MARTE VIVE EM MIM

cap 28- Despedida

Durante a madrugada

Acordei ouvindo sons estranhos,senti a mão pesada de Alícia que ainda repousava em meu ombro tirei sua mão com cuidado, me sentando na cama, a janela estava aberta e o vento ecoava tão forte que fazia com que todas as partes desnudas do meu corpo se arrepiassem,caminho até a janela e a fecho fazendo com que o som e frio se cesse por completo.

O relógio em cima do criado mudo mostrava que faltava poucas horas para o dia amanhecer,peguei meu celular e os fones dentro da gaveta de meu armário, coloquei minha música preferida e me sentei ao pé da cama a música tocava.

"Me fita que eu gosto de me enxergar
Por dentro do teu olho
É tão bonito de lá
Tem cor de Marte
E teletransporte
Pra galáxia que mora em você

Me passeia que eu gosto de arrepiar
Sob sua digitais
É impossível calar
É feito sorte
Me abraça forte
E tateia todo meu caminho[..] "

Essa música agora tem um efeito muito maior,ela me faz lembrar de Anthony e de tudo que vivemos.

Porque tudo passou tão rápido ?

Porque ele tinha que me deixar aqui sozinha ?

Essas perguntas me assombravam dia e noite,só queria que ele estivesse aqui comigo,que ele ficasse mais um pouco. Vejo a foto do parque caída no chão ao lado da minha cama,pego e olho novamente passo os dedos sob a fotografia preta e branca,me levanto a procura dos meus sapatos,os encontro e coloco rapidamente,pego uma blusa de frio,olho para Alicia que dormia tranquilamente,pego o cobertor e a cubro.

Seria uma longa caminha da minha casa até o parque do sonhos,mas assim que abrir novamente a janela e a pulei não voltaria atrás. Estava triste porque Anthony deixou bem claro na foto que só restava uma última carta,uma parte minha sabia que no momento em que a encontrasse tudo acabaria para sempre e só restaria sua lembrança em minha mente, não teria nada mais a que me apegar.

Minhas pernas pedem por um descanso,minhas mãos estão congeladas,mas resisto aos pedidos do meu corpo e contínuo minha caminhada,pensando na pergunta que Anthony me fizera uma vez. " O que a vida nós reserva? " Certamente minha resposta estava incompleta,era impossível saber o que a vida me reservava,por enquanto só sabia que o amor nem sempre salva.

Pego meu celular do bolso olhando as horas,ainda faltava alguns quilômetros e já estava andando a quase uma hora e meia; finalmente cheguei a cidade do parque abandonado,tudo estava do mesmo jeito,caminhei por mais alguns minutos até chegar na entrada do parque,parei por alguns segundos,olhando tudo e novamente as lembranças de Anthony voltaram a minha mente,olhei para a roda gigante e lembrei do dia que ele salvou minha vida.

Passei pela bilheteria abandonada e girei a catraca,entrando no parque,aumentei a música em meu celular e girei no centro do parque assim como fiz da primeira vez que estive aqui,parei por um estante e peguei a foto em meu bolso,lendo novamente aquela frase

"... Procure por Marte"

Corri até a roda gigante, e girei ao seu redor,subi cuidadosamente procurando por algo e nada,já estava exausta, não havia nada ali. Decidi sentar ao pé da roda gigante até que como uma iluminação divina me lembro que aquele foi o mesmo lugar onde sentamos o dia que Anthony salvou minha vida,me ajoelhei e olho para todos os lado,guardo a foto no bolso e começo a cavar o chão com as mãos,mas a terra já estava dura,corro até a entrada da floresta e pego um graveto que parece forte o suficiente, retorno a roda gigante,desta vez cavando com mais força e rapidez.

Bato em algo sólido, com as mãos limpo a terra que estava por cima e percebo ser uma caixa, faço um pequeno esforço e a arranco do buraco. Era uma caixa de madeira,havia algo escrito em caneta vermelha,leio imediatamente.

Com certeza você seria Vênus o planeta mais brilhante de todos.

Sem hesitar abro a caixinha, encontro uma pulseira de berloques, e um envelope,tiro a pulseira olhando cada um de seus detalhes nela havia três charms; um de coruja,outro com os símbolos de Marte e Vênus e por fim um da flor de lótus; rapidamente coloco em meu pulso,pego a carta ansiosa para ler, à abro com cuidado.

Olá

Talvez você demore muito para achar essa carta,talvez nunca a encontre;queria te dizer que hoje foi mais um daqueles dias que o mundo caiu sob meus pés. Estava tudo tão calmo e silencioso aqui fora,enquanto dentro de mim o caos se arrastava,queria ter passado o dia com você,queria ter me despedido de verdade ao invés de só mandar uma mensagem com um pedido de desculpas confuso. Não sei exatamente quando tudo na minha vida se tornou sombrio e pacato,mas rezo para que hoje tudo se acabe de vez. Sobre a pulseira de berloques escolhi três charms entre eles, a flor de lótus porque ela representa o equilíbrio entre as energias e principalmente uma jornada na escuridão que envolve a transformação profunda e interior; um sinal de desapego. Já a coruja foi escolhi para simbolizar sua sabedoria e inteligência e por fim os símbolos de Marte e Vênus para você nunca se esquecer de mim. Estou escrevendo essa carta com uma dor imensa e a deixo em forma de uma despedida para sempre,espero te encontrar em outra vida,onde não a dores, não há maldades,onde o amor seja a única forma de união; Sara Smith eu amo você,queria ter dito isso antes,mas estive me negando ao amor,recusando a fazer planos com você,porque tudo que queria era evitar mais dores. Em minha última carta eu lhe peço que por favor não se esqueça de mim, peço que diga aos meus pais que apesar de tudo os amei e, principalmente que você viva intensamente cada segundo. Sara,guarde todos as suas lembranças nessa caixa,faça outras lembranças e preencha essa pulseira com novos charms, a única coisa que posso te prometer é que vou está te esperando do outro lado.

P.s: Eu tentei.

Com amor, Anthony.

Termino de ler a carta e sinto o meu mundo desabar ,seguro os joelhos com as mãos os trazendo para perto do meu peito,abaixo a cabeça e começo a chorar intensamente.

Porque você não ficou aqui comigo ?

Choro ainda mais me fazendo perguntas que não poderiam ser respondidas,paro de chorar por alguns segundos limpando as lágrimas em meu olhos, levanto o braço e acaricio os pequenos charms na pulseira.

Depois de um bom tempo já me sentia melhor,sair do parque fazendo um juramento de nunca mais voltar naquele lugar,tudo que mais desejava nesse momento era esquecer Anthony por completo,ele não tinha o direito de fazer isso comigo,mas ao mesmo tempo que olhava a pulseira no meu braço,sabia que não iria esquece -lo. No caminho de volta uma mulher que dirigia uma caminhonete passou e me ofereceu uma carona, aceitei sem hesitar. Ela pergunta depois de um tempo:

_ Mas o que uma moça como você esta fazendo sozinha nessa cidade abandonada ?

_ É uma longa historia! - Respondo tímida.

_ Até chegamos na cidade é uns 45 minutos,acho que tenho tempo.

Rapidamente comecei a contar toda a historia quando terminei já estava banhada de lagrimas novamente.

_ Essa foi a ultima carta que ele deixou. - tiro a carta do bolso e mostro.

A mulher a qual chamava-se Laura,escutou com atenção toda a historia,por fim soltou a voz :

_ Olha quando tinha a sua idade também fiquei arrasada por uma amor,é claro ele não se matou. Mas eu o amava muito e quando tudo se acabou doeu tanto como se minha vida tivesse se acabado também,enfim passou, se quer um conselho só o tempo vai fazer melhorar então não fuja e nem tente esquecer,tudo tem seu tempo necessário.

As palavras de Laura me fez pensar pelo resto do caminho,e quando chegamos na cidade,a agradeci com um enorme sorriso, Anthony não iria voltar isso era fato,deveria me conformar e viver minha vida.