cap 11

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Na semana seguinte as horas passavam lentamente, a convivência com uma meia irmã me mostrou que talvez eu precisasse de alguém para dividir um armário. Na escola tudo caminhando normal,tirando o fato que Anthony faltou três seguidos dias da escola,fiquei muito precupada mais oque eu poderia fazer,seus sumiços me deixava atordoada.

A campanhia toca repetidas vezes,jogada no sofá tudo que mais desejo é aproveitar meu sábado.

_ Aí já vai! - grito irritada,vou até a porta e a abro,me deparando com um Anthony sorridente com sua jaqueta preta de couro. Fecho a porta e saio o olhando fixadamente,irritada e feliz por vê-lo.

_ Onde você estava ? - Pergunto.

_ Por aí ... Eu quero te levar em um lugar,vem. - segura em minha mão.

_ Você some por três dias,não responde minhas mensagens,não atende minhas ligações e agora que sair comigo, tenta pelo uma vez ser normal. - Entro em casa e fecho a porta,o deixando lá.

Não estava irritada com Anthony,estava irritada comigo mesma e agora sentada no chão do quarto,ouvindo uma música da qual nem conheço a  letra,resolvo ligar para ele.

_ Pra onde queria me levar ? - pergunto assim que atende.

Às quinze para sete horas,ouço a campainha tocar,estava terminando de colocar o tênis,minha mãe atende a porta e escuto vozes e as reconheço em seguida, Anthony havia chegado mais cedo. Enquanto corro contra o tempo para me arrumar escuto um pouco do diálogo entre eles:

_ Ah então você é o famoso Anthony ? - minha mãe pergunta.

_ Sim.

_ Ótimo,quer um suco,uma água? Sara já vai descer. - Ela diz. - Sara já está pronta ? - minha mãe se aproxima da porta do quarto e grita.

Peguei meu maço de cigarros escondido e sai do quarto com um sorriso, comprimentei Anthony e despedimos de minha mãe. Entramos no carro,ele a todo momento sorria para mim,e não era um simples sorriso era um sorriso de apaixonado,ou talvez eu estava me perdendo no romance.

Em uma casa no final da rua principal,paramos. Decemos do carro e caminhamos por alguns instantes.

_ Não me diga que é outro parque abandonado ? - pergunto enquanto caminhamos.

_ Não chega nem perto. - da risada e pega em minha mão.

Enfim paramos no meio do nada,em um campo onde  havia apenas uma árvore enorme. A grama molhava meu tênis,a lua mais bela que todos os dias que já tinha a visto e seria impossível não achar tudo ao redor bonito.

_Ta,não sai daí. - Solta minha mão e corre até o carro. Volta com uma mochila no braço,vai até a árvore se ajoelha tira da mochila um lençol e joga sob o chão,caminho até Anthony me ajoelho e ajudo a arrumar o lençol,ele tira também da mochila uma garrafa do mesmo vinho que tomamos na noite em que estive pela primeira vez em sua casa.

_ Eu esqueci as taças,mas isso não nós impede de beber não é mesmo ? - abre o vinho e toma um gole. Faço o mesmo.

Depois de ter tomado quase todo vinho,pego em meu bolso um cigarro e o acendo,trago e solto a fumaça que paira por alguns segundos no ar.

_ O que a vida nós reserva ? - Anthony pergunta olhando fixadamente em meus olhos e pega rápidamente meu cigarro.

_ Não sei . - Dou risada e olho para o céu pensando em qual seria a melhor resposta para essa pergunta. - Qual a sua história ? - pergunto.

_ As 05:50 AM do dia 09 de Março,nasceu uma criança,e antes mesmo dessa criança nascer eles já diziam e acreditavam fortemente que era uma menina,bom,fizeram e deram tudo que uma menina pode querer, o quarto rosa,vestidos e saias,cabelo quanto maior melhor. Mas tinha um problema com essa criança,ela não era uma menina como as outras - Da risada. - Ela gostava de brincar com os carinhos do seu primo sempre que ia visitá-lo,gostava de brincar de "casinha" mas ela era o papai,a verdade é que era só brincadeira de criança,mesmo gostando mais das bermudas ao invés de vestidos. Até que essa menina cresceu e no meio de tantas outras meninas,porque se sentia diferente ? Porquê preferia não passar maquiagens,nem falar sobre garotos,nem se vestir como suas amigas. E observando os garotos,desejava ser igual a eles, na frente do espelho o que via não lhe agradava,seus pais protestaram essa ideia até onde conseguiram,mas não teve jeito, aceitaram que não tiveram uma filha e sim um filho depois de comprovado que tudo que aquela garota sentia não era um transtorno psiquiátrico. - me olha. - Então foram consultas, bloqueio da sua puberdade e  hormônios para ajudar que se desenvolvesse como um homem,não demorou para que cortasse o cabelo e assim quando tava tudo indo bem essa garota teve que enfrentar outra coisa chamada transfobia,essa é a parte triste da história,a parte feliz : com a ajuda dos pais conseguiu mudar o nome e o gênero no registro de nascimento. - Anthony sorri . - Bom resumidamente é essa minha história.

Prestei atenção em cada detalhe de tudo que Anthony me contou e quando terminou,olhando para seus olhos eu quis beija-lo.

MARTE VIVE EM MIMOnde histórias criam vida. Descubra agora