Capítulo 26

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MAX

A hora estava a aproximar-se. Estávamos agora no campo a aquecer. Ia olhando para todo o lado das bancadas, esperando ver a Camila em algum lado. Podia querer fazer-me uma surpresa... Nunca se sabe. As mulheres são imprevisíveis. Infelizmente, não a vejo em lado nenhum. 
Volto a focar-me no aquecimento, tentando não pensar mais nisso. Tenho de me concentrar no jogo, não posso deixar que a equipa mal. Sorrio, ao lembrar-me da Camila a dar-me um responso das duas vezes que lhe disse isto. É engraçado vê-la toda exaltada, especialmente, quando ela é assim pequenina.
Max, para com isso. Concentra-te meu... 
O nosso treinador dá-nos um novo exercício, o que me traz, mais uma vez, de volta à realidade. Desta vez, de vez. Enquanto aquecemos, vamos fazendo conversa. O Renan estava a contar a nova aventura da filha mais nova dele, que tinha decidido reclamar porque a irmã não queria brincar com ela. O Diogo e eu íamo-nos rindo da situação, ao mesmo tempo que sentíamos pena do Renan por estar rodeado de mulheres. E a mulher dele estava grávida de novo! Ele está na esperança que desta vez seja um rapaz. Vamos descobrir o sexo do bebé no fim de semana, quando for o chá do bebé. Podia levá-la comigo. Lembrar-me-ei disso mais tarde. 
Pouco depois, acabamos o aquecimento e recolhemo-nos ao balneário para uma última conversa com o mister. Ele ia dando indicações e revendo mais uma vez a tática de jogo, enquanto eu ia fingindo que ouvia. De dois em dois minutos ia verificando o telemóvel para ver se tinha alguma mensagem. O ecrã continuava sem notificações dela. 
A equipa começa a levantar-se toda à minha volta, começando a formar uma roda no meio do balneário. Rapidamente pouso o telemóvel e junto-me a eles para fazermos o nosso ritual antes do jogo. Voltamos a afastarmo-nos para os últimos preparativos. Começo a arrumar as coisas dentro do saco. Quando ia a pegar no telemóvel para o arrumar, ele brilha assinalando uma nova mensagem.
"Bancada central, do lado da presidência. Logo nas primeiras filas. Boa sorte!"
Santo Deus, ela veio! 
Atiro com o telemóvel para dentro do saco o mais rápido possível, pego nas luvas e saiu para o corredor. Impaciente, espero em fila para entrarmos em campo. Só espero conseguir vê-la... Não esperava que ela viesse mesmo. Sim, as mulheres estão sempre a surpreender-nos, mas a Camila é diferente. Ainda por cima ela tem aulas amanhã. 
Começamos a caminhar para o relvado. Pego na mão do pequeno rapaz que me vai acompanhar até campo e começo a avançar. Estava a ficar nervoso demais. A minha respiração estava demasiado alterada, senti um enorme calor e as minhas mãos tremiam. Até o pequenote se apercebeu, pois quando peguei na sua mão ele olhou-me com um ar meio preocupado. Deve estar a pensar que me vai dar a travadinha mesmo antes de começar o jogo. 
Quando nos juntamos com os adversários de frente para a bancada, os meus olhos perscrutam cada pessoa na bancada à minha frente. Estava a começar a desesperar por não a encontrar, mas, entretanto, várias luzes brancas, que penso ser flashes de telemóveis, desperta a minha atenção. E ali estava ela, acompanhada pelos seus amigos. 
O seu sorriso aumenta, quando os nossos olhares se cruzam, o que, automaticamente, faz com que o meu cresça também. 
Naquele momento é como se tudo à nossa volta não existisse. Estávamos perdidos nos olhos um do outro, com sorrisos idiotas, mas apaixonados. Infelizmente, sou arrastado de novo para a realidade, pelo Bruno.
-Meu. Anda lá, onde é que estás com a cabeça? 
Antes de quebrar o contato visual com ela, pisco-lhe o olho e ela sorri. O Bruno acompanha o meu olhar, apercebendo-se qual o motivo da minha distração.
-Ah... Então, aquela é a famosa Camila. Já percebi tudo. Lamento muito ter estragado o momento, mas está na hora meu.
-Na boa, desculpa lá a cena. Vamos então, temos um jogo para ganhar. 
Todos nos metemos nas nossas posições e damos início ao jogo.

Estávamos agora nos últimos minutos de compensação e empatados zero a zero. Não era bom, mas ao menos não estávamos em desvantagem. Quando pensei que íamos marcar um golo para fecharmos em jogo em beleza, o Neto falha e o árbitro dá fim ao jogo. 
Juntamo-nos todos e avançamos até aos nossos adeptos para lhes agradecermos pelo apoio de hoje. Depois, recolhemos até ao balneário. 
Aos invés de pegar nas coisas para tomar um banho, pego no meu telemóvel e envio uma mensagem à Camila.
"Vais já embora, ou ainda temos um tempinho?"
"Espero por ti. Ainda não é muito tarde, por isso dá tempo."
"Ótimo. Quando estiver a sair digo-te."
Sorrio e meto o telemóvel de lado. 
Neste momento, só eu e o Bruno estávamos no balneário. Os outros já tinham ido para o duche. Aproximo-me dele.
-Mano, eu hoje não vou no autocarro com a equipa. 
-Então? Vais a pé? Pensei que ainda morasses longe. - olha-me de lado, com um sorriso maroto.
Como se ele não soubesse... 
-Vou com a Camila. Avisas os outros? 
-Na boa, mano. Agora vai-te despachar e não deixes a miúda à espera.
Ele dá-me uma palmadinha nas costas e eu pego nas minhas coisas e vou tomar um duche rápido. 
Por incrível que pareça, consegui-me despachar mais rápido do que os que já lá estavam. Não admira, estavam na brincadeira. Antes de me secar, endireito o equipamento, que costumamos usar depois dos jogos, para vestir. 
Entretanto, começo a ouvir uns salto a bater nos ladrilhos. Será ela? Oh meu Deus, se for, ela é doida. O som ia aumentando, à medida que ela se ia aproximando. Mas depois, não se ouve mais som nenhum. Ela está a li. Não me viro. Deixo-me estar a fazer as minhas coisas, como se não me tivesse apercebido. Volta-se a ouvir os sons dos saltos a aproximarem-se atrás de mim, e quando já a sabia perto de mim, viro-me apanhando-a de surpresa e prendendo-a nos meus braços. Mas ela não parecia nada surpresa, ao contrário de mim...
-Que raio é que estás aqui a fazer? - afasto-a de mim.
-Olá amorzinho fofinho. 
Mafalda. A rapariga que me partiu o coração há uns anos atrás. 
-Deixa-te de lamechices e diz-me o que estás aqui a fazer! 
Ela sorri, provocadoramente, e avança na minha direção. 
-Não precisas de ser bruto, querido. Vim fazer-te uma visita e quem sabe algo mais... - sussurra, enquanto vai passando as suas mãos pelos meus ombros, descendo até ao peito.
Agarro-lhe nos pulsos e volto a afastá-la de mim. Mas qual é a ideia dela? Pensa que faz asneira, desaparece durante um par de anos e depois volta para eu aceitá-la? Se for essa a sua ideia, está muito enganada.
-Não quero nada vindo de ti, a não ser distância.
Ela senta-se num dos bancos e cruza a perna, o que faz com que a sua saia suba um pouco mais do que já estava. Antes, deixava-me louco. A gora, não me afeta minimamente. 
-Não, não é isso que tu queres. Sei perfeitamente que ainda me amas, e que só estás com aquela mocita para me tentares esquecer.
-Calma lá, mas como é que tu sabes que tenho alguém? - pergunto escandalizado.
Ela volta a levantar-se a andar na minha direção.
-Eu sei tudo o que te diz respeito amorzinho. Já chega desta brincadeira de me tentares magoar - ela empoleira os seus braços em mim. - Vamos voltar. Não tens saudades de tudo aquilo que vivemos?
Desta vez, empurro-a para longe de mim.
-Saudades de quê? Das traições? Das mentiras? Das vezes que me fizeste de parvo? Não. Não tenho saudades. 
-Foi um erro fofinho. Eu não queria. Fi-lo sem pensar. Sabes que eu te amo. Só a ti. E eu sei que também me amas.
-Não amo. 
-Pensas que não. Mas talvez eu possa voltar a recordar-to. 
Dito isto, ela atira-se a mim e beija-me. Tento agarrar-me a alguma coisa, para não cair no meio do chão com ela em cima de mim. Tento afastá-la, mas ela persiste nisso. 
-Olá Max! Espero que não tenha mal em ter apa... 
Oh meu Deus! Camila. 
Volto a fazer mais força para tirar aquela louca de cima de mim, mas desta vez ela facilita a coisa. 
A Camila estava ali mesmo. A olhar para a cena que estava a acontecer à frente dela. Os seus olhos iam passando de mim para a Madalena. A sua reação estava a assustar-me. Não dizia nada, não se mexia. 
Aos poucos, lentamente, ia-me aproximando dela. 
-Camila - chamo, mas ela não olha para mim. Aproximo-me um pouco mais e quando lhe toco no ombro ela retrai-se. 
Os seus olhos viram-se para mim. Não gosto nada daquilo que vejo. Desilusão, mágoa, tristeza. 
-O que... O que é que se está aqui a passar? - diz com a voz a tremer.
-Calma - começo por dizer. -Não é nada do que estás a pensar. Ela veio aqui e começou a atirar-se e... - sou interrompido.
-Oh vá lá baby Max... Não vale a pena mentires à pobre da mocita. - Ela chega-se a mim e pendura-se no meu ombro. 
Sacudo-me e afasto-a de mim. Pego nas mãos da Camila, obrigando-a a olhar para mim.
-Não a ouças. Camila, eu nunca te faria nada disto, nunca te enganaria.
Ela não diz nada. Não consegue. Está a tentar assimilar tudo o que viu, mas não consegue. 
Quando pensei que as coisas não podiam piorar, os restantes elemento da equipa que ainda estavam no banho, começam a aparecer. Ao me verem com a Camila, param. Primeiro vê-se e ouve-se uns sorrisinhos, mas quando olho para eles e se apercebem do meu ar calam-se. O Bruno está a tentar perceber o que se passa para estarmos ambos daquela maneira. É quando olha por cima do meu ombro e vê a culpada disto tudo. 
Apercebendo-se de que tínhamos mais companhia, a Camila puxa as suas mãos das minhas e foge.
-Camila! - grito. 
Começo a correr também, mas logo sou parado pelo Bruno.
-Meu, calma! - tenta empurrar-me para trás.
-Larga-me porra! Tenho de ir atrás dela- vocifero.
-Tudo bem, eu percebo isso, mas não podes ir assim. 
Claro, não estava vestido. Tinha apenas a toalha à volta da cintura. Seria um bela história para os jornais... Mas, sinceramente, isso não me importa. Eu preciso de ir ter com ela e explicar-lhe tudo.
-Para já com isso meu. Conheço-te bem o suficiente para saber que estás disposto a ir parar às bocas do mundo para ires atrás dela. Mas nem penses que te deixo fazer isso. - volta a empurrar-me para dentro do balneário. -Vais vestir-te e depois vais ter com ela. Se bem que acho que a deves deixar agora sozinha para ela pensar. 
O Bruno tinha razão, mas eu não conseguia. Ela deve estar a pensar o pior de mim, que sou o maior filho da mãe à face da terra, que estive a brincar com ela. 
Volto de frente para o balneário e dou logo de caras com aquela tresloucada. Avanço sobre ela e pego-lhe pelo braço, arrastando-a pelo balneário fora. Ela vai-se queixando, mas eu não quero nem saber.  Abro a porta e atiro-a lá para fora.
-Nunca mais tenhas a decência de me aparecer à frente, porque da próxima vez não responsabilizo pelos meus atos. 
Ela ri-se ironicamente.
-O quê? Vais-me bater? 
Fecho as mãos com força ao lado do corpo e respiro bem fundo. Ela está a testar-me a paciência.
-Desaparece só daqui. Não te quero ver nunca mais - atiro com a porta sem lhe dar tempo para me responder.
Volto ao balneário e sento-me no meu lugar. Pego no meu telemóvel e marco o número da Camila. Ela não atende, claro... Já era de se esperar. 
Atiro o telemóvel para o lado e deixo a cabeça cair para a frente, pousando nas mãos. 
Estou lixado.


O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora