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ANAHÍ

Alfonso e eu nos casamos no cartório municipal. Não podíamos esperar mais. Maite foi minha madrinha, e Christopher, o melhor amigo de Alfonso, compareceu como padrinho dele. Ambos pareciam fulos da vida. Mas já havíamos notado.

Quando Alfonso colocou a aliança em meu dedo, nossas mãos estavam trêmulas. Foi a primeira vez em minha vida que alguém me prometeu alguma coisa.

— ...se alguém souber de algum impedimento que torne ilícito ou inválido este matrimónio — disse o juiz — Fale agora ou cale-se para sempre.

Vi Maite morder a própria língua e fiz uma careta de advertência em sua direção. Ah, se ela ousasse abrir o bico...

ALFONSO

Christopher quase explodiu quando ouviu o tal "fale agora ou cale-se para sempre". Precisou reunir todas as forças de que dispunha para ficar calado. Ainda achava que eu tinha ficado maluco. Mas eu já havia dito que somente o chamaria para padrinho se ele prometesse não fazer nenhuma bobagem.

E ameacei cobri-lo de porrada se não se comportasse direito. Só assim a cerimónia pôde chegar ao fim.

Minhas mãos tremiam quando coloquei a aliança no dedo de Anahí, mas ela simplesmente resplandecia. E então o juiz disse:

— Eu vos declaro marido e mulher, sr. e sra. Herrera.

Sr. e sra. Herrera . Adorei ouvir aquilo. E quando ele disse "agora pode beijar a noiva", bem...

Nos beijamos até que os noivos seguintes — um casal de coreanos — começaram a reclamar.

ANAHÍ

A segunda tarefa que o dr. Wexler passou não me pareceu tão difícil assim. Portanto, não vou me esquivar dela também. O doutor gente fina quer que eu escreva sobre a minha vida de hoje. Então vamos lá...

Sou
Alfonso e eu somos
Alfonso e

Caramba, isso vai ser mais difícil do que eu pensava. Melhor escrever apenas sobre o que aconteceu ontem à noite.

Eu preparava o jantar, como na maioria das noites. O timer tilintou, e eu dei uma olhada no forno. Tudo parecia perfeito. Mas, é claro, nada estava perfeito. Seis anos é tempo demais. As coisas mudam. As pessoas mudam. Minha vida perfeita... não é exatamente perfeita.

Então continuo a me esforçar para que ela seja perfeita.

A casa, o jardim, a comida. Procuro me dedicar a tudo com a mesma ambição e competitividade que meu trabalho requer.

O jantar, por exemplo. Sou capaz de sair dançando pela cozinha, cortando legumes e distribuindo panelas como se fosse Jackie Chan. Sou capaz de planejar, organizar e preparar um jantar para cinquenta pessoas, um banquete que deixaria a Casa Branca roxa de inveja. E faço isso todas as noites, para duas pessoas.

Ontem, mesmo depois de um longo dia de trabalho, preparei um prato delicioso, arrumei a mesa, botei o vinho para gelar e cuidei para que tudo saísse à perfeição. Embora nada saísse à perfeição, nunca. O que mais eu podia fazer? Precisava continuar tentando.

Ouvi um carro se aproximar e vi a luz dos faróis atravessar a janela. Por que será que ultimamente fico tão nervosa quando Alfonso chega em casa? "Lembre-se de quem você é", disse a mim mesma. "É uma mulher inteligente e forte. Pode fazer tudo o que quiser." Peguei a faca de cozinha e fiz a lâmina rodopiar no ar antes de arremessá-la direto no suporte de madeira. Sim, eu era capaz de tudo, menos de salvar meu casamento.

Mr & Mrs Herrera Onde histórias criam vida. Descubra agora