33 - Um sonho tão lindo

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Alec estava sentado diante de sua escrivaninha com um livro aberto, um dos poucos que tinha em braille, e enquanto dedilhava o pequeno relevo das folhas, sua audição estava totalmente concentrada na voz de Sebastian que ecoava do seu gravador.

Aquele presente que ganhou do amigo foi como uma benção que facilitou muito a sua vida no último mês, e agora, mais do que nunca, ele se sentia um pouco mais normal.

Ainda que o estudo continuasse limitado, Alec sentia que podia ter uma carreira num futuro distante.

Talvez fosse contador como a mãe, mas recém tinha voltado a sonhar, por isso precisaria de um tempo para descobrir o que queria ser.

Algumas regras de cálculo era justamente o que estava estudando quando ouviu uma batidinha na porta.

A batida de sua mãe.

Maryse entrou e Alec deu pausa na gravação.

- Oi mãe. Está tudo bem?

- Está sim querido. Eu só queria saber como você está indo nos estudos.

- Bem, eu acho. Queria poder fazer algumas anotações, mas a gravação do Sebastian é mais ou menos isso e ajuda bastante.

- Isso é maravilhoso, meu amor. Eu tenho tanto orgulho de você. Mas... eu sei que isso não é o suficiente. Eu sei que você quer e merece progredir mais rápido.

- Eu quero tanta coisa, mãe. Mas eu sei que não é assim que funciona. Eu me atrasei por 5 anos e acho que vou demorar mais ou menos isso pra me recuperar.

- Talvez a gente possa comprar algumas coisinhas que te ajudem. Eu descobri que tem um dispositivo parecido com um anel que você vai passando pelas palavras e ele lê pra você. Também tem um tablet com teclado em braille e até um...

- Mãe. - Alec a interrompeu com um suspiro. - A senhora sabe que não podemos bancar nada disso. Se não vivêssemos de aluguel quem sabe, mas o seu salário é bem controlado e o papai não está indo muito bem na biblioteca.

- Como... como sabe sobre o seu pai?

- Eu ouvi vocês dois conversando na cozinha algumas noites atrás. Eu estava descendo pra beber água, mas ouvi o papai dizendo que as vendas não estão boas. Com livros digitais a procura por livros físicos diminuiu muito.

Maryse soltou um suspiro e se aproximou para acariciar os cabelos do filho.

- Você ouviu mais alguma coisa?

- Não! Eu não queria ser enxerido então voltei pro quarto.

- Bem... tudo isso é verdade, filhote. Mas naquela noite o seu pai também disse que fez um novo pedido por mais livros em braille.

- Eu não sei porque ele continua tentando sendo que esse pedido é sempre recusado por falta de verba. - Alec murmurou com sua frustração de sempre quando tocavam naquele assunto.

- Não dessa vez. - A mãe respondeu de repente com um tom muito mais animado, e Alec demorou um longo segundo pra entender.

- Como assim "não dessa vez" ? Os donos aceitaram o pedido? Vão mandar mais livros em braille pra biblioteca que o papai trabalha?

- Vão sim, meu amor. Seu pai jamais desistiria disso pra você e ele conseguiu fazer um acordo com os donos. Semana que vem vamos organizar uma festinha na biblioteca para tentar incentivar mais a leitura entre pessoas de todas as idades. Vamos fazer panfletos bem coloridos e anúncios na internet. Também achei que seria uma boa ideia você e a Izzy convidarem os seus amigos. O que acha?

- Mãe! Isso é excelente. - Alec não conteve a empolgação. - É claro que vou convidá-los. Talvez as famílias deles também queiram ir. Mas onde está o papai e quando os livros novos chegam? Eu preciso agradecer por ele ter se esforçado tanto.

Be My Eyes - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora