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ANAHÍ

A verdade seja dita: eu já estava morrendo de medo. Fazia seis semanas que eu e Alfonso havíamos nos conhecido em Bogotá. Seis semanas! E agora ele queria me levar para jantar num lugar realmente especial, com uma recomendação: — Capriche na produção!

Então — alguém poderia perguntar —, você estava com medo do quê? Da parte que dizia respeito às seis semanas. Eu jamais havia tido um relacionamento que durasse mais de seis semanas desde que resolvera estudar piano, ainda nos tempos da escola primária. E as aulas não duraram mais que sete semanas.

Tudo o que é bom dura pouco. E com Alfonso não era apenas bom, era muito, muito bom. Então naturalmente tinha de acabar. E logo.
Era bem possível que aquela fosse a nossa última noite juntos. Então me vesti como se tivesse algo muito importante a celebrar. Ainda que corresse o risco de terminar a noite com
um brinde de adeus.

Poderíamos ter ido a pé, mas Alfonso insistiu que tomássemos um táxi, pois eu estava de salto alto. Suspeito que a preferência de Alfonso por táxis de algum modo tinha a ver com a nossa primeira noite em Bogotá.

Rapidamente chegamos ao River Café. Sugeri que bebêssemos tequila em homenagem aos velhos tempos, mas Alfonso pediu uma garrafa de champanhe.

— Mais adequado às comemorações — ele disse.

Sorri, piscando as pálpebras para limpar os olhos subitamente marejados. Bebemos o nosso champanhe, apreciamos a paisagem do rio, mas sobretudo ficamos olhando um para o outro. Havíamos pedido algo para comer, mas os pratos ficaram ali, intocados. Eu estava com fome, mas apenas dele. Acho que havia música; acho que algumas pessoas dançavam.

No entanto, assim como acontecera em Bogotá, não notávamos nada ao nosso redor, como se estivéssemos no olho de um furacão e o resto do mundo rodopiasse à nossa volta.

Desejei ardentemente encontrar uma maneira de fazer aquela noite durar para sempre. Talvez pudéssemos enlaçar a lua, montar em cima dela e viajar através das estrelas pelo resto da eternidade — e assim o sonho jamais acabaria.

Geralmente não dava asas a esse tipo de pensamento. Mas esse era o efeito que Alfonso produzia em mim.

E então ele levou a mão ao paletó. De início achei que procurasse uma caneta. Ou talvez um cigarro.

Mas em vez disso tirou do bolso uma caixinha azul-turquesa, cor tradicionalmente associada à joalheria Tiffany's. Eu não entendia o que estava se passando. Alfonso não disse nada. Apenas abriu a caixinha. E o mundo cintilou ao meu redor quando ele colocou uma aliança na minha mão esquerda. Alfonso me havia dado as estrelas — e uma noite que duraria para sempre.

ALFONSO

— Chega! — exclamou Christopher, meu melhor amigo e colega de trabalho.

No dia seguinte eu estava malhando com um treinador na academia de pugilismo que frequentava regularmente. Eu vinha contando a Christopher sobre Anahí, e ele não parecia satisfeito com o que ouvia.

— Você está o quê ?

— Apaixonado — eu disse.

Christopher olhou para mim como se eu tivesse levado pancadas demais na cabeça.

— Você conhece a garota... umas seis semanas!

Mas como poderia explicar a ele? Christopher trocava de mulher como trocava de meias.

— Essa garota, cara... ela é... ela é de outro mundo! É forte, é competitiva. Nem sei muito bem como descrevê-la.

Estou me sentindo...
Meti a cara no saco de pancadas.

ANAHÍ

- Não acha que está indo um pouquinho rápido demais?

No dia seguinte fui escalar com Maite, minha melhor amiga e colega de trabalho. Sempre considerei o alpinismo uma maneira excelente de manter a forma, mas naquele dia eu me sentia especialmente motivada e tinha de me esforçar para não deixar minha amiga para trás.

Mas ela não se referia ao meu ritmo de escalada. Referia-se ao meu relacionamento com Alfonso.

— Você me conhece — falei, olhando para baixo. — Não sou de me jogar nas coisas. Cuidado com essa agarra aí!

Maite se firmou na agarra e depois perguntou:

— Então, ele trabalha com o quê?

— Construção. Tem uma construtora, das grandes.

— Um peão de obra. Ótimo.

— E isso ainda não é tudo.

ALFONSO

- Ela trabalha com informática — eu disse a Christopher — Um servidor dá pau em Wall Street, e lá vai ela, faça chuva ou faça sol. É uma espécie de Batman dos computadores. Ou algo parecido.

ANAHÍ

— E na cama? — quis saber Maite.

ALFONSO

Com uma direita implacável, quase um rolo compressor, derrubei o meu sparring na lona. Christopher respirou fundo e disse.

— Tão boa assim, é?

ANAHÍ

Eu havia chegado ao topo do penhasco, e a vista era magnífica. Sempre tive disposição para os esportes; além disso, meu trabalho exigia que eu andasse sempre em forma. Mas jamais havia me sentido assim, tão cheia de energia. Talvez isso tivesse alguma coisa a ver com a malhação adicional que eu vinha fazendo com o Alfonso.

Mas Maite ainda estava muito abaixo na encosta, e ainda muito cética.

— Sexo é sexo — ela tentava me convencer. — Por que complicar as coisas com essa história de relacionamento? Você não teme, por exemplo, que seus horários de trabalho acabem se tornando um problema? — ela perguntou.

— Use aquela fenda à esquerda — sugeri. Na verdade, eu já ha via pensado no assunto. É claro que haveria algumas... complicações ocasionais. Mas nada que não pudesse ser resolvido. — Ele também viaja muito — expliquei. — Então isso não será um problema.

Ajudei minha amiga a subir ao topo. E ignorei a censura em seus olhos.

ALFONSO

— ... E você acha o quê, que vou sacrificar minha vida pessoal em nome do trabalho? — perguntei a Christopher.

Continuei a me exercitar com o treinador.

Minha resistência estava melhor do que nunca.
Sorri. Era de se supor que minha história com Anahí estivesse consumindo todas as minhas energias. Isso é o que se diz entre os esportistas. No entanto, o efeito era justamente o contrário. Nunca havia me sentido tão disposto quanto agora.

Jab, cruzado, esquiva..., jab, cruzado, esquiva...

Achei que pudesse repetir essa rotina por mais dez horas. Mas Christopher não estava convencido. Para ele, sexo não passava de algo para demarcar os limites entre café da manhã,
almoço e jantar. Sem ele, tudo se resumiria a uma única refeição.

— Isso vai durar seis meses, no máximo — ele disse. — Impossível durar mais do que isso.

— Pedi Anahí em casamento — confessei.

— Você o quê?!

— Vou me casar.

Christopher ficou tão assustado que acabou se metendo no caminho da luva do meu treinador. Caiu feito um saco de arroz sobre a lona. Jamais me perdoaria pelo susto.






O que estão achando? Essa história é maravilhosa!!! Não deixem de acompanhar!
Juro que vale muuuuito a pena! Tem muitas surpresas!
Postei uma maratona inicial pra vocês ♥️🥰

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