Movendo as pestanas lentamente, Evelyn acordou sobre o colo de Ashton. Claro que durante a noite não resistiu em aninhar-se à beira do namorado, não com o tempo tão frio como o decorrente. Ela sorriu e deu-lhe um beijo ao de leve, para que não o acordasse do seu sono profundo. Ainda com uma neblina a toldar-lhe a visão, Evelyn dirigiu-se à janela. A neve caia lamacenta pelas ruas, cobrindo cada esquina com o seu manto branco puro.
- Natal no Denver - Murmurou de cabeça baixa - Sem o meu pai e claro... Sem a minha mãe.
- E o primeiro comigo - Suou a voz inconfundível de Ashton, mesmo por detrás dela. Este bufou para o vidro, delineando um coração no embaciado.
- Sim - Evelyn virou-se para ele, ficando-lhe cara a cara - Vai ser especial - Deu a Ashton um beijo tímido, que por acaso o surpreendeu; mas gostou das faíscas que dele gerou.
- Desculpa se ontem estivesse embirrento, as grandes viagens alteram-me o juízo - Explicou o Americano, lamentando o seu comportamento infantil.
- Desculpa eu é que estava para implicar contigo - Retorquiu Evelyn, sem deixar de soltar um breve riso. Verdade seja dita, estavam ambos de cú virado para a lua, como a expressão o diz.
- Ótimo - Ashton acenou com a cabeça.
- Pois é - Evelyn devolveu o aceno.
- Claro - Ashton anuiu novamente.
- Exato - Evelyn repetiu-se.
Os cânticos de Natal que ecoavam lá fora aumentaram subitamente de volume, o que os salvou da monótona sequência de acenos. Riram-se um para o outro, virando-se para as crianças que cantavam em coro guiadas pelo padre local. Todos os anos era assim na véspera, e depois também. Eram como um "...abram alas, que o Natal está à porta".
- Santa Claus Is Coming to town - Cantarolou Ashton, entre dentes, desviando-se do ritmo melancólico dos miúdos.
- Vai - Incentivou-o Evelyn, gostando do que ouvira.
- Está bem... Vou onde mesmo? - Inquiriu, continuando a estalar dedos.
- Vai dar ânimo àquilo, anda.
Evelyn pegou no braço do namorado, ambos de pijama, e seguiram para a rua junto das crianças. Empurrou-o para elas, como se para lhe dar ainda mais balanço. Ashton olhou para Evelyn receoso, e de seguida para o amontoado infantil.
- Santa's coming girl - Piscou o olho a Evelyn, e prosseguiu com ritmados estalar de dedos.
As crianças alucinaram, deitando para lá as notas aborrecidas que tinham entre mãos. Dispersaram e seguiram Ashton entre palmas e batucares de pés.
De repente, um sentimento estranho percorreu o abdómen de Evelyn, subiu-lhe até ao peito e irrompeu-lhe pela garganta explodindo um "Santa Claus is coming to town" tão afinado que Ashton ficou boquiaberto. Desataram os dois numa dança improvisada junto das crianças, distribuindo a energia por toda a vizinhança. Pessoas começaram a sair do quente das suas casas, para espreitar a razão de tanta animação. Tanto que até o Padre mostrou os seus dotes de dançarino inexperiente.
- Que máximo! - Exprimiu-se Ashton, notando-se algo ofegante na sua voz.
Era visível nas expressões de quem via, o querer mais. Mas Ashton estava mais preocupado em abraçar as crianças uma a uma, visto que ele também fora um menino do coro em tempos. E aquelas alminhas de deus fizeram-no lembrar de bons tempos de paz e felicidade. Quando os pais, ainda antes do divórcio, iam presenciar as suas acuações, o modo como o aplaudiam e se olhavam com orgulho no filho - Havia amor. Se não custava a Ashton ver os pais separados? Custava sim. Mas teve a maturidade e o bom senso, bem assente no lugar. De que valia ver duas pessoas discutirem todos os dias? Perderam o respeito à medida que o tempo ia passando? Quem gosta deixa ir... Apenas.
- Estás bem? - Perguntou Evelyn, pós ver Ashton ficar tristonho de um momento para o outro.
- Vou telefonar agora à minha mãe, e tu? Vais falar ou não com o teu pai?
- O quê? - Reagiu ela, não estando de facto à espera de tal pergunta - Tenho mais que fazer como, ir às comprar a prenda do meu namorado lindo - Evelyn deu um beijo na ponta do nariz dele, e foi-se para o interior conseguindo assim esquivar-se do assunto.
Ashton encolheu os ombros, tentando não mostrar o quanto lhe aborrecia o comportamento da rapariga. Aliás, começara já a sentir a amarga angústia de arrependimento. "Nunca te devia ter trazido, não é justo. Tirei-te do teu pai".
[...]
Evelyn deleitava-se pelas montras esplendorosas lado a lado com Maisie, que se oferecera para ir com ela às compras. Nada servia, nada era suficientemente bom... Mas ela não desistia de encontrar a prenda ideal. Ainda para mais era a véspera de Natal, o dia dedicado a todos os que deixavam as oferendas para último. Claro que estava tudo escolhido, portanto Evelyn teve de usar o cérebro. "Deixa-me ver", raciocinou ela "Ele gosta de musica, gosta de desporto, gosta de comer, gosta de... Espera lá ele não tinha ficado sem telemóvel?", Sobressaltou-se olhando extasiada para Maisie.
- O que é? Borbulhas? - Afligiu-se a amiga do Americano, precipitando-se para agarrar o seu fiel amigo anti acne, que se encontrava algures na mala preta que lhe jazia pelo ombro.
- Não! Já sei o que oferecer ao Ashton. - Disse Evelyn, completamente entusiasmada - Um telemóvel!
- Wow e tens esse dinheiro todo contigo? - Estranhou Maisie, de olhos bem arregalados.
- Digamos que ando sempre prevenida - Evelyn sacou o seu cartão de crédito, tão precioso quanto a sua vida.
- E que tal se o comprarmos a meias? - Propôs Maisie - É que pronto, eu também não lhe comprei nada.
Evelyn acenou afirmativamente com a cabeça, assim até lhe ficaria mais barato. Saíram da loja com o sorriso mais aberto de sempre. O que lhes tirou o sorriso da cara foi encontrarem Ashton e Christian também eles bastante animados e cheios de sacos a ocupar-lhes as mãos.
- Esconde, esconde, esconde - Dizia Evelyn, encostando-se a Maisie, no intuito de ocultar a prenda ainda não embrulhada. Não faltou o telemóvel mas faltou o papel de embrulho: genial.
- Meninas! - Saudou-as Ashton, também ele a tentar esconder algo nas traseiras do amigo.
- Meninos... - Murmuraram elas, em uníssono.
- Virem a cara e finjam que não nos viram sim? Até logo - Desenrascou-se Ashton, recuando abruptamente com Christian.
- Maninha, não te esqueças de me comprar as Vans - Foi o que Christian conseguiu dizer, já com a sua voz a sumir-se por de entre a multidão apressada.
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evelyn | irwin
FanfictionOs seus caminhos cruzaram-se, e a vida trocou-lhes os planos. Houveram noites longas e acordadas. Mãos dadas em silêncio. Conversas com os olhos. Mas houve o depois: a vida e a realidade, sombras e fantasmas. E um amor que, de repente, já não tinha...