Capítulo 25

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  MAX

Não conseguia deixar de pensar no jantar de ontem. Correu tudo tão bem! Os pais dela foram super simpáticos e acolhedores. A imagem da Camila a sorrir a noite toda não me sai da cabeça. Ela estava tão feliz por me ter apresentado aos seus pais. Adoro vê-la sorrir. Fica ainda mais bonita. Depois de me ter despedido de todos e agradecer pelo agradável jantar, vim diretamente para casa, pois no dia seguinte teria de me deslocar até Belém e treinar para o jogo à noite. 
Estávamos agora no autocarro da equipa, a seguir para o estádio do Belenenses. A equipa ia toda num frenesim a rir e a conversar uns com os outros. Desta vez, eu preferi manter-me sossegado no meu canto a ouvir a minha música, visto que a minha cabeça não pensava noutra coisa senão nela. 
A música dos MYA, Tu y Yo, começou a soar nos meus fones. Um sorriso começa a formar-se nos meus lábios. Desde que conheci a Camila que esta é umas das músicas que mais me faz pensar nela. Encosto-me à janela, fecho os olhos e deixo-me levar a recordar os momentos que já tivemos. Desde o primeiro dia, em que a apanhei a admirar os meus bem treinados glúteos, até ontem no jantar em sua casa. Com ironia, solto uma pequena gargalhada. Até parece que tudo isto aconteceu há semanas, e não apenas há uns dias atrás. 
Estava ainda a viajar por memórias, quando sinto alguém tocar-me no braço. Olho para o meu lado, e vejo o Bruno sentado ao meu lado. Tiro um fone e endireito-me no meu banco.
-Então mano? Estás aí todo calado.
O grandioso Bruno Fernandes é tão bom a perceber que algo se passa, como no futebol. É um dos meus melhores amigos e tem estado sempre do meu lado. Ainda não lhe contei acerca da Camila. Ainda não contei a ninguém na verdade. Acho que se guardar isto só para mim tem mais probabilidades de tudo correr bem. 
-Está tudo bem, estava só aqui entretido a ouvir música. - ...e a pensar nela.
Guardo essa última parte para mim.
O Bruno começa a rir-se e a abanar a cabeça. Como eu disse, ele não é burro nenhum.
-Vamos lá saltar a parte em que fingimos que eu não sei que se passa alguma coisa. Conta-me logo o que te anda a consumir. 
Talvez, se lhe contar só a ele, tudo permaneça como está certo? 
-Não vais desistir pois não? - pergunto, sabendo já a resposta.
-Já me conheces, mano - estica os braços para trás da cabeça e fecha os olhos.
Arrisco.
-É uma miúda.
O Bruno abre os olhos e logo se endireita no seu lugar. Não me admira o seu espanto. Depois do que aconteceu com a minha ex, a Madalena, e com meu antigo melhor amigo, toda a equipa foi muito prestável, mas o Bruno foi incansável. O Bruno é casado e tem uma menina, a Matilde, que é um anjo. Posso dizer que ele é o irmão que eu nunca tive. Pois... Fui abençoado por uma irmã, pouco mais nova que eu, que me dá cabo da cabeça. Mas não era disso que estávamos a falar. O espanto do Bruno deve-se ao facto de depois da Madalena, não ter querido mais ninguém. 
-Uma miúda? Graças a Deus! - diz, alto demais. Felizmente, ninguém ligou. -Já estava a ficar preocupado contigo meu... Passaram-se quê?  Dois anos? 
Ele refere-se à altura em que meti fim a tudo com a Madalena.
-Quase, sim... 
-Meu, conta-me tudo. 
Conto a curta história ao Bruno. Ele vai ouvindo a história sem interromper. É a primeira vez que conto tudo direitinho a alguém, e até me está a saber bem. 
-E pronto, foi assim que a conheci. 
Depois de assimilar tudo, o Bruno começa a falar.
-Então deixa-me ver se percebi. Tu só a conheceste, porque o Renan te disse que tinhas uma moça a apreciar-te o rabo? 
Eu aceno afirmativamente. 
-E depois disso, acreditas que por ordem do destino, tu e ela se cruzaram no parque de estacionamento? 
-Exatamente.
-Interessante. Pelo que me contas, ela parece ser diferente e não caiu logo nos teus encantos. Ela fugiu de ti. Mas mano, vai com calma e tem cuidado. Não quero que te aconteça outra vez o mesmo. 
-Eu sei que com ela não vai acontecer o mesmo. Ela não é a Madalena. A Camila é diferente, é especial... Não sei explicar. Ela é toda carinhosa, simples, por vezes tímida. E essa timidez por vezes deixa-me louco de desejo. Mas tenho-me controlado.
O Bruno sorri.
-Não sei se sabes, mas estás completamente apanhado por ela. Acho que fazes bem ir com calma. Não vale a pena apressarmos nada. Se ela tiver de ficar contigo para sempre, ela vai ficar. 
-Obrigado, mano - sorrio.
-Não tens de agradecer, é para isso que os amigos servem. Mas agora, mostra lá a moça. Ela deve ser um anjo, para te aturar - ri-se. 
Pego no meu telemóvel e entro no Instagram, procurando o seu perfil. Passo o telemóvel ao Bruno e ele começa a passar por várias fotos dela.
-Boa, meu. Tenho uma cunhada toda gira. 
-O que posso dizer... Tenho um bom gosto - rio-me. 
Ele passa-me o telemóvel.
-Estou mesmo feliz por ti, mano. Agora só tens de apresentá-la à malta. 
-Pra já não... Quero esperar mais um pouco, falar com ela e tornar primeiro a coisa oficial. 
-Já pensaste como é que lhe vais pedir em namoro?
-Já tive uma ideia, mas não sei se vai ser fácil.
-Conta lá - incentiva ele.
Começo a contar o meu plano ao Bruno, com grande entusiasmo. Ao mesmo tempo que lhe conto tudo, consigo visualizar tudo na minha cabeça. Parece perfeito, mas na nossa imaginação tudo é perfeito. 
-Meu, de certeza que ela vai amar a surpresa. Devia-me ter lembrado de algo assim, quando comecei a namorar com a Ana ou quando lhe pedi em casamento. 
-Agora já vais tarde amigo. Se bem que a tua ideia de lhe pedires em casamento com a ajuda do vosso cão também foi muito boa. 
-Eu sei, sou uma pessoa muito original e com ideias fantásticas - gaba-se. 
Entretanto, ouvimos uma grande algazarra na parte de trás do autocarro. Olhamos por cima dos bancos, e vemos a equipa toda junta. Curiosos, acabamos por nos levantarmos e irmos para junto deles e descobrir o que se passava.

Estávamos agora a entrar no estádio do Belenenses. Era meio dia e meia, quando fomos deixar as coisas aos balneários, para depois seguirmos para o restaurante do estádio e almoçarmos. 
Ia a meio do almoço, quando recebo uma mensagem. Tiro o telemóvel dos calções desportivos e vejo de quem é a mensagem. Camila, claro. 
"Quando puderes liga-me. Beijinhos!" 
Ainda não tínhamos falado hoje. Estava com saudades de ouvir a sua voz. Decido acabar de comer primeiro e ligar-lhe depois. 
Quando acabo de comer, vou até ao varandim vazio do restaurante e ponho a chamar para a Camila. Ela atende ao segundo toque.
-Olá, Max - diz com um ar sedutor.
Inevitavelmente começo a sorrir ao ouvir a sua voz naquele tom.
-Olá, princesa. Está tudo bem? 
-Sim, cheguei à pouco a casa. Estava a almoçar e a lembrar-me da falta que me estavas a fazer. 
Oh, não imaginas a falta que também sinto de ti...
-Então, fizeste bem em ligar-me. - Pigarreio -Também tenho saudades tuas... - baixo o tom de voz. 
Se a pudesse ver, podia afirmar que ela estaria a morder o lábio. Ao imaginar tal visão, o meu corpo reage. Deus... O que ela me faz mesmo à distância.
-Estás nervoso para o jogo de logo? 
-Não sei se é bem nervosismo. Só não quero falhar com a equipa outra vez.
Do outro lado da linha ouve-se um suspiro. 
-Max, já falámos sobre isso. Tu não falhaste com a equipa. Foi um simples azar, que é normal acontecer. Naquele momento pensaste que a melhor maneira de defenderes era aquela, mas o outro conseguiu virar o jogo. Não te massacres mais com isso - pede.
Ela é sem dúvida a pessoa mais pura que conheci.
-Tu és um anjo, Camila. Se pudesse, guardava-te numa caixinha para que nunca te magoassem. Tu mereces simplesmente todo o amor do mundo. 
Ela solta um risinho meio envergonhado.
-Também tenho um lado meio louco - volta a baixar o tom de voz.
-Estou ansioso por conhecê-lo. 
Ficamos os dois em silêncio por um momento a assimilar o que ambos acabámos de dizer. 
De todas as vezes que a Camila tem tentado aprofundar mais as coisas, eu tenho negado. Não porque não queira, acreditem eu quero. Muito. Mas é simplesmente, porque quero que seja perfeito. Quero que ela tenha a certeza de que quer isto. Quero que ela me conheça melhor. Quero preparar algo especial para ela. 
Atrás de mim ouço a porta de vidro, que divide o varandim da parte interior do restaurante, correr. Olho para trás, ainda com o telemóvel encostado ao ouvido, e vejo o Bruno encostado à ombreira da porta. 
-Só te vinha dizer que íamos agora para a reunião com o mister. 
-Ok mano, vão andando, eu já vos apanho. 
Dito isto, era de esperar que ele voltasse para dentro do restaurante, mas ao invés começou a aproximar-se de mim com um sorriso na cara, que me indica que está a tramar alguma.
-É a Camila? 
Eu aceno com a cabeça, e ele faz um sorriso mais aberto. Sem ter tempo de me desviar, o Bruno estica-se para o meu telemóvel e começa a falar.
-Gabo-te a paciência para o aturares! - grita, fugindo logo para dentro do restaurante.
Idiota. Já sabia que ele ia fazer alguma. O Bruno fecha a porta atrás de si, e começa a fazer-me caretas do outro lado do vidro e a desatar-se a rir, enquanto eu o fulmino com o meu olhar e bufo. 
-Quem era? - ouço a Camila perguntar. 
A sua voz de anjo acalma-me um pouco, mas tomo nota mental para depois ter uma conversinha com o meu querido amigo Bruno.
-Era o Bruno... Desculpa lá, ele não joga com o baralho todo - volto a debruçar-me sobre o parapeito, esfregando os olhos.
-Falaste-lhe de mim? 
O seu tom era calmo. Pensei que ela ficasse um pouco chocada, ou até mesmo chateada, mas não. 
-O Bruno é o meu melhor amigo, conhece-me de ginjeira. Viu-me demasiado calado e pensativo no autocarro e perguntou-me o que se passava. Espero que não te importes.
-Está tudo bem. Os meus pais sabem de ti, a minha irmã e os meus amigos também. Não seria justo da minha parte ficar chateada contigo por falares com o teu melhor amigo.
Como eu disse, é um anjo. Queria poder ficar aqui a falar com ela, mas tenho de ir ter com a equipa. 
-Princesa, eu vou ter de ir. Vamos agora reunir com o mister. Falamos mais logo?
-Podes ter a certeza que sim. Boa sorte para logo.
-Obrigada linda.
E desligamos. 
Volto para dentro do restaurante, e encontro o Miguel Luís. Vou até ele e dou-lhe uma leve palmada no ombro.
-Então, puto? Também vens para a reunião com o mister?
-Ya meu. Fiquei só para pagar o almoço. 
-Então bora lá. 
Passo o braço por cima dos seus ombros, metendo-me com ele e seguimos juntos para junto do resto da equipa que íamos encontrando pelo caminho.

O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora