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ALFONSO

Quando apareci na lanchonete, Christopher estava tão entretido com a montanha de comida à sua frente que sequer notou minha presença.

Só me viu quando levantou a cabeça do balcão para conferir a bunda da garçonete.

— Alfonso! — ele disse. — Puxa, até que enfim!

— Bom dia, Christopher.

Ele me pegou pelo braço e foi logo perguntando:

— E então, eliminou a perua?

Fiz um sinal para ele, indicando que não estávamos sozinhos. Sentada no banco ao meu lado, Anahí sorriu para Christopher com uma gentileza que ele certamente não merecia.
dizer...

Acho que foi a primeira vez que vi o cara enrubescer.

— Bem, deixa eu me corrigir...

Mas Anahí foi direto ao assunto.

— Christopher , nós temos um probleminha.

— Não, não — ele retrucou com sarcasmo. — Os viciados em crack têm um probleminha. Vocês dois... Como posso — Christopher girava a mão no ar como se procurasse palavras para descrever um vinho raro. — Vocês dois estão fodidos!

Não era exatamente isso que eu gostaria de ter ouvido.

— Pode ser — falei.

— Pode ser? — exclamou Christopher. — Todo o nosso pessoal está atrás de você, cara! E provavelmente o pessoal dela também!

— Mas você, não — observei.

Christopher balançou a cabeça e voltou a atenção para a bomba calórica à sua frente.

— Hoje estou fazendo uma espécie de operação tartaruga, se é que você me entende — ele resmungou. — Pelos velhos tempos. E você me deve uma grana, eu acho.

A garçonete parou ao nosso lado e, sorrindo ao mesmo tempo que mascava uma bolota de chiclete, perguntou:

— E aí, vão pedir alguma coisa?

— Um waffle com manteiga e a metade de um mamãozinho — respondi. — E algumas torradas de pão de centeio para
a senhorita.

— Bem douradinhas, por favor — acrescentou Anahí.

Christopher levantou sua xícara.

— E pra mim um pouco mais de...

Mas a garçonete já tinha ido embora. Talvez já soubesse da sovinice de Christopher para as gorjetas.

Anahí colocou a mão esquerda sobre a minha — um gesto delicado e manso —, e pela primeira vez percebi que ainda usava nossa aliança de casamento. Senti um repentino aperto no coração. Virei-me para Christopher e disse:

— Você não acha que se a gente pedir desculpas eles dão o nosso emprego de volta, acha?

— Se ela trabalha para quem eu desconfio que ela trabalha... — Christopher olhou para Anahí à espera de uma confirmação. Ela confirmou com um gesto da cabeça — ...então você é Coca-Cola e ela é Pepsi. Árabes e judeus. Tom e Jerry — Christopher estava claramente preocupado. — Quando alguém sai do controle deles, aí não tem mais volta.

— Então o jeito é fugir — disse Anahí sem mais nem menos.

Eu já havia pensado naquela possibilidade. Mas, no nosso mundo, fugir não era lá uma coisa fácil de fazer.

Mr & Mrs Herrera Onde histórias criam vida. Descubra agora