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ANAHÍ

Alfonso havia dito que não sabia dançar. Mas depois constatei: se o cara se movia assim sem saber dançar, imagine o que faria depois de algumas aulas! Aquilo foi melhor do que a maioria das minhas experiências sexuais até então.

Sempre gostei de homens que sabem se mexer.
Naquela noite compreendi por que a salsa é tão fascinante. É uma dança que diz: "Esqueça o amanhã, vamos festejar!" E foi exatamente o que fizemos, entregando-nos exclusivamente ao prazer do momento.

A única coisa que nos fez abandonar a pista de dança foi o dress code da casa: ali não era permitido dançar sem roupa.

Assim, chapados de tequila, saímos pela noite e nos jogamos dentro de um táxi. O banco de trás era suficientemente espaçoso, mas, quando dei por mim, estava sentada no colo de Alfonso e ainda rebolava ao ritmo da salsa.

Chegamos ao hotel e corremos escadaria acima até o meu quarto. Ali já não se tratava mais de uma encenação. Mais tarde, para fugirmos do calor escaldante do quarto, nos embrulhamos nos lençóis amarfanhados, subimos até o telhado e nos sentamos no beiral, balançando as pernas no ar. A brisa era um verdadeiro bálsamo, e as nuvens deram lugar a um caótico manto de estrelas.

Era como se fôssemos anjos, encarapitados numa nuvem a muitos quilómetros da Terra.
Lá embaixo, na rua, uma pequena multidão havia se juntado para assistir a um velho filme preto-e-branco, projetado sobre uma parede cravejada de balas. Um dos meus favoritos: Ginger Rogers e Fred Astaire, com mais de cinco metros de altura, dançando como se fossem duas metades de uma mesma pessoa.

E foi assim que me senti quando Alfonso me apertou em seus braços.

Na manhã seguinte, acordei com a luz do sol sobre meu rosto. Sentindo dores por todo o corpo — depois de tanta dança e de todo o resto —, espreguicei os braços, profundamente agradecida por estar viva. E mais feliz do que havia muito não me sentia. Talvez mais do que nunca.

Virei na cama, tateei o outro lado e... Nada além de um amontoado de lençóis.

Suspirei. Uma noite de sonhos ou apenas um sonho bom? De um jeito ou de outro, foi bom enquanto durou. De um jeito ou de outro, foi-se embora com a manhã. Fazer o quê...

Estava acostumada a ficar sozinha. Sempre andava sozinha. Era assim que eu vivia a minha vida. Por opção. Mas tinha sido bom pensar de outra forma por uma noite. Recostei-me novamente no travesseiro e tentava recuperar uma partícula que fosse do meu sonho maravilhoso quando ouvi uma chave girar na fechadura. Sentei-me na cama e cobri o corpo com o lençol. Seria a polícia de novo? A porta se abriu e lá estava ele. Alfonso. Tão real e esplendoroso quanto na noite anterior.

— Olá, forasteiro — eu disse.

— Olá pra você também.

Ele caminhou até a cama, os olhos sempre fixos nos meus. Trazia presentes: uma xícara fumegante de café e o jornal da
manhã.

— Acho que os camareiros fugiram — ele disse — Fiz o que pude.

Dei um gole no café, e ele jogou o jornal em cima da cama.

— Mmm... Café con leche. Muito bom.

— Espero que sim. Tive que ordenhar a cabra com minhas próprias mãos.

Eu ri e disse:

— Um homem capaz de arriscar a vida por uma xícara de café... Impressionante.

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