Capítulo 23

142 2 2
                                    

Sinto algo a fazer-me festas no cabelo, mas como ainda estou meia inconsciente não percebo o que seja. Calma. Meia inconsciente? Lentamente começo a despertar.  Nem dei por ter adormecido.  Ao abrir os olhos lembro-me  de onde estou. Levanto a cabeça e vejo que o Max está olhar para mim. Era a mão dele que estava no meu cabelo.
-Olá, dorminhoca.
Ainda estava encostada ao Max. Começo a endireitar-me. Estava cheia de dores no corpo, devido à posição que tomei para dormir. 
-Nem acredito que adormeci... - esfrego os olhos, como uma criança pequena ensonada. -Desculpa.
Ele chega-se para a frente, encostando as minhas costas ao seu peito, abraçando-me.
-Não faz mal, linda - dá-me um beijo no cabelo. -Estava a gostar de te ter a dormir colada a mim. 
Posso não estar a ver, mas sei que está a sorrir. Eu também gosto de dormir colada a ele. Sinto-me segura e em paz. 
-Ah, quase me esquecia. A tua mãe ligou, mas como estavas a dormir tão bem não te quis acordar. 
-Não tem mal - digo, enquanto vou passando as pontas dos meus dedos levemente sobre o seu braço.  -Eu ligo-lhe daqui a pouco. 
-Eu... Atendi.
Paro o que estava a fazer, desencostando-me do seu peito para o poder olhar. Estava à procura de algum indício de brincadeira, mas não havia nenhum. Não sabia o que sentir sobre aquilo.
-Ficaste chateada? - soa preocupado. -Desculpa, só não queria que ela ficasse preocupada ou algo do género.
Vá lá, Camila... Não faças um filme, ele teve as melhores intenções.  
Pela primeira vez em algum tempo, estou de acordo com a minha voz interior. Acalmando-o, sento-me à chinês à sua frente, colocando as minhas mãos sobre as suas.
-Não, não estou chateada - sorrio. -Obrigada por teres falado com ela. 
-De nada. Ela também só queria saber se estava tudo bem, mencionou uma tal conversa sistemática à hora de almoço.
Solto uma gargalhada.
-Sim, durante a semana, sempre que saio da faculdade, à hora de almoço, ligo-lhe só porque sim. É uma coisa que se foi tornando rotina. Hoje distraí-me. 
-Outra coisa. Já decidiste quanto àquilo com o teu pai? 
Fico hirta. Mas porque é que ele tinha de se lembrar disto? É óbvio que quero apresentá-lo ao meu pai, mas também não quero que ele se sinta obrigado a isso, nem quero estragar as coisas entre nós.
-Ahh pois, e-eu... - bonito... já começo aos engasgos.
O Max apercebe-se, mas deixa-me tentar acabar de falar.
-Eu, bem... Hm, não tenhas pressa - começo a rir nervosa. 
-Camila? 
Eu olho para ele. Ele sabe que estou a arranjar desculpas.
-O que é que se passa? - pergunta.
-Nada. 
Sem me aperceber, a minha mão direita sobe para o meu cabelo, começando a enrolá-lo por entre os dedos. Mais um indicador de mentira.
-Estás-me a mentir.
-Não estou.
Bolas. Mais uma.
-Camila. - o meu nome sai por entre os seus lábios num tom de aviso.
Ok, mais vale abrir o jogo. Ele não me vai deixar ir embora sem que lhe conte o que se passa.
-Ok, a verdade é que... Não sei se é isso que precises. Max, tu próprio disseste que queres ir com calma. Não quero que te sintas pressionado a nada. Quero que isto resulte - digo a última parte tão baixo que penso que ele não ouviu. 
Os meus olhos estavam vidrados nas minhas mãos que iam brincando uma com a outra. Por baixo das pestanas, discretamente, apercebo-me de que o Max se está a aproximar mais de mim. Com uma mão pega nas minhas, e com a outra levanta-me gentilmente o queixo de maneira a ficar a olhar-lhe nos olhos. 
-Camila... Tu não me estás a pressionar. Eu disse que faríamos aquilo que decidisses. Se eu não quisesse que me apresentasses ao teu pai dizia-te logo, não te andava a dizer para pensares e a perguntar, pelo menos uma vez por dia, se já tinhas decidido algo. Se há aqui alguém a pressionar alguém, talvez seja eu... Mas nem é por mal, é porque eu também quero que isto resulte, porque quero fazer tudo bem e porque, sinceramente, quero conhecer o teu pai - sorri. -Não me interpretes mal, sinto um bocadinho de receio por o ir conhecer, mas se é isso que queres, então vamos em frente.
Sinto que, naquele momento, mais um pedaço de mim se derretia por ele. Eu sou demasiado sortuda por o ter na minha vida. Estamos no mesmo patamar. Ele é especial, eu sinto isso. Sem qualquer resposta àquilo, decido esticar-me, levando os meus braços ao seu pescoço para o puxar para um abraço. O Max envolve-me também com os seus braços fortes, enquanto me dá um terno beijo na cara. Não querendo interromper aquele momento, estreito-o mais nos meus braços, enquanto me estico para mais junto dele. Sorrio. É aqui que quero estar. 
-Linda? 
-Sim? - digo, sem quebrar o abraço.
-Quando é que queres tratar disso então? 
Parece um bocado tímido ao fazer esta pergunta. 
-Não sei. Porquê?
-Acho que podíamos aproveitar já hoje...
Afasto-me o suficiente para o olhar.
-Quero dizer - apressa-se. -Se quiseres claro. É que amanhã já volto aos treinos e depois eu chego demasiado cansado... Não sei, sinto que podia ser hoje. 
Pego no pulso dele e olho para as horas. Ainda não passa das quatro da tarde. O que quer dizer que a minha mãe ainda não chegou a casa. Tentando encontrar o meu telemóvel, olho em volta da sala. Dou com ele sobre o braço do sofá atrás do Max. De gatas, inclino sobre ele para chegar ao telemóvel. Pode-se dizer também que foi uma tentativa de provocação. Volto a endireitar-me e começo a percorrer a lista de contatos até chegar ao da minha mãe, ligando logo de seguida. 
-Olá filha. Tudo bem? Já sei que foste almoçar com o Max.
Decido não quebrar o contato visual com ele. Tem uma certa graça, vê-lo meio perdido sem saber o que estou a fazer.
-Olá. Está tudo bem. Sim, vim - sorrio -Queria pedir-te uma coisa. Consegues fazer um jantar especial? 
-Especial? O quê? Hoje? 
-Sim. Achas que consegues?
-Bem, posso tentar. Mas o que é que vai acontecer de especial? - pergunta curiosa.
-Vou levar o Max a casa. 
No rosto do Max um sorriso começa a nascer. Consequentemente, um sorriso se formou nos meus.
Do outro lado da linha, a minha mãe está a fazer uma festa enorme. 
-Fico tão feliz por teres decidido isso! Ok, o que é que vou fazer para o jantar? Tem de ser algo especial - diz entusiasmada.
-Mãe. Calma, ok? - rio-me. -Tive aqui a pensar e podias fazer aqueles wok de frango e legumes. 
-Massa, Camila? Isso não é um jantar especial.
Pensando bem, ela até tinha razão, e eu não morria de amores por massa.
-Ok, e se for os brócolos com natas?
-Ok isso já me soa a algo mais interessante. Quando sair do colégio, passo no supermercado e compro as coisas. 
-Obrigada mãe! És a melhor do mundo. 
Despedimo-nos e desligamos. 
Mal desligo a chamada, sou apanha de surpresa pelo Max. Ele atira-se a mim, fazendo-me cair de costas no sofá. Ele está por cima de mim a dar-me imensos beijos pela cara. Rio-me perdidamente com a sua reação. Parece uma criança. Quando finalmente se cansa, olha-me nos o olhos e pergunta:
-Vamos mesmo fazer isto? 
Eu aceno com a cabeça, sorrindo. 
O Max sorri, mas logo cola os lábios aos meus dando-me um beijo apaixonado e ao mesmo tempo selvagem. 

O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora