A França estava em clima de instabilidade, era um fato. O povo estava a cada dia mais inflamado e alguns já começavam a se armar, outros planejavam invadir arsenais do governo com o intuito de pegar lanças, mosquetes, pistolas e qualquer equipamento bélico disponível.
Os poucos homens das tropas do rei que ainda não tinham mudado de lado não conseguiam conter os revoltosos, que haviam iniciado saques e ataques em Paris. Até mesmo os nobres haviam se revoltado, meses atrás, e se recusaram a pagar os impostos ao rei e aos poucos o monarca perdia o apoio.
Mesmo contra, Luís XVI acabou reconhecendo a Assembléia Nacional Constituinte, inicialmente somente Assembléia Nacional, formada principalmente pelo Terceiro Estado após a revolta ocasionada na reunião da Assembléia dos Estados Gerais.
Harry tinha se unido à causa e sempre que possível participava das reuniões, mas ainda ficava com medo de ser visto pelos guardas do palácio ao voltar tarde da noite. Ele sabia que quando o dia ia embora e a noite assumia seu lugar, as estradas ficavam infinitamente mais perigosas e as chances de ser estuprado eram altas. Em uma de suas visitas a Paris, seu pai, Desmond, havia lhe entregado a pistola que seu avô possuía. Era velha, mas ainda exercia sua função.
O rapaz continuava trabalhando em Versalhes e não planejava sair de lá tão cedo, pois não podia deixar seus pais passarem fome e querendo ou não, ele tinha o que comer ao permanecer na cozinha do palácio.
Harry suspirou, segurando com firmeza a cesta redonda e pequena que levava, resmungando quando sua capa verde musgo se enroscou em um tronco caído. Ele ajeitou a vestimenta e cobriu-se melhor com o capuz, adentrando à floresta ao leste do palácio.
Ele tinha alguns conhecimentos de botânica e, para poupá-lo de mais uma viagem a Paris, já que tinha esquecido em sua última estadia na capital do reino, ele procurava na floresta algumas ervas para inibir seu cheiro durante o cio, que estava próximo. Ainda não sabia de uma mistura que atrasasse ou impedisse a chegada do cio, mas conhecia algumas plantas que podiam disfarçar seu cheiro do olfato dos alfas, que poderiam se tornar bem agressivos se soubessem que tinha um ômega em cio e sozinho. E ele tinha horror a isso.
Harry se agachou em sua trilha, tocando um pé de hortelã. Tirou um frasco de vidro da cesta e guardou algumas folhas ali dentro. Ele costumava coletar e lavar os frascos que os nobres destinavam ao lixo após usar as misturas feitas pelos boticários de Paris que ele mesmo era encarregado de buscar. Como tinha recipientes com plantas para diversas finalidades, ele limpava e escaldava cuidadosamente.
Ergueu-se e continuou sua caminhada, sentindo os raios solares que passavam as copas das árvores banharem seu rosto desprotegido. Balançou a cesta devagar, sorrindo pequeno ao ouvir o canto dos pássaros. Tocou algumas árvores e colheu mais algumas plantas que fariam parte de sua mistura inibidora de cheiro.
Ele estava feliz por estar fora do palácio por algumas horas, sem ter que ouvir o cozinheiro lhe dando ordens aos gritos. Respirou fundo, o ar fresco da floresta entrando por seus pulmões e a brisa fria beijar seu rosto jovial suavemente, embora o dia estivesse ensolarado. O ômega sorriu, rodopiando em meio às árvores e se permitindo relaxar. Abriu os braços e se virou para um lado em que o sol era mais exposto, permitindo que o astro-rei esquentasse seu corpo com seu calor.
Ouviu o relincho de um cavalo ao longe e arregalou os olhos, segurando sua adaga, que estava embainhada em sua cintura. No mesmo cinto uma pistola descansava, aguardando seu uso. Franziu o cenho ao escutar um barulho baixinho e sofrido, além de uma comemoração humana. Seguindo sua audição, esgueirou-se em meio às árvores, franzindo o cenho ao ver um homem se agachar em meio à vegetação verdejante para pegar algo no chão.
Harry não conseguiu ver seu rosto, mas segurou um ofego quando ele se ergueu com um coelho morto nas mãos. O homem caminhou para longe e o ômega, curioso, o seguiu discretamente, usando as árvores como esconderijo. Viu o outro chegar em uma clareira, na qual um cavalo estava amarrado em um tronco e comia a vegetação rasteira. O homem se agachou novamente, tratando do coelho para que pudesse se alimentar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vive la Vie | Larry Stylinson
Фанфик1789. A França está prestes a explodir em uma Revolução sangrenta. De um lado, burgueses e sans-culottes revoltados com a monarquia absolutista. Do outro, o rei e a nobreza tentando manter suas cabeças. Em meio ao caos, Harry, um ômega san-culotte...