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ALFONSO

Calados e azedos, saímos noite afora e dirigimos horas a fio até cruzarmos os limites da cidade. Mas ainda tínhamos trabalho a fazer e, portanto, tratamos de providenciar um refúgio. Seguindo as placas de uma estrada vicinal, chegamos a um motel de quinta categoria.

Escondemos as mãos algemadas de Benjamin com um casaco e entramos no lugar como se ele fosse um amigo com uns drinques a mais na cabeça. Não que alguém naquela espelunca fosse notar ou fazer alguma pergunta.

Uma vez no quarto, amarrei-o a uma cadeira no centro do cómodo. Um abajur sem cúpula acrescentava um toque especial ao cenário.
Fiquei de pé diante de Danz e alonguei os ombros doloridos da viagem, as mangas da camisa dobradas de modo a mostrar um pouco dos músculos. Eu não tinha muita prática com interrogatórios. Mas achei que era o caso de fazer umas perguntinhas.

Anahí, por sua vez, andava de um lado para outro, como uma tigresa enjaulada.

— Tudo em cima? — falei.

Havíamos decidido filmar a confissão do homem, apenas como garantia. Tudo em cima: a câmera já estava ligada e rodando. Optei pela concisão.

— Vamos lá, Ben. Desembucha.

Ben olhou direto para a câmera e disse:

— Ei, mãe! Olha eu aqui na televisão!

Não gostei nem um pouco da atitude do cara, mas tentei manter a calma.

— Olha aqui, cara. Você é o nosso passaporte para a liberdade. Perguntinha simples: por que os nossos chefes querem acabar conosco?

Esperei um pouco, mas Benjamin permaneceu mudo, com o queixo levantado numa postura de arrogância. Depois abriu um sorriso irônico.

Acontece que eu não tolero sorrisos irônicos.

Eu já estava começando a perder as estribeiras — o cara tinha feito pouco de mim, e ainda por cima na frente da minha mulher. Cutuquei-o na canela com a ponta do sapato e disse:

— Não vai falar? Pois bem, então presta atenção. Você presenciou uma pequena rusga entre marido e mulher dentro daquela van. Muito desagradável. Mas sugiro que não interprete isso como um sinal de fraqueza. Seria um erro lastimável da sua parte. — Virando os olhos para minha mulher, arrematei: — Certo, Anahí?

Anahí olhou para mim como se eu fosse de outro planeta.

— O que acha que está fazendo, Alfonso?

Irritado, respondi:

— Olha, querida. Talvez não seja uma boa ideia questionar os meus métodos na frente do nosso hóspede. Pode passar uma ideia errada.

Anahí franziu as sobrancelhas.

— Espero que os seus métodos sejam mais eficientes do que seu jeito de guardar a louça na máquina de lavar...

— Anahí, por favor. Sei muito bem o que estou fazendo. Você nunca me viu em ação.

Furiosa, ela virou as costas para mim e, com um tapinha no ar, deu o caso por encerrado. Mas eu não estava disposto a deixar que sua competitividade arruinasse o meu trabalho. Voltei a atenção para o nosso refém. Ele agora já ria abertamente de mim. Mas isso não duraria muito.

— Muito bem, Danz. Estas são as suas opções: opção A, você fala e eu escuto; opção B: você fica mudo e eu arranco as suas unhas comum alicate; opção C? — Sorri de maneira sinistra — Vou poupá-lo dos detalhes, mas você termina embrulhado num saco plástico no fundo do mar.

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