Capítulo 24

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Estávamos ambos a mentalizar-nos do que ia acontecer assim que passássemos aquela porta. Parados à frente da porta de minha casa, o Max apertava a minha mão na sua, buscando calma. Mas de repente larga a minha mão e coloca-se à minha frente.
-Estou bem? - diz nervoso.
Pela quarta ou terceira vez, ajeito-lhe o colarinho do polo. Tinha decidido vestir um polo branco, que realçava a sua pele morena, e uns calções azuis escuros.
-Estás perfeito - digo sorrindo. -Estás pronto? 
O Max volta para o meu lado, pegando-me na mão. Antes de abrir a porta, estico-me para lhe dar um beijo na face. Finalmente, abro a porta. 
Ao entrarmos, a minha mãe aparece de imediato à porta da cozinha, aproximando-se de nós com um grande sorriso. 
-Olá! - dá um beijo a cada um. -Max, estás muito bem.
-Agradeça à sua filha, ela é que tratou da indumentária - riem os dois.
-O pai está na sala, vão lá.
Volto a pegar na mão do Max, olhando para ele. Ele sorri-me e acena, dizendo que está pronto. A minha mãe vai à nossa frente, entrando na sala e sentando-se ao seu lado. Quando apareço à porta da sala, o meu pai olha para mim.
-Olá filha. Então? Porque é que só chegaste agora? Algum trabalho da faculdade?
-Ah não. Eu estive com uma pessoa... Alguém que eu gostava de te apresentar. 
O Max ainda estava ao meu lado, mas fora do campo de visão do meu pai. Levantando o olhar para ele, sorrio-lhe.
Juntos avançamos para dentro da sala. 
-Pai, este é o Max. Max é o meu pai.
O meu pai está atónito ao ver o Max ali. Não é para menos... Não é todos os dias que a filha mais velha lhe apresenta o guarda-redes do seu clube, certo? 
-Muito prazer, senhor Oliveira.
O Max toma a iniciativa e estica a mão na direção do meu pai, que ainda está sentado no sofá a tentar assimilar tudo. Entretanto levanta-se, observando o Max. Ele olha para mim e depois para o Max. Minutos depois, que mais pareciam uma hora, o meu pai estende a sua mão para a do Max, apertando-a. 
-Alguém me explica porque é que tenho um guarda-redes na minha sala de estar?
Tento estudar o seu tom, para ver se está bem com este assunto, mas é difícil de perceber. 
-Bem, o Max e eu temos saído juntos. E eu...
-Espera aí - interrompe-me. - Saído juntos? Como assim?
A minha mãe levanta-se do sofá e coloca a sua mão sobre o seu ombro.
-Temos ido almoçar e passado tempo um com o outro. Temos estado a conhecer-nos - digo um pouco receosa.
-Mas porquê? - parece perdido. -Como é que vocês se conheceram? Contem-me lá tudo desde o início.
Isto está-lhe a fazer confusão. Talvez devesse tê-lo preparado para isto primeiro. Depois trazia o Max cá a casa. Ia começar a falar, mas o Max olha para mim e aperta-me a mão. Ele vai falar.
-Eu e a sua filha cruzámo-nos no parque de estacionamento do estádio, depois do jogo. Eu já tinha reparado nela, antes do jogo começar, e queria muito conhecê-la. E quando a vi ali, sabia que era a minha oportunidade. Desde aí que temos falado, e sempre que podemos estamos um com o outro. Este tempo que temos passado juntos, tem-me ajudado a conhecê-la, assim como ela a mim. E acredite que tenho gostado imenso de a conhecer - olha de relance para mim e sorri. -Ela é uma pessoa fantástica, linda e encantadora. As minhas intenções com ela são as melhoras. Só a quero ver feliz. 
Estou sem palavras para isto. Ele nunca para de me surpreender.
-Quer dizer que estão a namorar?
-Ainda não - diz o Max. -Quero fazer tudo direito com a sua filha. Por isso, agora limitamo-nos a passar tempo um com o outro para ficarmos a saber coisas um sobre o outro. Mas acredite que estou a dar tudo para isso. 
O meu pai parece estar a processar tudo o que acabou de ouvir. 
-Eu trouxe o Max a jantar cá a casa, para que possam ficar a conhecê-lo. Ele tem sido fantástico comigo. Não têm de se preocupar com nada. 
O meu pai continua calado. O Max e eu olhamos um para o outro, com receio do seu silêncio. A minha mãe está calada atrás do meu pai, com um ar meio preocupada. O meu pai levanta o seu olhar entre mim e o Max.
-Se magoas a minha filha, eu vou atrás de ti. 
O Max faz um sorriso forçado, mas sei que está intimidado, quando sinto a sua mão treme na minha. 
-Isso não vai acontecer, garanto-lhe.
-Isso quer dizer que não te vais opor? - pergunto.
-Tu és maior e eu confio em ti. Desde que tenhas juízo e que estejas bem, é o que me importa.
Largo a mão do Max e atiro-me para um abraço com o meu pai. 
-Obrigada pai. 
Finalmente, sinto-me como se tivesse tirado um peso de cima dos ombros. Agora os meus pais sabem, já não tenho que andar com receio que eles apareçam e nos apanhem. 
-Camila - chama a minha mãe. -Porque é que não vais mostrar a casa ao Max?
Eu e o meu pai separamo-nos.
-Sim, vou já tratar disso.
Com o Max atrás de mim, primeiro mostro-lhe o andar de baixo mais o jardim e depois subimos. Passei o meu quarto, pois ele já o conhecia, e bato à porta do quarto da minha irmã.
-Posso? - pergunto entreabrindo a porta.
-Sim.
Entro no quarto e dou com ela sentada na sua secretária, de costas para nós. Ela vira-se para ficar de frente para mim, e quando se apercebe de quem mais ali está, estaca.
-Tu és o Maximiano, não és? - pergunta de chofre.
O Max ri-se, pela sua reação.
-Sim, sou eu.
-O que raio é que fazes aqui? 
-Vim conhecer-te a ti e aos teus pais.
-Isso não está a fazer sentido nenhum... 
-Eu e a tua irmã temos saído juntos.
Ela esbugalha os olhos ao fitar-nos. Eu sei, parece mentira. Mas é a mais pura das realidades. Ela vira-se para mim.
-Ok, para lá a brincadeira mana. Não está a ter piada.
Eu começo-me a rir e o Max envolve-me com o seu braço.
-Não é mentira nenhuma. O Max e eu temos estado a conhecer-nos, desde aquele jogo a que fomos.
-Estás a gozar? - continua ela. Olha novamente para o Max. -Tenho pena de ti. Vais precisar de paciência para a aturar - diz entre risos.
Lanço-lhe um olhar fulminante, enquanto os dois se riem. 
-Acho que tenho paciência suficiente - dá-me um beijo na têmpora. 
-Piadinha que vocês os dois têm... - pego na mão do Max, e começo a puxá-lo. -Vamos, para te mostrar o resto da casa. 
Saímos do quarto da minha irmã e acabo de lhe mostrar o resto que faltava no primeiro andar. Assim que acabamos a visita, acabamos no meu quarto. Estávamos ambos na cama. O Max sentado encostado à cabeceira, e eu entre as suas pernas, apoiando as costas no seu peito. Como o jantar ainda demorava um bocadinho, decidimos ver um pouco de televisão. Estava quase a adormecer, enquanto o Max me ia acariciando o cabelo.
-Até correu bem - diz.
-Sim, mas ao início estava um pouco apreensiva com a reação que ele estava a ter - admito. 
-O teu pai estava a tentar assimilar a ideia... É normal.
-Bem, quem te ouvir falar até parece que nem estavas todo nervosinho - troço dele.
O Max começa a fazer-me cócegas e eu começo a rir-me como uma doida, enquanto me contorço debaixo das suas mãos.
-Para Max! Por favor, para! - mas ele continua.
-É para aprenderes a não troçares de mim. 
Quando dou por nós, eu estava deitada de costas no meio da cama e ele estava por cima da mim. Decide finalmente parar com as cócegas e, antes de sair de cima de mim, dá-me um beijo apaixonado. 
Mal ouvimos uma pancadinha na porta, separamo-nos e sentamo-nos em lados opostos na cama. A minha irmã entra e eu relaxo um pouco.
-Peço desculpa interromper os pombinhos, mas a mãe chamou para jantar.
-Ok, nós vamos já - respondo.
Ela sai do quarto, deixando-nos sozinhos de novo. Ponho-me de pé e o Max faz o mesmo. 
-Vamos então jantar? - pergunta.
Eu aceno. Ele dá-me a mão e começamos a avançar até à porta do quarto. Antes de sairmos para fora do quarto, paro e gentilmente puxo a mão do Max para o parar também. Ele vira-se para mim e fita-me.
-Estás mesmo bem com isto? - estou realmente preocupada, porque também não o quero apressar e arruinar tudo. 
Ele junta o seu corpo ao meu e prende-me num abraço contra si. 
-Estou. - Está com um ar seguro, e os seus olhos brilham de felicidade acompanhados de um sorriso. -Não estejas preocupada. Eu aceitei, não aceitei? Eu disse-te que estava de acordo e que não me importava, não foi? - volto a acenar a cabeça. -Então pronto. Respira. Está tudo a correr bem - faz-me uma sorriso tranquilizador.
Eu sorrio-lhe de volta e dou-lhe um abraço, querendo prolongar aquele momento. O Max esfrega-me as costas e dá-me um beijo no alto da cabeça. 
-É melhor irmos para baixo, antes que um dos teus pais venha cá acima e comecem a pensar coisas. Não quero causar má impressão - diz em tom de brincadeira.
Voltando a unir as nossas mãos, saímos do quarto para nos juntarmos com os meus pais na sala de jantar. Eles e a minha irmã já estavam na mesa. Sentamo-nos lado a lado, sendo que o Max ficou ao lado do meu pai.
-Espero que gostem do jantar. Foi preparado um pouco em cima da hora, - a minha mãe lança-me um olhar -mas acho que correu bem.
-De certeza que vai estar ótimo, dona Vera - o Max faz-lhe um daqueles sorrisos conquistadores. 
A minha mãe começa a servir os pratos, começando no Max e acabando em si. O meu pai e o Max estavam entretidos a falar sobre o clube, enquanto eu e a minha mãe íamos ouvindo a nova aventura da minha irmã lá na escola, que logo chamou à atenção do meu pai e do Max. 
Por alguns minutos, deixo de prestar atenção e olho em volta da mesa, como se estivesse a ver de fora. O que vejo deixa-me genuinamente feliz. Um jantar agradável com a minha família e o meu namorado. Quer dizer, quase namorado. Isso existe, sequer? Estou contente por os meus pais terem aceitado a minha situação com o Max, e estou contente por gostarem dele. É disto que preciso. Uma boa relação entre todos. 
O Max apercebe-se que estou mentalmente longe, e por baixo da mesa coloca a sua mão na minha coxa, apertando-a levemente. Olho para ele, e vejo os seus olhos a fitarem-me. Ele sorri-me, e eu faço-lhe o mesmo, mostrando-lhe o quão feliz estou por ele aqui estar.
-Max - chama a minha mãe. -Fale mais sobre você. Conte-nos como foi a sua ida para o Sporting.
Nós dois voltamos à realidade e olhamos para a minha mãe. O Max sorri e responde-lhe:
-Por favor, trate-me por tu - ri-se.
Ele começa a contar a história que me havia contado há uns dias atrás. Fico a observá-lo a falar, admirando toda a sua paixão de cada vez que conta a sua história. Vamos continuando a jantar, enquanto o ouvimos. 
O bom ambiente que se faz sentir aqui em casa vai-se mantendo. Interiormente, agradeço a todos os meus anjinhos por tudo estar a correr bem. Só desejava que, para que tudo fosse perfeito, ele também aqui estivesse.

O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora