05 | nós dois somos nojentos

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O teto parecia estar cada vez mais perto, a medida que Kellin apertava os olhos, como se ele pudesse entregar de mão beijada a solução para todos os seus problemas. Justin suspirou com um disco vinil da Madonna nas mãos e se jogou no puff ao lado, tentando confortar ao amigo na medida do possível.

ㅡ Nah, também não é o fim do mundo. O Mike pode tocar na festa e depois...

ㅡ Não precisa tentar me animar, Justin. Olha, vocês podem voltar pra casa e cuidar das guitarras de vocês. ㅡ Tomou um gole da garrafa de cerveja e ergueu o corpo a olhar para os amigos. ㅡ Foi muito bom fazer música e passar esse tempo com vocês, mas... Não há mais o que fazer aqui. ㅡ Levantou-se do puff adentrando os dedos no cabelo loiro de Justin. ㅡ O ensaio acabou... E a banda também. ㅡ O álcool rodou pelos seus lábios até os deixarem brilhando.

ㅡ Sentimos muito que tenhamos chegando a esse ponto... ㅡ Nick guardou a guitarra, mesmo que a tivesse tirado da proteção há apenas 2min.

ㅡ ... Kell, nós vamos dar um jeito, eu sei que sua vida é música, e a SWS é você. ㅡ Justin tocou seu ombro e o abraçou amigavelmente, resistindo de roubar um beijo em sua bochecha, tão próxima dos lábios, logo mais seguindo a Jake e Nick para fora da garagem.

Kellin jogou a garrafa contra a parede frustrado, quando se viu ali no cômodo sozinho, apenas na companhia do único instrumento que não sabia tocar. Depois, sorriu por ter que catar os cacos. Talvez, sua vida estivesse saindo do próprio controle.

☀☀☀☀☀

Andy atraiu alguns olhares enquanto voltava com a bandeja do almoço para o próprio assento, retribuindo o fitar de Ashley na mesma intensidade. Tão distraído que acabou esbarrando na mesa desajeitadamente, curvando o corpo contra ela. Graças a Vic o segurando, aquilo não teria se tornando um acidente mais grave.

ㅡ Você é o único gótico que não se inturma com os outros góticos da escola. ㅡ O moreno lhe fala com a boca cheia, mastigando o sanduíche natural que Noe havia o preparado pela manhã. ㅡ Parece um Lúcifer desgarrado.

ㅡ Amor, no quesito fobia social estamos no mesmo barco. ㅡ Andy retrucou tateando seu pedaço de pizza. ㅡ O quê que foi, 'tá achando ruim ser meu amigo? Se é o caso, é melhor falar logo.

ㅡ Calma, trevosa... ㅡ Andy sempre se acalmava quando Vic o chamava assim. O devolveu um sorrisinho miúdo. ㅡ Eu só acho cruel pra você, ganhar esses olhares de nojo por estar andando com o nerd fedorento da sala. ㅡ Vic fez um bico triste, voltando a comer e a sugar o milkshake.

ㅡ E como você sabe que são por sua causa? É cruel pra você ganhar esses olhares de nojo por estar andando com o anti-cristo da sala. ㅡ Vic gargalhou, fazendo com que Andy o acompanhe.

ㅡ Então nós dois somos nojentos, Andy.

ㅡ Claro, é por isso que somos perfeitamente interligados, caso contrário, nem te chamaria de melhor amigo. ㅡ Vic concordou com a cabeça o enchendo de razão. A amizade dos dois havia começado do nada e sem porquê, apenas aconteceu e cresceu até se tornarem praticamente irmãos. ㅡ Mas é sério que você pesquisa as coisas antes de ir pra aula? Daqui a pouco está ministrando ao invés do professor.

Ficaram conversando enquanto almoçavam, até o moreno pressentir as pisadas fortes de Kellin em sua direção. O loiro fingiu perder o equilíbrio da sua bandeja nas mãos, fazendo deslizar pela cabeça de Vic. O suco de morango enxarcou a calça de moletom que estava vestido, bem como o molho do macarrão tingiu seu cabelo de vermelho.

ㅡ Seu filho da puta, pirou? ㅡ Andy se levantou ameaçando a Kellin, que deu apenas dois passos para trás.

ㅡ Você quer que sobre pra você, emo? Ai Vic... Foi sem querer querendo... ㅡ Kellin debochou pondo o indicador em frente aos lábios.

ㅡ Você vai me pagar, mauricinho de merda... ㅡ Vic disse passando as mãos em seus cabelos compridos. ㅡ Porque você fez isso huh? ㅡ Chegou perto encarando aos seus olhos, mesmo que estivessem a um nível diferente de altura.

ㅡ Não vai na festa do Mike. ㅡ O replicou com os braços cruzados. Victor sentiu o sangue explodindo por dentro das próprias veias.

ㅡ Eu vou sim nessa desgraça de festa, você querendo ou não. Vem, Andy. ㅡ Vic apenas o respondeu, puxando o gótico para o banheiro pretendendo se limpar. Kellin umedeceu os lábios pensando em outra estratégia.

ㅡ Vocês não viram? Foi sem querer. ㅡ Gritou contra as pessoas que o observavam curiosos.

Andy resolveu ficar do lado de fora e esperar por Vic, que olhava seu rosto cheio de molho de tomate escorrendo pelas suas bochechas através do enorme espelho. Apertou o mármore com tanta força que parecia querer quebrá-lo, rosnou pra si mesmo com bastante ódio. Podia jurar morte ali mesmo a Kellin Quinn e todos aqueles que fazem seu tipo. Não conseguia entender porque ele pegava tanto no seu pé, porque a escola toda o tratava como um ser alienígena... Ele era apenas um ser humano, obrigado a comer da mesma comida ruim da cantina, passando por todas as aulas entediantes, tendo que lavar os olhos com ácido sulfúrico depois de ver o professor de educação física com um short surrado... Era um estudante como todos os outros.

Mas logo, as lágrimas saltaram de seus olhos pequenos, cortados pelos fungados e soluços. A resposta podia estar em sua aparência. Vic era 'nojento'. Era a distorção no panorama dos garotos bonitos da escola. Seus cabelos ondulados o deixava escondido, o rosto parecendo uma crosta de montanhas pelo número de espinhas. O óculos que sempre caía da cara o fez passar tanta vergonha que já caiu em desuso. Vic sentiu a dor daquele choro compressar seu coração, virou de costa para o espelho pra não se sentir tão nojento mais.

VIC'S SHOES! | KELLICOnde histórias criam vida. Descubra agora