Patinação

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO III - DETENÇÃO DE MARÇO

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CAPÍTULO VII - PATINAÇÃO

Minha prima Kara sempre me disse que toda história tem sempre mais de uma versão. Benjamin e eu sempre tivemos nossas diferenças, mas nunca chegamos a nos conhecer de fato. No primeiro dia de aula, enquanto eu me dirigia a entrada da Auradon High School, com o nervosismo a flor da pele, eu acabei esbarrando no filho do diretor e o derrubando. Naquele momento, eu não sabia quem era aquele garoto e confesso ter admirado sua beleza. No entanto, todo o encanto foi por água abaixo quando ele começou a gritar comigo em frente a escola. Ele parecia tão furioso e atordoado que foi impossível não me indignar. 

Não havia sido proposital. Eu havia me desculpado com ele e ainda assim, ele parecia não querer me ouvir. Benjamin apenas parou de agir como um babaca quando o diretor Adam apareceu. A voz imponente do pai o fez parar no mesmo instante. Os dois se encararam por um longo tempo em silêncio. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas agora, depois de três anos, eu consigo entender o que havia sido aquela troca de olhares. Eles estavam compartilhando da mesma dor. Sentindo a mesma impotência de ter de ficar de braços cruzados enquanto a mulher que amam lutava para sobreviver em um hospital.

Encarando os olhos esverdeados de Benjamin após relatar o que aconteceu em sua vida naquela época, a lembrança do brilho doloroso retornam para o rapaz. Ele estava sofrendo. Lutando de todas as formas que pode. Tudo para garantir a saúde da mãe. Eu realmente poderia julgar os seus métodos? Eu faria diferente se estivesse em seu lugar? Provavelmente não. Ainda que minha relação com a minha mãe fosse complicada, ela ainda foi a pessoa que me criou sozinha quando meu pai nos abandonou. 

- Eu sinto muito. - Declaro com sinceridade, atraindo a atenção de Benjamin. Ele me observa com cautela, como se não tivesse acreditando em minhas palavras. - Eu não vou retirar os meus insultos a você por tudo o que me disse nos últimos anos e nem pelas nossas desavenças. Você foi realmente um babaca e mereceu cada um dos meus xingamentos. Mas lamento por ter tornado sua vida escolar mais exaustiva. Mesmo não retirando nada do que eu disse, agora eu entendo os seus motivos e provavelmente em seu lugar eu teria feito o mesmo. No entanto, assim como sua mãe te ensinou a lutar pelo que acredita, eu vou continuar a lutar pelos direitos dos alunos menos privilegiados dessa escola de filhinhos de papai.

- Eu agradeço por isso. Não poderia haver alguém mais corajoso e determinado que você para lutar por eles. - Responde Benjamin, dando um bonito sorriso. Ele realmente parecia satisfeito por eu não mudar tanto assim de opinião. - Covardemente, eu não posso enfrentar Audrey. Contrariá-la significa colocar a vida da minha mãe em risco. Não sabemos o que pode acontecer se ela interromper o tratamento agora. Por outro lado, eu prometo que darei todo o apoio que eu puder para impedir que ela machuque mais pessoas.

Observo Benjamin por alguns instantes. Durante anos eu venho cultivando ódio e mágoas por ele, no entanto, bastou uma simples conversa e explicações sobre sua vida para entender que talvez Evie tivesse razão. O filho do diretor é uma boa pessoa e se eu abaixasse um pouco a guarda e permitisse que ele se explicasse, talvez nós pudéssemos ter nos dado bem. E é por isso que resolvo engoli de uma vez por todas o meu orgulho e dar o braço a torcer, estendendo a mão ao capitão da equipe de hóquei.

- Trégua? - Pergunto e ele me encara surpreso, mas não demora muito para que ele sorria e aperte a minha mão.

- Trégua. - Responde, parecendo aliviado.

- Por causa da sua situação, não podemos ser vistos como amigos na escola. E eu também não posso arriscar a minha reputação andando com um riquinho que eu sempre xinguei. - Brinco e ele ri e revira os olhos.

Detenção de MarçoOnde histórias criam vida. Descubra agora