Retorquiu ela

- Neste momento estaria disposto a tudo por ti. Não me perguntes porquê, mas é assim mesmo! Gosto de ti, e posso garanti-lo que nunca me interessei assim por ninguém antes - Sorriu-lhe, olhou em redor e viu-se à vontade para beijar a futura namorada

[...]

A casa era lindíssima, nunca vira nada tão grandioso assim. Desde o átrio até ao quarto de Lauren que conseguia ser mil vezes maior. O melhor é que era acolhedora, pois Evelyn sentou-se sobre a cama da amiga completamente arrasada, pois tiveram de subir uma enorme escadaria de madeira trabalhada só para lhe chegar ao quarto. Evelyn chegou a mão a uma almofada estranha, e depois de lhe vincar as unhas é que percebeu que na verdade se tratava de um cão... Deu um guincho assustada.

- Caracol, não seja mau - Repreendeu Lauren, o pobre do canino que não alcançava nem meia perna

- É tão fofinho - Comentou Evelyn à medida que o pousava no colo - Mas sobre o que é que me querias falar Lauren? E não podia ter sido no Colégio?

- Não! - Respondeu a cheerleader, com uma certa intensidade - Evelyn, quero-te falar muito a sério! - De repente a voz de Lauren ficou limpa de nasalados

- Trataste-me por tu! - Reagiu Evelyn incrédula - Tu afinal és normal! - Constatou

- Não! Sou de outro mundo tola... - Riu-se - Ouve, quero ser-te sincera... Acho que contigo não tenho de me esconder nem de fingir o que realmente sou

- Isso é ótimo – Guinchou Evelyn entusiasmada - Mas não estou a perceber onde queres chegar... - Encarnou uma expressão ignorante

- Queria-te dizer Evelyn que... Te considero a minha - Pausou, para recolher coragem - És a minha melhor amiga! A minha única amiga aliás...

Evelyn ficou-lhe boquiaberta sem saber o que dizer. Há uns tempos não se podiam ver uma à frente da outra, e agora melhores amigas? Na verdade Lauren também era muito importante para Evelyn. Esteve lá quando precisou. Apoiou-a quando ela precisou. Preenchia a definição de amizade em todas as suas vertentes. Embora engenhosa e superficial, Lauren guardava um grande carinho por Evelyn. A cumplicidade entre ambas cresceu a pico, e crime seria não considerar o que as unia, um laço verdadeiro de amizade.

- Sabes que também és a minha melhor amiga? - Confessou Evelyn, fitando o pelo do Caracol

- A sério? - Perguntou Lauren - Oh meu Deus - Começou aos saltinhos, não conseguindo esconder o seu contentamento - Então para começar isto da amizade e tal, conta-me um segredo teu e eu conto-te um segredo meu!

- Um segredo meu? - Pensou Evelyn - Gosto do Ashton?

- Fixe agor... - Calou-se e perfurou bem os verdes olhos de Evelyn - O que é que disseste? - Em menos de nada começaram os saltinhos, mais uma vez

[...]

O cheiro a peúga suada e a comida podre faziam Ashton sentir-se... No paraíso. O quarto de Oliver era de tal forma masculino, que quase se afundava na roupa suja espalhada pelo chão.

- Bem-vindo ao meu mundo Irwin - Anunciou Oliver - Que tal?

- Isto está nojento! Adoro - Disse Ashton

- Bora jogar? - Desafiou-o Oliver - Vais adorar os gráficos! Mas antes disso, quero-te dizer...

- O quê? - Perguntou Ashton ainda vidrado no jogo

- Desculpa as vezes que gozei contigo e que me deixei influenciar pelo Noah! - Disse Oliver de modo sincero - Tu quase deste a tua vida por mim, de certeza que nenhum do meu grupo o faria! Tu és um rapaz altamente, súper divertido e bastante burro... Mas podes ter a certeza que estou aqui para te dar a mão!

Ashton remexeu na mente, sem saber o que dizer... Apenas lhe ocorreu: Fixe, agora vamos jogar? Mas foi mais original ao ponto de dizer - És dos poucos amigos que arranjei cá! És um rapaz porreiro no entanto precisas mesmo de deixar de lamber as botas do Noah

- Quem me dera ser mais como tu! Corajoso... - Murmurou Oliver - Tu és tipo perfeito! Jogas super bem e tens as miúdas que queres. Como fazes isso?

- Eu não sou corajoso. Não sou perfeito! E eu só quero uma rapariga... E está-me difícil de a ter - Confessou o Americano, suspirando entre dentes

- Falas da Evelyn? Ou da Ava? - Confundiu-se o rapaz

- A Ava foi um erro... A Evelyn... Ela é aquela que eu quero! E vai ser minha... O Noah que se cuide - Exclamou o Americano convicto do que dizia

- Como eu disse, és corajoso - Riu-se Oliver - Bora lá jogar então.



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evelyn | irwinOnde histórias criam vida. Descubra agora