Capítulo 27

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Imagens do Max e da Mafalda juntos atravessavam a minha mente. Como é que ele tinha sido capaz? 
O meu telemóvel volta a tocar. Era a Cams. Certamente que ela estaria preocupada. Depois de ter saído a correr do estádio lavada em lágrimas, comecei a andar sem rumo pelo jardim que havia junto ao estádio. Decido não atender. Não quero falar com ninguém....
A Madalena era muito mais linda ao vivo, do que nas fotografias que vi dela no Instagram. Não era muito alta, mas tinha um logo cabelo castanho claro, uns olhos claros também e umas feições perfeitas. Podia muito bem passar por uma modelo.
O meu telemóvel toca uma vez mais, mas desta vez era Max. Tanto ele como a Cams não paravam de me ligar. Mais uma vez, deixo a chamada ir para o voicemail, mas o Max continua a insistir. Acabo por desligar o telemóvel, para ter um pouco de paz.
Fora um erro ter ido ter com ele ao balneário. Fora um erro ter vindo ao jogo. Fora um erro ter caído na cantiga dele...
Por mais que tentasse arranjar uma explicação plausível para aquilo que ele fez, não conseguia. Talvez o Duarte tivesse razão... Nunca me devia ter metido com alguém que mal conhecia.
Quando começava a sentir frio da noite e já não havia ninguém na rua, percebi que estava na hora de volta para casa. Ali perto estava uma paragem do autocarro e decido apanhar um, uma vez que não tinha outra maneira de ir para casa. Felizmente, não tive de esperar muito tempo por um. Durante a viagem vou ouvindo música. Desta vez, não coloquei nenhuma música dos Lawson, pois acabaria por me recordar a pessoa que mais quero esquecer. A viagem é rápida, mas ainda tenho de andar uns quarteirões para chegar a casa.
Quando desço na minha paragem, a música Donde Estabas Tú da Danna Paola começa a tocar. Desligo-me do mundo exterior e foco-me apenas na música que estava a tocar. As lágrimas voltam a assomar-me, mas eu tento evitá-las. Estou a andar há dez minutos, no máximo, e não se vê vivalma. Tenho a sensação que estou a ser seguida, mas de cada vez que olho para trás não vejo nada a não ser a sombra dos candeeiros. Porém, no exato momento em que há transição de música, ouço alguém atrás de mim:
-Olha, olha...
Dou um pulo, assustada, e olho imediatamente para trás de novo. Consigo ver três rapazes montados, cada um, numa bicicleta. Tinham capuzes na cabeça, o que me impedia de perceber quem eram. Comecei a andar cada vez mais rápido para me afastar deles, pois estava assutada com o cenário, mas um deles decidiu pôr-se à minha frente com a bicicleta, impedindo-me de continuar.
-Calma, boneca! Não te vamos fazer mal - diz. -Só queremos falar contigo.
Permaneço em silêncio e imóvel. Talvez me queiram assaltar, ou fazer algo pior.
-Eu não tenho dinheiro. Podem levar o meu telemóvel, se quiserem - digo apavorada.
-Tadinha... - riem em coro. -Não queremos as tuas coisas para nada.
-Então o que querem de mim? Quem são vocês? - pergunto.
Nesse momento começaram todos a aproximar-se de mim. Tentei correr, mas não havia escapatória possível. As lágrimas voltam a atacar, mas não pelos mesmos motivos. Estas lágrimas agora eram de medo e pavor.
-Não me toques! - grito assim que sinto as mãos de um deles nas minhas costas.
De repente, ouve-se um barulho de rodas a chiar no alcatrão. Levanto o olhar e fico encadeada com os faróis do carro. 
Graças a Deus! Alguém para me ajudar. 
Uma pessoa alta e com bom cabedal sai do carro e avança na nossa direção. Quando se mete à frente das fortes luzes brancas, o meu coração dá um pulo.
-Max! - exclamo, sentindo-me aliviada.
Os rapazes que me rodeavam, olharam para o Max e um deles chegou mesmo a fazer-lhe frente..
-Olhem só, chegou o cavaleiro branco - riu-se.
-Tens exatamente dois minutos para te pores daqui para fora com os teus amiguinhos.
Nunca tinha visto o Max assim. A sua expressão estava rígida, a sua voz baixa, mas sentia-se o ar agressivo. Os seus punhos estavam cerrados com tanta força que consegui ver os nós dos dedos a ficarem brancos.
-E se isso não acontecer? Vais me bater? Não sei se te apercebeste, mas estás em minoria.
O Max dá um passo em frente de maneira a ficar mais perto dele e respira fundo.
-Não tenho medo nenhum de ti nem dos teus amigos. Vocês são uns cobardes, por se meterem com uma pessoa que está sozinha. Não te volto a avisar. É bom que te ponhas a mexer daqui.
Os dois ficam frente a frente durante mais um bocado, como dois machos alfa a disputarem um território, mas nenhum deles se mexia. Até o rapaz da bicicleta fazer um movimento como se fosse dar um soco no Max. Porém, não teve tempo, pois o Max antecipou-se e deu-lhe um soco no maxilar e fê-lo cair no chão.
Os outros dois que estavam ao meu lado correram para acudir o amigo, mas ao verem o Max a aproximar-se e a pegar no amigo pela gola da camisola e levantá-lo afastaram-se com medo.
-Da próxima vez, ouve aquilo que te digo. Aliás espero que não haja uma próxima vez. Não gostaria de ter de acabar contigo.
O Max deixa-o cair e os três parvalhões, montaram as suas bicicletas e pedalaram para bem longe de nós.
Os meus sentimentos de revolta e extrema raiva não haviam desaparecido, mas foram abafados pela angústia do momento.
-Estás bem, princesa? - pergunta, aproximando-se e abraçando-me.
Deixo-me envolver pelos seu braços, sentindo-me segura. O meu corpo estava imóvel, sem qualquer pingo de reação. Ficamos abraçados durante algum tempo, até que decido quebrar a magia do momento.
-Como é que me encontraste? - pergunto com desprezo.
-Isso não é importante neste momento. Eles fizeram-te alguma coisa?
-Como é que me encontraste? - volto a repetir a pergunta.
-Camila...
-Max! Como é que me encontraste? - repito, agora mais alto.
-Localizei o teu telemóvel, contente?! - diz irritado.
Olho, incrédula, para ele.
-O quê?! - pergunto estupefacta. -Não tinhas esse direito!
-Mas ainda bem que o fiz! - diz tentando retomar o nosso abraço, não tendo sucesso. -Camila, ainda bem que eu cheguei. Sabe-se lá o que poderia ter acontecido.
-Agradeço-te por isso, mas não tinhas o direito de invadir a minha privacidade. Quem é que pensas que és? - berro.
-O teu namorado! - grita incrédulo.
Ao ouvir aquilo espanto-me. Era mesmo? Nunca se tinha referido como tal, e também não houve um pedido. Pensei que ainda estávamos na fase do "estamos a ver".
-Devias ter-te lembrado disso quando te meteste, novamente, com a Mafalda - digo com desprezo o nome dela.
-Não é nada disso! Eu queria explicar-te, mas tu fugiste.
-Querias o quê? Que ficasse ali a olhar para aquele espetáculo? Dispenso, tal como dispenso esta conversa.
-Camila, por favor... -tenta explicar-se novamente.
-Tenho de ir andando. Já é bastante tarde e amanhã tenho aulas - digo desviando a conversa.
-Deixa-me ao menos levar-te a casa.
-Não é necessário. Já não estou muito longe de casa e duvido que eles voltem.
-Não podes ceder só desta vez? - pergunta exasperado. -Simplesmente, para eu ficar descansado.
Suspiro e acabo por aceitar a sua oferta.
Durante, a curta viagem até casa, não abro a boca e o Max também não se tenta explicar de novo. Quando para em frente da minha casa, tiro o cinto o mais rápido que posso, mas quando vou para abrir a porta do carro, o Max pega-me no pulso fazendo-me parar.
-Quando estiveres mais calma, liga-me. Amanhã tenho o dia livre, e vou estar à espera. Nós vamos ter de falar.
Sem lhe responder, tiro bruscamente o meu pulso da sua mão e saio do carro, e entro em casa sem olhar para trás.
Tento abrir e fechar a porta o mais devagar possível para não acordar os meus pais, mas qual o meu espanto quando vejo a minha mãe a sair da cozinha toda acelerada.
-Felizmente estás bem!- avança para mim e beija-me a testa.
-De que estás a falar?
-O Max esteve cá em casa à tua procura. Ele explicou-me tudo o que aconteceu. Estávamos ambos preocupadíssimos contigo, então dei-lhe autorização para localizar o teu telemóvel.
-Foste tu?!
-Claro! Ele é respeitador demais para invadir a tua privacidade. Aliás vocês os dois têm muito que falar.
A sério? Só me faltava mais esta.
-Neste momento não me apetece, mãe. Está tarde e amanhã tenho aulas.
-Quando sentires que é o momento, fala com ele. Acho que o deves ouvir...
-Obrigada, mãe - digo, despedindo-me dela com um beijo na bochecha e indo diretamente para o meu quarto.
Atiro com a mala para cima da cadeira da secretária e pego no meu pijama. Troco de roupa e deito-me na cama, desejando que este dia acabe. Mas lágrimas voltam a transbordar dos meus olhos e acabo por adormecer a chorar.

O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora