Cap 20 - Dor insuportável

30 3 0
                                    

Acordamos com o grito de Fernanda:

_ Eu vou matar vocês! - gritou

Começamos a dar risada, Tina trancou a porta do quarto de sua mãe,ouvimos pelo barulho. Alícia e eu cobrimos o rosto e começamos a rir descontroladamente. Fernanda se lavou,e depois ficou sem falar conosco por um tempo,até que estávamos todas na mesa tomando café e ela se rendeu pedindo que passássemos o leite para ela.

_ Meu deus, você se lembra do que fez ontem ? - pergunto a Fernanda.

_ Claro!

_ Então você se lembra,que traiu seu namorado ? - digo a olhando,Tina e Alícia me olham também.

_ Do que você tá falando ? Fernanda se irrita.

_ Tô falando daquela loira que você estava nos beijos ontem,antes de  te arrastar para fora da balada.

Alícia e Tina começam a rir, Fernanda se irrita,mas depois começa a dar risada também,a manhã foi agradável e tranquila,o meu sábado estava com uma cara ótima.

_ Mas e você ? A Amélia ... -  Alicia pergunta curiosa.

_ A gente se beijou só isso! - disse na intenção de encerrar o assunto.

_ Dúvido. Bem que eu vi suas mãos passeando pelo corpinho dela. - Tina diz.

_ Meu deus em gente ! Não rolou nada além de um beijo,um único beijo que eu parei no meio,porque lembrei do Anthony. - digo- e agora esse miserável nem me responde ou me atende. - me frusto

As meninas me olham,me levanto da mesa e sigo para o quarto de Tina me troco,colocando o mesmo vestido de ontem,arrumo minhas coisas e volto segurando um cigarro e um esqueiro na mão.

_ Bom,meninas a noite foi otima,mas tenho que ir -, digo e beijo todas.

_ Mas já ? - Tina se entristece.

_ Sim,minha mãe chega hoje,ela ainda deve tá mal por causa do enterro do enteado então acho melhor está lá quando ela chegar. - me despeço.

Saio da casa de Tina em seguida,de sua casa até a minha são poucos minutos,acendo meu cigarro e guardo o esqueiro,minutos depois chego em casa,encontro minha mãe e Jenny sentadas na mesa,pareciam tristes,dou um sorriso tentando mudar o clima,fecho a porta e jogo minha mochila no sofá,caminho até minha mãe e beijo sua testa.

_ Nossa o que aconteceu ? - pergunto me irritando com todo aquele silêncio.

_ Filha,senta a Jenny precisa te contar algo . - minha mãe fala devagar.

Me sento rápido e olho para Jenny,vejo seus olhos se encherem de lágrimas e isso me preocupa,espero até que ela fale.

_ Bom, não sei como te dizer isso,mas o Anthony morreu,seus pais acharam o corpo dele ontem a noite,quando chegaram de viagem .

Vários pensamentos vem em minha mente,me lembro do rosto de Anthony,da nossa noite juntos,do sorriso,da covinha e começo a me derramar em lágrimas,limpo meus olhos e começo a dar risada.

_ É piada né ? Tá,não tem graça -  pego impulso para me levantar da mesa mas Jenny segura em minha mão.

_ Eu sinto muito Jenny,ele se matou. - vejo suas lágrimas caírem. - eu participei de algumas sessões dele,desde que comecei a estagiar no consultório,hoje de manhã os pais deles avisaram sobre o ocorrido. -chora.

Meu rosto já estava coberto de lágrimas , eu não podia acreditar , eu precisava vê-lo,como ele teve coragem de fazer isso comigo ? Jenny se levanta e minha mãe também as duas me abraçam e eu as aperto forte,nada era capaz de amenizar a dor que eu estava sentindo naquele momento.

_ O velório vai começar ao meio-dia . - Jenny anunciou - vamos nos apressar.

Fui para meu quarto,me troquei,colocando uma blusa  preta de manga comprida,uma calça jeans da mesma cor e um par de tênis pretos que tinha,peguei meu maço de cigarros o esqueiro,meu celular e as chaves de casa e coloquei tudo em uma bolsa preta que tinha. Quando voltei a  sala, minha mãe e Jenny já estavam prontas. A coisa mais difícil nesse momento era conter a vontade de chorar,mas me segurei até chegarmos no local do seu velório.

Minha mãe dirigiu e dentro do carro minha ficha ainda não tinha caído,meu peito doía e só conseguia pensar no dia em que Anthony salvou minha vida em cima da roda gigante. Paramos em frente a uma igreja enorme de cor branca,tinha muitos carros parados a frente e algumas pessoas com seus trajes elegantes e pretos. Saímos do carro,e nesse momento paralisei olhando para a grande porta da igreja,eu sabia que no momento em que eu pisasse o pé lá dentro,tudo seria verdade e eu não teria como fugir. Jenny pegou em minha mão e me olhou docemente, respirei fundo,abaixei a cabeça e entrei na igreja logo atrás de Jenny,ignorando todos os olhares que voltaram - se para mim.

O interior da igreja era branco,o chão de madeira e tudo cheirava a flores, o que me parecia ainda mais triste,no altar havia o caixão de Anthony,fechado,caminhei devagar olhando para as outras pessoas que estava sentadas no banco,vi a mãe de Anthony sentada no primeiro banco de mãos dadas com seu marido e com a outra segurava um lenço para secar suas lágrimas,ver ela assim me despedaçou ainda mais,minha mãe,Jenny e eu,nós sentamos no terceiro banco,eu precisava ver Anthony,não tive tempo de me despedir,agora entendo porque sua última mensagem veio regada com um pedido de desculpas, me levantei indignada,não sabia exatamente o que iria fazer,mas não suportava toda aquela dor. Fui até o caixão de Anthony,me ajoelhei e comecei a chorar, aquilo tudo era demais pra mim,senti uma mão em meu ombro e  virei o olhar dando de cara com a mãe dele,ela se ajoelhou ao meu lado e me abraçou, não nós falamos muito mas ela já tinha me visto na casa dela.

Minutos depois um padre começou a falar algumas palavras tentando trazer conforto a todos os familiares que estavam ali,eu e a mãe de Anthony nós levantamos e ela pediu para que eu me sentasse ao seu lado no banco da frente,nós sentamos e enquanto o padre falava,abaixei a cabeça.

Quando o velório terminou,me sentia esgotada a mãe de Anthony estava deitada em meu peito,eu não aguentaria ir ao enterro,não seria capaz de ver o caixão descer,mas fui assim mesmo.

Durante o enterro,a mãe de Anthony falava algumas palavras para o filho,o tempo fechou e logo começou a chover ,apressando ainda mais para que descesse o caixão,a mãe de Anthony vejo até mim e me abraçou,uma mulher que deveria ter seu trinta a quarenta anos,estava com um vestido preto,usava um vel e um batom vermelho  muito chamativo,parou ao meu lado e falou algumas palavras  enquanto o caixão descia, apesar do barulho da chuva e da sua voz trêmula e baixa,estávamos perto o suficiente para que eu pudesse à ouvir.

_ Agora eu agradeço por ela não está aqui,ela não aguentaria ver você partir. Descansa em paz,meu filho.

Isso me abalou e suas palavras ficaram na minha mente, à quem ela estava se referindo? Fiquei alguns estantes me perguntando,até que ela se aproximou de mim e começou a falar :

_ Ele era um menino tão doce,sempre me levava flores quando ia em casa ver minha filha.

_ Ele foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

Disse isso e o silêncio reinou novamente,minha mãe precisava descansar,era o segundo enterro que ela ia só essa semana,ela foi pra casa e Jenny ficou comigo. Todos já tinham ido e eu continuava lá,parada em frente seu túmulo,enquanto minhas lágrimas se misturavam a chuva.

MARTE VIVE EM MIMOnde histórias criam vida. Descubra agora