04 | você é meu problema

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ㅡ Agora, podemos entrar na época da anti-arte. ㅡ O professor de literatura deixava, pelo menos metade da sala, de olhos bem atentos e bocas entreabertas. ㅡ O movimento dadaísta nasceu em um cabaret, acreditem ou não, na época da Primeira Guerra Mundial. Servia como uma... resposta à decadência da sociedade por causa da guerra, então as obras artísticas eram carregadas de irreverência, de deboche... de agressividade. Eles queriam destruir a arte, visto que, pensem comigo... ㅡ O professor pôs uma das pernas em cima da própria mesa com a mão apoiando o maxilar. ㅡ Era tudo hipocrisia, textos bonitos e histórias mirabolantes e bonitas, enquanto o mundo estava banhado de sangue, não é? Então, começaram a ridicularizar, a demolir essa ilusão...

Vic era um dos alunos que sempre estava acompanhando cada pisada do professor, fazendo diversas anotações em seus post-it. Não conseguia se dedicar a uma área só, pois, afinal de contas, dominava a todas sem precisar do mínimo esforço. Era o típico aluno que todos os professores gostariam de ter como filho, seu histórico de notas sempre houvera sido impecável. A índole de bom moço acabava atraindo as bolinhas de cuspe de Kellin Quinn, que desgraçadamente teve que sentar atrás de si naquele dia.

ㅡ Kellin, por favor. ㅡ Vic pedia passando a mão, limpando o pescoço, ainda preferindo dar atenção à aula do que ao inimigo. O outro, apenas deu um sorriso travesso mastigando mais uma bolinha de papel e atacando o pescoço do moreno com aquela saliva gosmenta. ㅡ Dá pra parar com isso? ㅡ Vic finalmente virou o corpo totalmente encarando os olhos azuis de Kellin. O outro deu de ombros. O moreno tornou a olhar para frente.

ㅡ Como eles se manifestavam? Bom, os artistas faziam exposições inusitadas... palhaçadas mesmo, às vezes chegavam a ser vaiados nas ruas por imcompreensão da platéia, tudo isso faz parte do Dadaísmo. ㅡ O professor seguia com a explicação, enquanto que Kellin continuava a disparar contra o pescoço de Vic até conseguir o tirar do sério.

ㅡ Caralho, qual o teu problema?? ㅡ Vic virou o corpo arrancando o corpo da caneta utilizada como arma da boca de Kellin.

ㅡ Você é meu problema. ㅡ Kellin respondeu cada sílaba devagar, fazendo o outro bufar. ㅡ Não vai na festa do Mike.

ㅡ Quem é você pra me dizer o que fazer, mimadinho ridículo?? ㅡ Vic o respondeu aumentando o tom de voz, de repente desviando a atenção da sala para os dois discutindo.

ㅡ Kellin... ㅡ O professor o chamou a atenção, para que não perdessem o foco. ㅡ Será que poderia me nomear um representante do Dadaísmo? Já que prestara tanta atenção na aula, huh? ㅡ Kellin encarou Vic com os olhos pulsando sangue.

ㅡ Eu sei lá. ㅡ Respondeu rápido, dando de ombros, Vic sorriu revirando os olhos, pois já esperava essa resposta do mesmo. A pergunta então foi direcionada a ele.

ㅡ ... Hmn poderia ser Marcel Duchamp, sr.? Com sua técnica do ready-made? ㅡ Vic impôs-se diante a própria carteira, enchendo os olhos ao responder. ㅡ Ele pegava objetos comuns do cotidiano e os tornava em arte... Se não me engano, o mais famoso é o urinol de porcelana.

ㅡ Perfeito, Vic... Olha só, vocês deviam ser mais como o Vic. Aposto que ele pesquisou antes de vir pra essa aula. Isso é que me dá orgulho. ㅡ O professor o cobriu de elogios deixando suas bochechas vermelhas, porém, cheias de razão.

ㅡ 'Vocês deviam ser mais como o Babão do Vic'. ㅡ Kellin repetiu quase que inaudível, apenas para o moreno ouvir, com tom de deboche.

Finalmente, a tortura havia acabado para Kellin, saindo da sala praticamente correndo quando ouviu a sirene ensurdecente tocar. Passou esbarrando em Vic, talvez propositalmente, quando passava pela porta. O moreno derruba a garrafinha de água que estava em mãos, mas preferiu não gastar nenhum neurônio com isso.

ㅡ Hoje ele decidiu que ia pegar no seu pé pra valer. ㅡ Andy sorriu de lado, vendo o moreno analisar o objeto a procurar rachaduras.

ㅡ ... Você tem culpa nisso, sabia? Eu e você poderíamos dar uma lição nele.

ㅡ Credo, não vou me intrometer, só há dois protagonistas no Tom & Jerry. E também é covardia dois contra um. ㅡ O gótico revira os olhos ao mesmo tempo que Vic e juntos vão a caminho do corredor. ㅡ Mas qual o motivo especial pra estar te rodando tanto?

ㅡ E tem outro? Ele não quer que eu vá naquela festa idiota.

ㅡ Uy, nunca pensei que fosse concordar com ele algum dia, mas eu estou concordando. Eu não quero que você vá.

ㅡ Eu não vou, nós vamos. ㅡ Vic o puxou pelo braço. ㅡ Não vou por causa do Kellin, vou por causa do Mike. E vai ser divertido pra você, vai ser divertido pra mim... ㅡ Andy franziu o cenho vendo Victor hesitar nas próprias palavras.

ㅡ Eu ainda acho estranho Mike se achegar a você de uma hora pra outra, ontem ele nem sabia que você existia... Tem certeza que é uma boa ideia?

ㅡ ... Como você assiste filmes tenebrosos com espíritos e demônios... Mas tem medo de adolescentezinhos mimados? ㅡ Vic riu bobo.

ㅡ Será que é porque esses adolescentezinhos mimados podem me deixar machucado pra caralho?? Seu bobo, vamos nos atrasar pra próxima aula.

⭐⭐⭐⭐⭐

Kellin abriu a garagem da casa revelando um amplo espaço a ser ocupado pelos seus amigos. Há bastante tempo, o assento da bateria estava desocupado, fazendo cada um dos integrantes da pequena banda suspirar tristonhos.

ㅡ Isso é um horror. A gente não pode tocar sem baterista. É a alma da música. ㅡ Jack apoiou o braço no ombro do vocalista.

ㅡ Eu concordo com o Jack, até o ensaio está uma merda. ㅡ Justin preferiu passar o tempo remexendo a caixa de discos velhos pegando poeira.

ㅡ Galera, apenas temos que pensar. Quem que iria imaginar que o Gabe ia se mudar assim de uma hora pra outra? A vida tem dessas. ㅡ Kellin bufou e se jogou no puff, encarando o teto com bastante intensidade.

VIC'S SHOES! | KELLICOnde histórias criam vida. Descubra agora