4 - Talvez algum dia

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Magnus demorou para processar tudo o que aconteceu nos últimos 5 ou 10 minutos, e ainda sim pensou ter entendido errado o que acabara de escutar.

"Porque eu sou cego, Magnus"

Ele meditou mais uma vez sobre as reações da amiga e os pais dela quando mencionavam algo sobre a família, e algumas coisas passaram a fazer mais sentido agora.

Izzy claramente não se sentia bem alegando ser filha única, mas alegava mesmo assim porque o irmão pediu.

Maryse e Robert também estavam claramente desconfortáveis quando tiveram que escolher uma lembrança onde o filho não estava presente, e isso à pedido do próprio filho.

Magnus também meditou um pouco sobre tudo ao seu redor.

A porta e paredes brancas, a pouca iluminação e uma única estante sem qualquer coisa decorativa para ver porque o dono daquele quarto não podia ver.

Se existisse um prêmio por ser o maior idiota do mundo Magnus provavelmente sairia vencedor.

Ele chegou um pouco mais perto da cama, onde Alec estava escorado na cabeceira com um MP3 e fones de ouvido em seu colo, e percebeu que sua cabeça estava levemente abaixada, mas ainda era possível enxergar seus olhos.

Magnus nunca tinha pensado muito nas pessoas cegas, mas imaginava que seus olhos fossem totalmente brancos ou que estivessem sempre cobertos por óculos escuros.

No entanto, Alec parecia totalmente normal em seu exterior.

Talvez um pouco mais belo do que qualquer ser humano que já tivesse visto até hoje, incluindo Isabelle e a clara semelhança entre os dois, mas seus olhos, ao invés de totalmente brancos ou castanhos como os da irmã, tinham uma tonalidade de verde com caramelo.

Uma tonalidade que parecia hipnotizar.

- Eu sinto muito por isso, Alec. Mas ainda não entendo porque você não quer que ninguém saiba da sua existência.

- Eu não quero ser um fardo pra ninguém, muito menos pra minha própria família. Por isso fico aqui no meu canto sem atrapalhar.

- Eu duvido que qualquer um deles ache isso. Sinceramente.

- Você não entende.

- Com certeza não. Mas talvez isso mude se você me explicar.

Alec pareceu considerar por um momento, mas no fim acabou se escorando na cabeceira da cama de novo e colocou apenas um dos fones no ouvido.

- É melhor você voltar logo lá pra baixo ou vão pensar que você se afogou na pia.

Magnus nem lembrava de que sua bexiga estava estourando, ou quanto tempo ficou ali, mas se surpreendeu ao perceber que não queria sair ainda.

- Tudo bem. Posso pelo menos falar com a Izzy sobre isso?

- Eu prefiro que você não comente com ninguém e tente esquecer que entrou aqui. Não quero ser um fardo pra você também.

Alec não fazia ideia do quanto estava equivocado, mas Magnus não tinha o direito de ficar argumentando ou de dizer que não conseguiria se esquecer de alguém tão belo nem se batesse com a cabeça na parede, mas apenas suspirou e caminhou em direção à porta.

- Adeus Alec. - Ele sussurrou, e não teve certeza de que foi escutado ou se Alec disse mesmo um "Adeus Magnus Bane" em resposta, mais ainda ficou um longo instante olhando pra ele antes de enfim fechar a porta.

Seus pensamentos ficaram embaralhados depois disso, e Magnus levou um susto quando Robert gritou "Gol" lá de baixo, mas também o fez voltar pra realidade e ir na direção certa do banheiro.

Be My Eyes - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora