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ALFONSO

Caralho, com aquela voz ela podia virar uma superstar do sexo por telefone. Meu coração batia a mil por hora. Seria o perigo? A adrenalina? Ou quem sabe seria outra coisa?

Não parei para analisar meus sentimentos; sabia apenas que precisava meter as mãos no meu algoz antes que a noite chegasse ao fim. Só depois poderia parar um pouquinho e refletir sobre o assunto.

Um seda preto tinha acabado de estacionar junto ao meio-fio. O motorista passou a cabeça pela janela e ofereceu:

— Limusine, senhor?

Olhei o carro de ponta a ponta. Exatamente o que eu precisava. Minutos depois eu estava a caminho da auto-estrada, costurando o trânsito como um maluco. A mão esquerda no volante, o celular na direita. Digamos que eu tinha dado ao motorista uma noite de folga.

"Espero que ele não leve uma multa por minha causa", pensei.

Eu tinha um encontro, e nada nesse mundo me faria chegar atrasado. E dali a pouco a auto-estrada já se esparramava à minha frente, levando-me de volta ao que um dia tinha sido a minha casa. Onde minha adorável esposa esperava por mim, como sempre.

Mas não como sempre.

Minha mulher não era mais a mesma pessoa; talvez nem fosse mais a minha mulher!

Olhei para a rodovia.

Olhei de relance para o celular.

Olhei de volta para a rodovia.

— Foda-se — eu disse, e apertei um dos números da memória.

Claro que estava ligando para Anahí, para quem mais poderia ser? E ela não teve a menor pressa para atender.

— Ainda não chegou? — foi logo dizendo, sem nenhum "alô".

— Preciso saber de uma coisa — falei secamente. — A primeira coisa que passou pela sua cabeça quando me viu pela primeira vez.

Silêncio absoluto. Pelo menos uma vez na vida, nenhuma resposta, nenhuma piadinha inteligente. Ela estava desprevenida.

— Eu respondo se você responder primeiro — disse por fim.

"Ah, não, não vai ficar de sacanagem agora, não!"

Eu estava farto de jogar. Nosso casamento inteiro tinha sido um jogo. Queria, nem que fosse por uma única vez, deixar toda aquela encenação de lado.

— Você parecia uma manhã de Natal — respondi. — Não saberia como dizer de outra forma.

Achei que o silêncio fosse se estender por toda a eternidade. Depois: Por que está me dizendo isso agora?

— Acho que... — Meu Deus, por que será que eu estava fazendo aquilo? — Acho que, quando chegamos ao fim de alguma coisa, automaticamente pensamos no início dela.

Anahí não disse nada. O barulho do trânsito vazava pelo telefone. Com certeza estava dirigindo com a janela aberta. Eu
podia imaginar seus cabelos varridos pelo vento.

— Achei apenas que você devia saber a verdade.

Anahí continuou muda.

Dava a impressão de que tinha caído no sono.

Ou parado para reabastecer. Teria ouvido alguma coisa do que eu disse? Minha vontade era de gritar. "Fala comigo, Anahí. Porra, diz alguma coisa!"

— Então vai, fala — pedi. — Diz a verdade.

— Quando te vi... — a voz agora era suave, amena. — Achei que...

Mr & Mrs Herrera Onde histórias criam vida. Descubra agora