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ANAHÍ

Depois, do alto da escadaria e com as costas viradas para a parede, fiquei de ouvidos bem abertos, tentando ouvir passos, um revólver se armando, um estômago roncando, um arroto — qualquer coisa que denunciasse a localização do inimigo.

Então ouvi uma coisa e segurei a respiração. O barulho tinha vindo de baixo, talvez da sala de visitas. Um barulho estranho. Na verdade, um barulho muito estranho. O que poderia ser aquilo?

Clip... Clip... Clip...

Parecia o ruído de... um par de tesouras!

De repente algo rolou pelo chão e parou diante das escadas. Uma bola... não, uma cabeça! Tive de fazer um esforço para não gritar.

Depois vi o que era.

Meu urso! Alfonso havia decapitado o meu urso de pelúcia!

Como pôde fazer uma coisa dessas? Mas que ousadia a dele! Agora ele tinha realmente passado dos limites! Com ânimo redobrado, avancei na direção do inimigo. Mas depois ouvi aquele mesmo barulho outra vez.

Clip... Clip... Clip...

O que seria agora?

Retalhos de pano voaram pelo ar.

Abaixei o corpo e olhei através dos balaústres da escada. Não, ele não teria tido a coragem... Pois teve! Logo vi que tecido era aquele.

Que mente doentia!

Alfonso cortava minhas cortinas novas com um podão de jardim!

E com o entusiasmo de um maluco, falou:

— Agora — clip! — a gente não precisa mais — clip! — de um tapete novo! — Clip! Clip! Clip!

Então fiquei de pé e, com a sanha de um guerreiro troiano, abri fogo contra a sala de visitas, deixando aquele devorador de cortinas sob uma chuva de metralha.

— Anahí! — ele gritou. — Você é a minha outra metade!

O cara tinha mesmo perdido o juízo, já não falava coisa com coisa. Furiosa por causa das cortinas, desci as escadas o mais rápido que pude, metralhadora em punho. Mas assim que pus os pés na sala de visitas...

Wham!

Um abajur surgiu do nada e me acertou em cheio na cabeça. Assustada, tive de me apoiar na parede para não cair. Inacreditável! Alfonso havia me atacado com um abajur!

Será que não sabia quanto custava um abajur daqueles?

Antes que eu pudesse recobrar inteiramente os sentidos, Alfonso se jogou sobre mim e tentou arrancar a metralhadora das minhas mãos.

Então nos jogamos um contra o outro e, à base de muitos socos, mordidas e pontapés, começamos a lutar pela posse da
arma. A metralhadora cuspia fogo para todos os lados, arruinando o pouco que ainda sobrava da minha sala. Por fim, acertei uma cotovelada nò rosto de Alfonso, que acabou caindo.

Aproveitei a oportunidade para sacar simultaneamente duas pistolas, exatamente como faria o bandido de um western de Clint Eastwood. O espertinho pagaria caro pelas cortinas picotadas!

Mas antes que eu pudesse armar os gatilhos, o sacana enlaçou minhas pernas com o fio do abajur e me derrubou ao chão. Com a queda, minhas armas saíram rolando pelo chão.

Ofegantes, Alfonso e eu nos arrastamos para cantos opostos da sala. Tentei localizar um objeto qualquer que estivesse ao alcance da mão e pudesse fazer as vezes de uma arma. O trofeu de ouro!

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