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Mais tarde, depois de conseguirmos passar a noite inteira sem cruzar caminhos em nossa casa enorme e perfeita, acabamos nos encontrando no quarto. Geralmente vamos dormir apenas quando já não é mais possível adiar o sono.

Às vezes subo para o quarto ainda cedo, quando Alfonso está trabalhando no escritório ou na sala. Ou quando está inventando moda no quartinho de ferramentas. Outras vezes fico acordada até tarde, procurando coisas para fazer na cozinha, ou assistindo a um filme antigo na televisão. Não raro chego a dormir no sofá — sem querer, é claro. Alfonso não me leva para o quarto; na manhã seguinte, diz que não queria me acordar.

No entanto, certas noites fico pensando: se a gente pudesse ir para o quarto juntos, e conversar... conversar de verdade... Mas isso nunca acontece. Hoje mesmo, eu já estava na cama, lendo um livro, quando Alfonso entrou, de pijama, e se deitou ao meu lado. Procurou se ocupar com o despertador, com as cobertas, com o travesseiro...

Fechei o livro, um sinal de que eu podia... ser interrompida. Para conversar. Para qualquer coisa. Mas, como eu já esperava, ele nem sequer olhou para mim. Fazia tempo que ele não se interessava mais por interrupções de qualquer natureza.

— Estou exausto — disse para as paredes.

— Eu também — emendei rapidamente. — Amanhã será um dia terrível.

— Boa noite, querida — Alfonso fez uma pausa, como se quisesse dizer mais alguma coisa, e eu esperei ansiosa. — Te amo — foi o que veio.

— Também te amo — repeti.

Quando foi que abolimos O sujeito dessa frase? Desde quando "eu te amo" deu lugar à abreviação "te amo"? Boa pergunta. Pensando bem, uma coisa não equivale a outra.

"E aí, tudo bem?"

"Tenha um bom dia." Te amo.

Frases vazias que as pessoas dizem sem pensar. Respirei fundo e apaguei o abajur ao meu lado. Alfonso apagou o dele. E nos acomodamos na escuridão. Fechei os olhos e tive a sensação de que estava completamente sozinha.

O que talvez fosse melhor.

ALFONSO

Bem, não é difícil imaginar o clima horrível que se formou no quarto depois daquele malfadado jantar. Quando entrei, Anahí já estava na cama, lendo. Esperei o máximo possível antes de me deitar, na esperança de que ela dormisse antes.
Mas eu estava cansado, muito cansado, e já não aguentava mais ficar de olhos abertos.

Vesti o pijama no banheiro e me enfiei debaixo das cobertas. Ela fechou o livro. Depois olhou para mim, como se esperasse alguma coisa.
Mas que diabos ela estava pensando? Quer dizer, para ser honesto... fazia muito que aquele quarto não era usado para outra coisa a não ser dormir. E depois daquela noite...

— Estou exausto — eu disse, ajeitando os lençóis. Tentando bocejar.

Ela simplesmente desviou os olhos e depois disse:

— Eu também. Amanhã será um dia terrível.

Parecia tão magoada que me senti um canalha. Mas eu não tinha a menor ideia do que podia fazer para remediar a situação. Achei que o melhor mesmo seria dormir e acabar logo com aquele constrangimento.

— Boa noite, querida — eu disse, forçando um pouco a barra — Te amo.

— Também te amo — ela repetiu.

Automaticamente. Como sem pre faz. Ela nunca diz "te amo" primeiro. Mas se eu
tomo a iniciativa, ela responde de volta. "E aí, tudo bem?"

"Tudo."

Mr & Mrs Herrera Onde histórias criam vida. Descubra agora