Ashton remexia no frigorífico, enquanto que Evelyn ficava a olhá-lo... Mais uma vez absorvida em seus pensamentos. Sentou-se e encostou-se nas costas da cadeira, de braços cruzados. Por muito que achasse Ashton bem encarado, Evelyn sentia que por detrás daquele sorriso carismático, havia uma verdade oculta. Por outro lado, ela tentava a todo o custo deixar as desconfianças à parte, e conhecer melhor quem tinha sobre o teto. Entre as suas vozes interiores, ouve Ashton falar-lhe. "Aterra parva, ele está a falar contigo!", Murmurou, sobressaltando-se.
- Gostas de ovos estrelados? E bife mal passado? - Perguntou ele
- Claro! Claro sim, claro... - Respondeu Evelyn - Espera eu ajudo - Ofereceu-se ela, vendo que Ashton não conseguia alcançar os pratos da prateleira mais alta. Embora Evelyn fosse relativamente mais baixa que ele arranjou um banco e empoleirou-se cuidadosamente nele
Enquanto os tentava pegar, sentiu algo viscoso a roçar nas costas da sua mão. Isso deu asas à sua mente, para imaginar que fosse algum bicho ascoroso... Que por ali estivesse. Talvez uma aranha? Até mesmo uma barata! Ao tirar a mão repentinamente, deixou-se desequilibrar pelo mau balanço. Ashton estendeu os braços no mesmo instante, amparando a queda de Evelyn. Já se tornava um hábito salvar-lhe o couro.
- Estás bem? - Perguntou o jovem preocupado, suportando-a ao colo
- Estou... - Respondeu Evelyn, de braços enrolados no pescoço de Ashton "Os olhos dele! Os olhos dele!" pensava inquieta, enquanto este a soltava das mãos - Obrigada, outra vez - Brincou ela
- Aleijaste-te?
- Não, graças a ti não me aleijei!
[...]
"Corajoso, cantor, giro... Até bom cozinheiro? Ele é tão estranho" comentou Evelyn, interiormente. Embora fosse um almoço simples, estava de chorar por mais. Evelyn apenas se continha, para não perder a cabeça, e repetir o prato. Poderia causar má impressão se assim o fizesse. Pousou os talheres, dando a refeição como tomada. Apoiou o cotovelo sobre a mesa e fechou a mão em punho, de forma a pousar seu queixo nela.
- Fala-me de ti Ashton - Pediu Evelyn, furando o silêncio
-De mim? - Perguntou Ashton, engasgando-se com a frontalidade dela - Como assim de mim?
- O que gostas, como eras lá no Denver... Esse tipo de coisas - Esclareceu ela, com um ar súper curioso
- Eu gosto... Bem, eu gosto de música, desporto! Adoro o meu Skate... A minha guitarra... - Dizia ele entusiasmado - Mas, mais que tudo... Amo isto aqui - Ergueu-se da cadeira, e levantou a sua camisola a metade. "Ai Deus" reagiu Evelyn, ao ver todos os seus abdominais definidos. Seus olhos foram guiados pelo indicador de Ashton, que apontava para o lado esquerdo da sua anca. Então viu um símbolo discreto, cravado na sua pele. Uma tatuagem, cujo as linhas traça-vão semelhantemente um espírito dos céus. Uma ave na sua mais pura essência. Simples e só. - Fi-la com o meu pai, quando tinha 16 anos. Ele tem uma igual... - Voltou a baixar a camisola - De certa forma, sinto que estamos ligados.
Evelyn via no Ashton, um sorriso abatido. Decididamente, o pai era o seu ponto mais frágil. Quis acariciá-lo, mas encolheu a mão meio do ato. Sem que este, se tivesse apercebido. Evelyn olhou para o lado, suspirando. Olhou para o relógio no cimo da parede, e lembrou-se do compromisso que Ashton tinha com Ava. Por momentos hesitou em lembrá-lo, mas lá optou pela decisão acertada.
- Olha, não te ias encontrar com a Ava? - Disse-lhe Evelyn, mordiscando o lábio de resignação
- O quê? - Ashton olhou para o relógio, e encolheu os ombros - Não vou! - Respondeu, recuperando o sorriso
- Não vais? Então é assim? Deixas uma rapariga plantada? - Resmungou Evelyn, contradizendo completamente a sua razão
- Queres que eu vá? - Disse Ashton, deixando-a sem resposta - Queres? - Insistiu
- Ugh... - Hesitou. Inspirou bem fundo, e prosseguiu - Sim - Por momentos, Ashton pensou ser um "Não", mas aceitou de bom grado o "Sim", levantando-se da cadeira, e indo arranjar-se para o encontro.
[...]
Evelyn ganhou velocidade quando Ashton ia para fechar a porta do quarto. Antecipou-se, puxando-o pelo braço. Ambos sorriram um ao outro, como se não fossem precisas palavras. Ava ficou em segundo plano, já Evelyn, roubou-lhe o primeiro assim que propôs a Ashton, passear pelas redondezas e apresentar-lhe os ares da nova cidade. Em menos de nada, estavam a caminhar lado a lado, a dirigirem-se para o Jardim da Baixa. Ele como sempre, de cabeça baixa... Distante. Ela, por sua vez, observando cada pestanejar do americano. Tão distraído que ele ia, que nem o passeio aproveitava. Nisto, Evelyn inclinou-se para Ashton, dando-lhe um leve safanão.
- Então? - Riu-se Ashton - O que foi isso?
- Hum? O quê? Isto? - Voltou a empurrá-lo, mas desta vez, com mais propósito
Acabando por entrar na brincadeira, Ashton deu-lhe outro encontrão. Em menos de nada, estavam de mãos dadas a correr velozmente pela relva fresca de uma tarde de Inverno. Gargalhando cada palavra. Aproveitando cada segundo. No fundo o que ambos estavam a precisar, era respirar alguma pureza do ar que serene. Diminuíram a excentricidade, para ouvirem o silêncio. Nada mais que o silêncio. Sentaram-se no verde solo, e as nuvens contemplaram. Evelyn olhou para Ashton, detido pelo céu azul.
- O que é que vocês estão aqui a fazer? - Uma voz familiar fez-se suar. Evelyn virou-se para a mesma, e deparou-se com Ava, parada com a sua bicicleta
- Ava eu... - Evelyn foi interrompida
- Tu o quê? Como foste capaz? Pensei que nunca mais ias fazer-me isto! Odeio-te Evelyn, eu odeio-te! - Gritou Ava, tirando ideias totalmente precipitadas
- Ava deixa-me explicar-te! Eu e o Ashton - Voltou a ser interrompida
- Andam a comer-se? Mas é que nem no Noah pensas-te... O meu irmão é que é parvo, por não ver a rapariga que és!
- Não fales assim com a Evelyn, porque nós não estávamos a fazer nada Ava... - Disse Ashton, numa tentativa escusada de resolver a situação
- Idiotas! - Exclamou Ava, pedalando energicamente para longe.
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evelyn | irwin
FanfictionOs seus caminhos cruzaram-se, e a vida trocou-lhes os planos. Houveram noites longas e acordadas. Mãos dadas em silêncio. Conversas com os olhos. Mas houve o depois: a vida e a realidade, sombras e fantasmas. E um amor que, de repente, já não tinha...