15

373 21 7
                                    

ALFONSO

Christopher é meio lento para algumas coisas, mas naquela noite foi rápido no gatilho ao me aconselhar. Depois de ouvir toda a história em detalhes, repetiu "eu te disse" um milhão de vezes (tudo bem, eu tinha feito por merecer) e depois sentenciou:

— Apaga a mulher.

Ouvi aquilo, ainda bufando de raiva, e imediatamente percebi que não havia outra coisa a fazer.

— Isso mesmo. Você tem toda razão. Vou apagar a vadia — dei um soco no ar, a título de ênfase.

— Assim é que se fala, amigão — disse Christopher. — Agora está pensando com a cabeça.

Precisei afastar um pote de biscoitos, uma fatia de queijo cheddar quase podre e um vidro de mostarda aberto para pegar uma pistola automática sobre a bancada da cozinha. Pela primeira vez na vida fiquei feliz por Christopher ser tão desleixado.

— Vou levar isto aqui emprestado, pode ser?

Christopher fez que sim com a cabeça, com total naturalidade, como se eu tivesse pedido para filar um cigarro. Com a arma na mão, e pilhado de adrenalina, irrompi porta afora.

Exterminador "macho paca" saindo em missão... para matar a própria mulher. Mas alguma coisa no ar fresco da noite parecia me dizer: "Segura a onda, cara."

Talvez fossem as estrelas. Talvez fossem as vozes esquizofrênicas na minha cabeça. De um jeito ou de outro, não conseguia encontrar forças para atravessar o jardim de Christopher. Fiquei ali, parado, como se tivesse encurralado por uma espécie de cerca elétrica psicológica.
Estava cansado. É, era isso, eu estava cansado.
Resignado, voltei para a casa e entrei.

— São quatro da matina — expliquei a Christopher — Amanhã eu acabo com ela.

— Tá certo, tá certo — ele concordou —, amanhã você acaba com ela. Já é tarde. — Christopher tomou a arma das minhas
mãos. — Quer dormir aqui?

Pensei em dizer "Não, vou dormir em casa", mas logo me dei conta de que não tinha mais uma casa para onde ir. Então aceitei o convite de Christopher.

Subitamente tomado de uma exaustão física e mental, joguei-me num sofazinho surrado da sala, pequeno demais para me acomodar por inteiro. Christopher pegou um cobertor, um cobertor de criança, bordado com gatinhos e vários arco-íris. Supus que tivesse sido dele um dia, pois notei que meu amigo relutou um pouco antes de entregá-lo.

— Boa noite, Christopher — eu disse, desmaiando logo em seguida.

— Boa noite, Alfonso - ele disse. Só então ele largou o cobertor e apagou as luzes.

Deitado ali — o cobertor cobrindo apenas metade do meu corpo —, eu pelejava para encontrar uma posição confortável quando senti um volume debaixo da cabeça.

Passei a mão sob o travesseiro e comecei a tatear. Por fim encontrei uma automática calibre 45, aninhada debaixo da almofada do sofá. Ah, Christopher... como minha mãe costumava dizer, ele só não perdia a cabeça porque ela estava grudada no pescoço.

Bocejando, deixei a arma cair no chão e depois tentei me entregar definitivamente ao sono.
"Amanhã", prometi a mim mesmo, "amanhã eu cuido de tudo".

ANAHÍ

Ah, minha linda casinha...

Minha equipe esquadrinhava todos os cómodos, virando tudo de cabeça para baixo. Tive de morder a língua para não gritar: "Parem! Parem!" Era a casa com a qual eu havia sonhado desde menina. Bairro bom, rua boa, quintal grande. Dentro, tudo era espaçoso e bonito. Carpete grosso. Xícaras de porcelana enfileiradas numa prateleira. Geladeira sempre estocada com o que há de melhor. E um lindo quarto compartilhado com um marido lindo, o marido dos meus sonhos.

Mr & Mrs Herrera Onde histórias criam vida. Descubra agora