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Madrugada meus pensamentos correm soltos pelo quarto, um quarto escuro e sem vida igual a quem estava aprisionado dentro dele. A casa estava estranhamente silenciosa, não ouvia a voz do Steve, nem de nenhuma televisão e muito menos da rua, eu adquiri o hábito de deitar no chão e olhar o teto por várias horas em uma meditação, pelo menos, me ajudava a passar o tempo, o que de ruim poderia acontecer a alguém que está apenas olhando o teto, não é mesmo?! No mesmo instante, a porta lá debaixo se abre então uma voz conhecida chama algum nome, "Sthefany", "Spencer" não consigo ouvir bem, os passos são rápidos e pesados então isso me alarmou, me sentei no chão então gritei de dentro do meu quarto:
— OI! Alguém?!
Imediatamente ouvi os passos vindo em minha direção abrindo a porta que estava trancada e quem diria, um rapaz loiro, mas ele parecia preocupado e com pressa então nem me deixou falar:
— Marcos graças a Deus, cadê o Stephen?!
Não sabia quem era Stephen, mas me veio a cabeça que Stephen era o Steve porque ele era o único que morava aqui e também o único que estava por perto, apenas fiz uma cara confusa e dei de ombro, o rapaz loiro quase se desmanchou na minha frente de tanta preocupação:
— Oh céus, isso não é bom... você não saia daqui, eu já volto!
Ele saiu tão rápido quanto tinha chegado deixando a porta aberta, pela primeira vez vi as luzes da sala iluminando o corredor, me levantei com certa dificuldade andando para fora de meu cativeiro, estava certo o tempo todo de que era uma casa, assim que apareço na sala, a porta principal se fecha com força então, a casa era muito grande, eu estava louco pra sair dali mas estava assustado com o jeito que o rapaz loiro estava, ou alguém havia morrido, ou o Stephen matou muitas pessoas. Minha mente entrou em um conflito, fiquei entre comer algo ou dar o fora dali...nem um nem outro, apenas fui andando até a sala me sentando no carpete, tinha uma pequena luminária ali então aproveitei para respirar um pouco em paz, uma pequena paz e ar puro em meio ao caos. Fiquei um tempo ali quase dormindo até a porta principal de abrir bruscamente com os dois discutindo, o rapaz loiro estava xingando o Stephen e ele, bem, não estava nem aí como sempre:
— Stephen, você é um irresponsável de merda, como que você faz uma coisa dessas?
A voz do ruivo estava bêbada e com certeza ele estava esbarrando nas paredes pelo barulho pesado que fazia ao andar:
— Victor, pessoas vem e vão, supera!— Stephen, exatamente na mesma noite, na mesma hora você sabe o que aconteceu então isso é tipo um ritual estranho seu?
O outro não respondeu apenas foi andando para a cozinha com os passos pesados, estava curioso o bastante para me levantar sorrateiramente e ir atrás deles, pude ver com a fraca luz da sala que as paredes brancas estavam sujas com alguma coisa que não poderia descrever por estar escuro até certo ponto, um barulho alto de vidro quebrando chama a minha atenção, eram os dois de novo:
— Victor, sai da minha frente!
Nesse momento, entrei na cozinha para minha desgraça, um copo havia quebrado, Victor estava barrando o Stephen de voltar para sala e o ruivo estava com a roupa cheia de sangue, até seu rosto estava com sangue, suas mãos pareciam ter sido mergulhadas em tinta vermelha de tanto sangue. Fiquei paralisado de medo e os dois estavam se encarando, não queria ficar pra ver então fui andando para trás tentando achar a porta, me esbarro na mesa e no mesmo momento, Stephen olha para mim, suas pupilas dilatadas escondem o castanho claro de seus olhos, eu senti o maior medo possível desse homem me olhando como um animal. Ele empurra o Victor de lado então vem andando para mim:
— Ora ora, quem está aqui esta noite, o lindo Marcos.
Estava com tanto medo que não sabia o que fazer exatamente, apenas fiquei contra a parede vendo aquele demônio ensanguentado se aproximando de mim:
— Sabe, eu tinha a sua idade quando minha alma, minha sanidade, minha felicidade, a vontade de viver e toda a inocência simplesmente se foram.
Victor tentou interferir, apenas tentou mesmo porque ele é o cachorrinho do Stephen e faz o que ele quiser então ele continuou a falar:
— Eu fui obrigado a ir de psicólogo em psicólogo, psiquiatra em psiquiatra por dois anos, finalmente, eu nasci de novo em sangue, gritos, mortes e fogo.
Eu apenas tinha vontade de chorar ou correr mas meu corpo não me obedecia, quanto mais eu olhava para aqueles olhos escuros mais eu via o reflexo de mim mesmo e não de uma maneira boa, Stephen tinha apenas uma escuridão por dentro e um sorriso de psicótico no rosto:
— Quando meus pais morreram, eles não foram sozinhos, eu morri junto e estou queimando Marcos, eu estou queimando junto a eles no fogo do inferno.
Ele fez uma pausa tirando da cintura uma faca cheia de sangue similar à que eu vi em meu sonho, estava paralisado ao sentir a lâmina fria em meu rosto e a respiração do homem perto da minha.
— Quando eu for, eu vou levar você também.
Eu senti um enjôo, um desespero quando ele passa sua língua pelo meu rosto então as lágrimas rolam meu rosto em súplica para que o Victor me ajudasse, Stephen estava se divertindo com isso ao ser pegado pelo braço e levado para a sala, eu estou enojado. Senti uma vontade de sair dali correndo, e também, de vomitar, eles ainda estão discutindo na sala, não quero sair da cozinha mas eu preciso, Stephen está rindo como louco e Victor está no mínimo preocupado, não sei o motivo dele ser tão preocupado com esse monstro. Finalmente, quando os dois saíram da sala para o quarto, tive a coragem de me aventurar para dentro do cômodo, agora estava escuro e só uma luz que vinha da janela iluminava a sala, todas as janelas da casa tinham grades então eu só poderia entrar e sair pela porta, depois de um certo tempo, Victor vinha caminhando pela casa com uma cara de irritado e frustado, foi saindo sem mais nem menos, e claro, trancou a porta. Me deixou sozinho com o Stephen maníaco, adoro, revirei os olhos com puro desgosto e puro medo. Não me restava muita coisa além de voltar ao meu quarto, deixei a porta aberta desta vez pra informar ao meu subconsciente que poderia entrar e sair quando quiser, me deitei na cama, olhei o teto, olhei a porta, olhei as paredes eu olhei tudo por ali, não estava com sono algum, de costas para a porta, fechei os olhos e o sono foi chegando com uma demora de 15 anos. Sinto uma presença a mais no quarto mas não ouso me virar para ver, meu corpo congela ao sentir outro deitando na mesma cama e me abraçando por trás, era o Stephen, ele tomou um banho e não estava mais com sangue, pelo menos, mesmo assim, estava frio e tremendo, Victor provavelmente deu um banho de gelo nele, o deixei ali, com a cabeça em minhas costas, meu coração não batia direito e digamos, meu cu não passava nem sinal de Wi-fi, passaram longas horas sem nenhum de nós dois se mexer até que finalmente o sono me vence e adormeço alí mesmo, ao lado do mesmo cara que faz uma chacina mais cedo.
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Aí nem demorei pra escrever KKKK, até o próximo capítulo! :)
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Meu Serial Killer
De TodoFugindo de Washington, Stephen veio à cidade de São Paulo querendo se dar bem na vida, após salvar Marcos, um garoto de 16 anos acaba se apegando ao menino mas terá que enfrentar dilemas em sua vida, dificuldades e julgamentos de si próprio mas nada...