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ANAHÍ

Cortar a linha fora um risco calculado.

Mas eu não tive escolha! Estava dependurada sobre as garras da morte carregando um peso extra — meu quase ex- marido. Tinha de fazer algo drástico caso esperasse sair viva daquela situação.

Assisti a um retrospecto de minha vida inteira num único instante. Fui salva pela lembrança da imagem de um trapezista que vi quando criança. Se eu queria sobreviver não poderia pensar em seguir correndo em direção a um prédio, deveria acreditar que eu era um artista aéreo seguindo reto a uma plataforma — quem sabe até ouvir a música do circo, sentir o cheiro da pipoca, dos elefantes...

Topei no parapeito de uma varanda um milésimo de segundo mais tarde — cheguei a sentir os pombos abrindo espaço enquanto eu pousava.

Sã e salva! No mesmo momento me virei para ver como havia ficado meu... adversário.

Quando o vi, perdi o fôlego.

Juro. Passei seis anos com um homem que acreditava merecer um prêmio por sua habilidade de beber enquanto dirigia
um carrinho de golfe, e que o prémio deveria ser uma nova rodada de drinks servidos à beira da piscina do clube. O homem que voara pelos ares como um Tarzã dependurado em cipós não podia ser o meu marido.

Incrível. Eu sei: não é nada fácil voar pelos ares encarando uma vidraça pela frente. Mas ele sabia o que estava fazendo — eu assisti à manobra.

E não acreditei no que vi quando ele ficou de pé após um único e breve movimento. Céus! O que eu estava fazendo? Eu não deveria estar admirando este homem, suas habilidades ou seu físico. Ele era um mentiroso, uma fraude.

Chicoteei minha linha kevlar, enrolei-a no meu ombro e fui abrir a porta da varanda. Eu tinha de sair dali o mais rápido possível e reencontrar minha equipe.

Maldito! Espero que ele não tenha sentido o que senti enquanto estávamos dependurados. Nem farejado meu medo. Não meu medo de cair ou de morrer.

Meu medo dele.

Por Deus... esses momentos sob as estrelas...
Foi uma das melhores noites que passamos juntos em vários anos. Eu não sabia quem era aquele maldito homem armado e perigoso, e não carregava nenhuma arma capaz de me proteger dele.

ALFONSO

Mais uma vez busquei refúgio na casa de Christopher, onde andava de um lado para o outro como um tigre enjaulado. As artérias latejando com a adrenalina, os músculos crispados, prontos para darem o bote — a conhecida síndrome da "luta ou fuga".

Mas lutar com quem? Fugir do quê? Da minha própria vida ao longo dos últimos cinco anos?

Eu estava paralisado. Subjugado pela intensidade de emoções conflitantes, eu não conseguia enxergar direito", não encontrava nenhuma explicação. Sabia apenas que precisava cobrir alguém de porrada.

Para piorar as coisas ainda mais, Christopher estava mais intragável do que nunca.

— Você está dizendo que...

Ele se refestelava no sofá da sala, vestindo um roupão de banho e fumando um cigarro atrás do outro, enquanto eu examinava uma pilha de entulho carbonizado que eu havia surrupiado do escritório de Anahí — Está dizendo que poderia ter atirado à queima-roupa e não atirou?

Eu não queria falar sobre o assunto. Então continuei a trabalhar, vasculhando aquele entulho em busca de... do quê mesmo? Sei lá... de alguma coisa. Algo que pudesse dar sentido à história toda.

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