Explicações

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ROMANCES MENSAIS

LIVRO III - DETENÇÃO DE MARÇO

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CAPÍTULO XII - EXPLICAÇÕES

Conforme nós nos aproximávamos do restaurante, mais nervosa Mal ficava. Como se tentasse controlar os nervos, ela segurava a alça de sua mochila com força e mordia o lábio inferior diversas vezes. Eu observava a tudo em silêncio, sem saber o que fazer para acalmar a garota.

Quando enfim chegamos ao local marcado, ela respira fundo e me encara temerosa. Essa era a primeira vez que eu via Mal tão fragilizada. Ela se assemelhava a uma criança em busca do consolo da mãe prestes a chorar. Por instinto, pego na mão da garota e a aperto com firmeza, oferecendo todo o meu apoio. Incerta, ela corresponde ao aperto, entrelaçando nossos dedos e sorri nervosa.

- Vai dar tudo certo. Você vai ver. - Afirmo, sorrindo confiante, ainda que não soubesse o que esperar de Hades. Eu apenas torcia para que ele tivesse uma boa explicação para ter abandonado Mal e para ter voltado agora após quase dozoito anos.

- Tudo bem. Vamos entrar. - Decide a garota de cabelo púrpura, puxando-me em direção ao restaurante.

Assim que entramos, não demoramos muito a encontrar o homem de traços semelhantes ao de Mal e cabelo azul claro. Ele parecia nervoso e encarava o copo de água em suas mãos com intensidade. Ver o pai parece ter deixado Mal intimidada e é preciso que eu a conduza para que ela saísse do lugar. Cautelosos, nós nos aproximamos da mesa em que ele estava e logo somos notados.

Hades se levanta de uma vez e quase derruba a cadeira. O restaurante inteiro o encara, mas logo viram o rosto ao receber o olhar intimidade do homem. Mal se encolhe contra mim, ainda mais nervosa e esse gesto parece não passar despercebido por Hades, que me encara de maneira nada amigável.

Tento não demonstrar o medo que sentia do homem, agora que finalmente sabia quem ele era. E apenas para garantir que eu continue vivo, afasto-me um pouco de Mal e dou um sorriso forçado. Aquela situação estava começando a me deixar nervoso também.

E então alcançamos a mesa. Eles se encaram em um silêncio pesado e incômodo. Mal continuava a segurar minha mão com firmeza e eu me questionava se deveria fazer alguma coisa ou continuar sendo alvo do olhar mortal de Hades por estar de mãos dadas com sua filha.

- Nós deveríamos nos sentar. - Sugiro, tentando aliviar um pouco do clima pesado que estava entre nós. Hades bufa, irritado.

- O que esse mauricinho metido a besta está fazendo aqui? Vai tentar chamar a polícia para mim mais uma vez? - Pergunta o homem de cabelos azuis, lançando um olhar raivoso para mim. - Não me diga que está namorando um filhinho de papai como ele.

- Nós não... - Tento me explicar, mas sou interrompido por Mal, que parecia bastante irritada pelo comentário do pai.

- E se nós fomos? Desde quando isso é da sua conta? - Questiona Mal, apertando meu braço com firmeza, enquanto encara o pai em desafio.

- Você merece alguém muito melhor do que um mimadinho, Maly. - Resmunga Hades, contrariado e intimidado com a resposta da filha.

- Eu decido quem ou o que eu mereço. Você não me conhece e menos ainda ao Ben. Não tem o direito de se meter na minha vida depois de passar tantos anos longe. - Acusa Mal, fazendo Hades se encolhe, entristecido. 

- Mal, acho melhor a gente se sentar. - Sussurro para a garota, notando que estávamos sendo alvos da atenção dos outros clientes.

A garota suspira e assente, concordando. Não adiantaria nada ficar gritando no meio do restaurante. E eu tenho que confessar que estava curioso para saber a versão da história por Hades. Diferente do que ele se mostrou no dia em que nos vimos pela primeira vez, o homem de cabelos azuis parecia bastante intimidado com os olhares e palavras de Mal. Nem mesmo parecia um homem alto e musculoso, capaz de colocar medo apenas com um olhar em qualquer pessoa.

Detenção de MarçoOnde histórias criam vida. Descubra agora