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ALFONSO

Os faróis do meu carro iluminaram a fachada de casa, o jardim, a garagem. Coisas para as quais eu sequer olhava mais, tudo tão familiar. De repente, aquela casa perfeita, num dos melhores subúrbios de Nova York, pareceu-me o cenário de um novo seriado de TV chamado "Essa vida que não é minha".

Apaguei os faróis e olhei para a casa por um instante, com apenas uma pergunta em mente: que diabos Anahí serviria no jantar daquela noite?

Quando tentou me matar naquela montanha, será que sabia que era eu, o marido dela, quem estava ali? Ou achou que eu não passava de um agente inimigo que se metera no caminho dela? Será que ela sabia sobre mim? Será que sabia que eu sabia sobre ela?

Meu Deus, como isto era possível: duas pessoas morarem na mesma casa, com tantos segredos importantes, e sequer suspeitarem da verdade?

Olhei pela janela da cozinha.

Nenhum sinal da minha querida esposa. Estaria ela planejando um jantar ou um assassinato?

Ao mesmo tempo apreensivo e furioso, forcei a aliança no dedo e abri a porta do carro. A dobradiça chiou. Um cachorro latiu ao longe. Arbustos farfalhavam próximo à porta da frente. Naquela noite, minha casa adorável parecia incrivelmente ameaçadora, semelhante a uma linda mulher com ideias malignas na cabeça.

Totalmente alerta, segui pela calçada e abri a porta da frente. Com cautela, pisei no hall de entrada, uma das mãos carregando a maleta e a outra no bolso da calça, onde eu guardava minha coragem.

Estou falando da arma, e não da bebida.

Deixei a porta se fechar sozinha e segui em frente, olhos atentos para qualquer movimento.

— Timing perfeito.

Pulei de susto, e quase mandei bala no meu próprio pé. Anahí. Ela havia surgido do nada, sorrateira e fatal. Vestida para matar, por assim dizer. E trazendo nas mãos dois
martínis gelados.

A mulher perfeita. Como nos velhos tempos. Como se o universo inteiro não tivesse virado de cabeça para baixo desde que eu havia deixado aquela casa pela última vez.

Olhei para os drinques e disse:

— Isso é novidade... — Anahí vivia no meu pé por causa da bebida.

— Uma novidade boa, eu espero — ela disse, com um sorris o sedutor. Depois empurrou a taça de cristal na minha direção, e, por mero reflexo, tirei a mão do bolso para pegá-la. Do bolso onde estava a arma.

Coincidência? Ou truque esperto de uma assassina experiente? Ela ofereceu os lábios para um beijinho.

Beijei-a como de costume, mas sem fechar os olhos. E então notei. Ela também não fechou os olhos.

— Voltou mais cedo — falou. Um desafio.

— Estava com saudades.

— Eu também.

Seria imaginação minha ou teria ela rapidamente espiado o curativo na minha orelha? Mas Anahí não disse nada e, com o queixo, apontou para a sala de jantar.

— Vamos?

— Après vous — eu disse, o perfeito cavalheiro.

Com um leve movimento dos ombros, Anahí virou-se e seguiu na minha frente. Deixei que meus olhos passeassem pelo corpo dela, à procura de alguma pista, talvez de armas. A primeira vez, em muitos anos, que de fato a enxergavam.

Verdade seja dita: aquele vestido revelava muito mais do que escondia. Nenhuma arma a bordo. Pelo menos do tipo convencional. Decerto eu teria me deleitado mais com a paisagem não fosse o receio de que, a qualquer minuto, Anahí pudesse estourar os meus miolos.

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