Capítulo 22

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A viagem estava a ser calma. Não foi muito longa. Estávamos em silêncio só com a música da nossa banda preferida a tocar. Era um silêncio confortável. Por vezes, ia olhando pelo canto do olho para o Max. Ele estava feliz, via-se pelo seu rosto. Eu também estava, mas aquele bichinho da curiosidade dento de mim estava a matar-me. Ia olhando pela janela, mas não conhecia nada.
Estávamos agora a entrar numa urbanização. As moradias eram todas iguais. Por fora eram todas brancas, que fazia contraste com as portas, os aros das janelas e os telhados a preto. Tinham um pátio à frente com um acesso a garagem e atrás tinha um pátio maior.
Ainda assim não percebo o que estamos aqui a fazer. Se calhar há aqui um restaurante qualquer, mas ainda não tinha visto nada. Andávamos aqui às voltas, até que viramos para uma rua sem saída. Paramos na última moradia. Sem perceber o que se estava a passar, deixo-me ficar quieta. Quando vejo o Max a mexer-se olho para ele. 
-Já chegámos? - pergunto meio perdida.
Ele não diz nada, apenas sorri. Ele tira o cinto, pega no telemóvel, na carteira, na chave do carro e sai. Dá a volta e abre-me a porta. Eu apresso-me a tirar o cinto e a pegar na mala. O Max estende-me a mão para me ajudar a sair.
-Bem vinda a minha casa - sorri.
-Não íamos almoçar fora?
Ele abraça-me, ao mesmo tempo que me puxa para si e me dá um casto beijo nos lábios.
-Disse que íamos almoçar juntos, não disse onde. 
Enquanto o Max me ia dando beijos na cara, eu ia observando a casa dele. Parecia maior que as outras da urbanização.
-Vamos entrar?
Eu aceno e pego na sua mão. 
Passamos o portão e avançamos até à sua porta de madeira escura grande. O Max abre-a sem grandes cerimónia, e somos logos recebidos por um bichinho fofinho. Ele baixa-se e começa a dar festas ao cão, antes de lhe pegar ao colo e levantar-se. 
-Camila, apresento-te o Goji - e aproxima-se de mim com o cão.
O Goji é um beagle com orelhas castanhas e todo branco à exceção das quatros manchas castanhas e pretas no lombo. Ele está muito sério a olhar para mim, muito quieto no colo do Max. Cuidadosamente, levo a minha mãe até à sua cabeça. Ele cheira-me a mão e depois deixa-me tocar no alto da sua cabeça, fazendo-lhe festas. 
-Bem, parece que ele gostou de ti - diz o Max.
Eu sorrio. Afasto a mão da sua cabecinha e deixo o Max pousá-lo de novo no chão. O Goji continua a nossa volta, cheirando-me. O Max dá-me passagem e entramos em sua casa. Ele pousa as chaves e a carteira no móvel do hall e eu paro ali. Ele pousa a sua mão no fundo das minhas costas e avança comigo, atravessando duas portas com um vidro de alto a baixo. A sua sala era enorme. Um enorme sofá em L cinzento está de frente para a lareira e para a televisão com uma mesinha de vidro no seu meio. Ao lado do sofá uma janela do teto ao chão. Ao fundo da sala via-se uma uma grande mesa de jantar de vidro, com uma cómoda com um espelho por cima na parede ao lado. Na parede do fundo estava mais uma janela, desta vez de correr que dá acesso ao pátio das traseiras. 
-Já apreciaste a minha sala toda? - diz metendo-se comigo. - Posso mostrar-te o resto da casa? 
O Max pega-me gentilmente na mão e continua-me a mostrar o piso térreo da casa, passando pela cozinha e por uma casa de banho. A seguir descemos para a cave que tem um ginásio improvisado. Em vez de irmos para dentro de casa, passamos por uma porta com umas escadinhas que nos levam para o pátio traseiro. 
É um pátio simples, com relva, uma zona de churrasco com uma mesa de jantar de madeira por baixo de uma estrutura envolvida por um véu transparente. Do outro lado do jardim está uma piscina não muito grande. Atrás da piscina o género de uma cama quadrada.
Umas certas coisas passam-me pela cabeça para nos divertirmos ali.
Ele leva-me para dentro de casa de novo e agora subimos para o andar de cima. Entramos na primeira porta e chegamos a um quarto.  Uma cama encontra-se no meio da divisão, de frente para para as janelas que dão para uma pequena varanda. É um quarto com uma decoração simples em tons de nudes e cremes. Saímos para o corredor, passamos por uma casa de banho, um género de escritório e no fundo, na porta que fica de frente para as escadas, entramos num outro quarto. Este era maior que o primeiro. No centro do espaço, uma grande cama ocupava a maioria do espaço. Em frente à cama encontrava-se um banco da largura da cama e uma televisão na parede da frente. O roupeiro estava embutido na parede paralela à cama, ao passo que do outro lado se encontrava duas portas que davam acesso a mais uma varanda. O quarto era também simples, mas, ao contrário do outro, este estava decorado em tons de brancos e cinzentos.
Voltámos para o andar de baixo e sigui o Max até à sua cozinha. Ele avança para o lado do forno e do frigorífico, enquanto me sento num banco alto na sua ilha. 
-Gostas de lasanha de legumes? - pergunta de costas para mim.
Tento olhar por cima do seu ombro e ver o que ele está a fazer, mas não consigo. 
-Vais cozinhar para mim? - pergunto curiosa.
Ele olha-me de soslaio dando-me um sorriso.
-Vou, sim.
-Não precisas de ajuda em nada?
-Não, eu tratei de tudo antes de te ir buscar. Agora é só pôr no forno.
O Max trata da lasanha e depois vem ter comigo. Para do outro lado da ilha de frente para mim, pegando-me nas mãos. 
-Estou feliz por estares aqui - diz, olhando-me nos olhos. 
Sinto o meu coração aos saltos dentro do peito. Sem me aperceber já estava a morder o lábio. O Max estica-se mais para mim e beija-me. Ao sentir os seus lábios nos meus, é como se me tivessem tirado o chão debaixo dos pés. Ele faz-me sentir como se estivesse nas nuvens. As minhas mãos vão para a parte de trás do seu pescoço, acariciando levemente. Adoro o sabor dos seus lábios, é simplesmente viciante. Antes se afastar por completo de mim, apanha-me o lábio inferior e prende-o entre os seus dentes puxando-o levemente, fazendo-me gemer. Ele solta um riso rouco e sensual, que me provoca um arrepio pela espinha abaixo. 
-Não me distraias - afasta-se para ir ver o forno.
-Em minha defesa, - aclaro a garganta - eu não fiz nada. Tu é que começaste. 
Estava tão focada a olhar pela janela, que nem me apercebi que ele já estava de novo ao meu lado. Roda o meu banco, de maneira a ficar de frente para si, e coloca-se entre as minhas pernas, rodeando-me a cintura com os seus braços. Levo as minhas mãos aos seus braços musculados, acariciando-os. 
-Sempre que fazes isso, tenho uma vontade enorme de ser eu a fazê-lo.
-Estás a falar do quê?
Ele olha-me para os lábio e depois para os olhos de novo. 
-De morderes o lábio - diz com uma voz baixa e rouca. - Sempre que o mordes, tenho uma vontade enorme de ser eu a fazê-lo - ele volta a olhar para baixo. -Lá estás tu outra vez. 
-O que é que te está a impedir? - provoco-o. 
O Max atira-se para um beijo de fazer cair para o lado. Enquanto me beija, as suas mãos vão passeando pelas minhas costas, ao mesmo tempo que as minhas vão direitinhas para o seu cabelo. Deus, este homem é de tirar o fôlego...
Vai passando a sua língua pelos meus lábios, como que a pedir permissão para entrar. Lentamente, abro os lábios e as nossas línguas unem-se numa dança louca e sensual. As mãos do Max estão agora no meu cabelo, amparando a minha cabeça para ficar quieta. Ele aprofunda mais o beijo e eu deixo-o continuar. As minhas mãos vão descendo da sua cabeça até ao fundo das suas costas. Passo as mãos por debaixo da sua camisola e vou arranhando levemente com as unhas as suas costas fortes e musculadas. O seu cheiro é inebriante. A boca do Max passa dos meus lábios para o meu pescoço, lambendo e chupando suavemente. As suas mãos estão nos meus ombros e vão massajando. Sinto-me a entrar num puro êxtase, mas somos interrompidos pelo relógio do forno. 
Maldito relógio..
Tentando voltar à realidade e regular as nossas respirações, o Max ainda está encostado a mim. Quando ele se endireita, sorri-me e dá-me um beijo na ponta do nariz. Salto do banco e sigo-o até ao forno, colocando-me de lado para ele.
-Eu vou pondo a mesa. Diz-me só onde estão as coisa. 
Ele apaga o forno e vira-se para mim, agarrando-me pelos ombros.
-Tu não vais fazer absolutamente nada. Eu convidei-te, por isso eu trato de tudo. 
Estava a preparar-me para contestar, mas ele faz-me um olhar para nem pensar em tal coisa, e desisto.
Volto para o banco e sento-me. Fico a observar cada movimento ágil, pegando na louça e desparecendo para fora da cozinha. Quando volta, pega no tabuleiro da lasanha e faz-me sinal para o acompanhar. Sigo atrás dele até à sala e encontro a mesa de jantar devidamente posta, decorada com duas velas altas e uma jarra com uma rosa vermelha linda. 
Pousa o tabuleiro e depois puxa a cadeira para me sentar, sentando-se de seguida à minha frente. Pega numa espátula e numa faca para nos servir, enchendo-nos os copos com água depois.
-Espero que gostes. 
Corto um pouco da lasanha e levo-a à boca. Saboreio o pedaço de lasanha, que estava simplesmente divinal. Gemo de satisfação e ouço um suspiro do outro lado da mesa, que me faz abrir os olhos. 
-Gostas? - pergunta o Max.
-Sim, isto está divinal. - limpo a boca. -Não sabia que cozinhavas tão bem.
-Há muitas coisas que ainda não sabes sobre mim... Tenho muitas qualidades - gaba-se.
Eu rio-me e bebo um pouco de água. 
-Então vá, fala-me mais sobre ti - incito. 
Ele limpa os cantos da boca, e chega-se para a frente colocando os cotovelos na mesa, unindo as mãos. 
-Não há muito que saber... Vim para Lisboa muito novo, como já sabes. Os meus pais ficaram em Braga com a minha irmã mais nova, a Diana. Enquanto era menor, e não tinha maneira de me sustentar, vivi sempre na academia. Foram tempos não muito fáceis para os meus pais, mas eles fizeram o esforço, porque sabem que era o meu sonho. Conseguimos ultrapassar esses tempos. Entretanto, quando subi à equipa A, comprei esta casa e... - cala-se por um momento, e vejo que está a pensar se deve ou não continuar o que começou. - estive quase para casar - diz com desprezo, fitando o copo de água. 
Ao ouvir aquilo, sinto algo estranho dentro de mim.
Ele esteve noivo?
Eu nem sabia que ele tinha tido alguém antes de mim. Não estou indignada com isso, atenção. Só não estava à espera que ele tivesse estado noivo.
Ao ver que eu não dizia nada, voltou a olhar para mim, tentando alcançar-me a mão por cima da mesa.
-Estiveste noivo? 
Ele acena, antes de começar a falar.
-Foi uma parvoíce... - recosta-se na cadeira olhando de novo para o vazio. -Namorávamos há três anos. Eu gostava realmente dela. Mudou-se para aqui comigo, acompanhava-me a todos os jogos e todos os treinos, dávamo-nos lindamente. Um dia pensei em dar esse passo. Maldita a hora... Meses depois de lhe ter feito o pedido e de ela ter aceitado, apanhei-a com o meu melhor amigo. Ela ainda andou atrás de mim, a dizer que tinha sido um erro e tudo mais, mas a verdade é que aquele erro já durava mais de dois meses...
Ao proferir aquelas palavras senti um tom gélido da sua parte. Custava-lhe falar daquilo, percebi isso. Nos seus olhos não se vê nada, só vazio. Triste por ele, levanto-me do meu lugar e sento-me ao seu lado.
-Lamento... - passo-lhe uma braço pelos seus ombros e dou-lhe um beijo na têmpora.
Sinceramente, não lamento porque, caso contrário, hoje eu não estaria aqui com ele. Quem é que seria capaz de fazer uma coisa destas a um homem como ele? Que idiota... 
-Não tens de lamentar. Eu fui um parvo... Não me devia ter apressado.
-Max, não foste um parvo... Estavas apaixonado, pensaste que ela era a tal. Não há mal nenhum nisso - pego na sua cara, virando-a para o olhar nos olhos. -Ela é que esteve mal. Ela é que fez tudo mal, e perdeu alguém que a amava. 
Ele pega nos meus pulsos e massaja-os.
-Obrigado - sorri. -Obrigado por não teres fugido, quando te contei. Estava com um bocado de receio.
-Não tinha o direito de ficar chateada contigo. Todos têm um passado, tu não és exceção. 
Ele vira-se na cadeira e olha-me nos olhos. O seu polegar está no meu rosto, afagando-o, e a sua testa está colada à minha. Ficamos assim em silêncio por um bocado. Depois afasta-se um de mim, puxando-me para o seu colo. Ele passa um braço em volta da minha cintura, enquanto o outro mantém a sua mão na minha cara. Eu passo os meus braços pelo seu pescoço e fico assim. Ele estava a observar-me de tal maneira que aposto que consegue ler os meus mais profundos pensamentos. 
-O que é que eu fiz para te merecer? - acaba por dizer.
Como resposta, dou-lhe um simples beijo carregado de paixão. 
-Vá agora vai comer, daqui a pouco a comida arrefece - dá-me um beijo no ombro.
Levanto-me e volto para o meu lugar em frente ao seu. Quando me sento, voltamos a comer. Mas há uma pergunta que não me sai da cabeça. Ele disse que não se devia ter apressado. Será que é por isso que ele nunca me deixou avançar mais?
Oh meu Deus, eu tenho andado a pressioná-lo!
Não só em termos algo mais físico, mas também com a situação de ele ir lá a casa e conhecer o meu pai. Se calhar o melhor é esquecer este assunto.
-Estás bem? - ouço ele perguntar. 
-Ah... sim, está tudo bem. Estava só hum... - estou-me a atrapalhar toda. - A lasanha, está tão boa que até me distraí a saborear - tento fazer um sorriso para parecer normal, mas acho que não fui muito convincente, pois o Max está a olhar-me com estranheza. 
Felizmente, não diz nada e prosseguimos o almoço. 
-Então e tu? Fala-me do teu passado - diz.
-Não há muito que dizer - começo. -Nasci aqui, moro com os meus pais e a minha irmã. Estou agora na faculdade, como sabes. E é isso... Não há nada de interessante. 
-Duvido... aposto que já tiveste namorados.
Solto uma gargalhada, que o faz focar a sua atenção em mim. 
-Tive alguns sim... Não muitos. Uma vez tive um que era demasiado controlador. 
-Ai sim? 
-Pois... Ele não me podia ver com nenhum amigo que começava logo a fazer cena de ciúmes. Acabei por me fartar e deixei-o. Ainda assim o parvo andava sempre atrás de mim.
-Prometo nunca ser assim - sorri. -Mas conta mais.
Onde é que ele quererá chegar com esta conversa afinal?
-Tive um outro que acho que posso dizer que foi o primeiro rapaz de quem gostei a sério. Estávamos no fim do básico, íamos para o secundário. Andámos dois anos e meio. Ele dava-se super bem com os meus amigos. No dia em que fazíamos mais um mês, decidi fazer-lhe uma surpresa e ir ter com ele à Ericeira, porque ele tinha ido treinar para o campeonato de surf. Quando cheguei à praia, apanhei-o enrolado na areia com uma loura oxigenada qualquer. 
-Agora sou eu que lamento - diz, fazendo-me um sorriso triste.
-Não lamentes, ele ficou em pior estado do que eu. Queria as duas e ficou sem nenhuma... E pelo que soube perdeu o tal campeonato. Claro que ao início me custou. Sempre tivemos uma relação boa, ou eu pensava que sim, as nossas famílias conviviam imenso. Foi complicado contar aos meus pais o que se tinha passado. Para eles, ele era como o menino de ouro, mas afinal... - bebo um pouco de água. -Pronto, o resto foram uma meras curtes que nunca passaram de nada de uma semana se tanto. 
-Então, e o Duarte? 
Quando ouço a sua pergunto, paro com o garfo levantado, que estava pronto para me levar mais um pedaço de lasanha. O Duarte? Porque raio é que ele se lembrou do Duarte?
-O que tem o Duarte?
O Max está inclinado para a frente, com os braços na mesa e um olhar curioso. 
-Nunca foi nenhum desses namoricos?
O quê? Desato-me a rir, como se ele tivesse contado a piada do ano. 
-Eu e o Duarte? Claro que não. Eu e ele sempre fomos só amigos. Nunca houve mais nada - continuo a rir, mas quando vejo o seu ar meio sério paro de imediato. -A sério, Max. Eu e ele nunca tivemos nada um com o outro. 
-Não parece...
-Ok, agora estou perdida. Não parece? Como assim? Ele até tem andado todo esquisito estas últimas semanas.
-Exatamente.
Ao ver que não estava a entender onde ele estava a querer chegar, continuou.
-Vocês podem não ter tido nada um com o outro, mas garanto-te que ele quer alguma coisa contigo. 
Fico chocada. O Duarte? Gostar de mim? 
-Tens a certeza que só bebeste água? É que não estás a fazer sentido nenhum. O Duarte não gosta de mim.
-Ai não? Há quanto tempo é que ele tem andado esquisito? 
-Sei lá - encolho os ombros. - Há uma ou duas semanas, não faço ideia.
-Camila, até um cego via que ele está caidinho por ti. Eu bem vi como ele olhou para nós, quando te fui buscar ao bar na outra noite e hoje à porta de tua casa.
-Oh, ele só está preocupado comigo... 
-Preocupado contigo porquê? - pergunta de chofre. 
-Pelo facto de eu andar a sair com alguém que conheço à pouquíssimo tempo.
-Vês o que te digo? Ele gosta de ti. 
-Não sejas parvo, Max. Não gosta nada.
-Então diz-me. Ele também era assim todo protetor com os outros? Por exemplo, com esse tarado dos ciúmes?
-Ele não conheceu esse. Eu só conheci o Duarte no secundário. 
-E com o surfista? Ainda namoravas com ele quando foste para o secundário.
-A sério Max... Não acredito que estamos a discutir isto - levo a mão à testa.
-Não estamos a discutir, estamos a constatar fatos. 
-Acabaste mesmo de dizer isso?
-Não fujas à pergunta.
Bufo.
-Sim, Max. Um tempo depois de nos conhecermos, ele começou a ser um bocado protetor... Mas isso não quer dizer que ele gostasse de mim. Pode simplesmente ter percebido o que o surfista andava a fazer.
Ele recosta-se na cadeira, com aquele seu ar de sabe tudo. 
-Acredita em mim. Ele gosta de ti.
-Pensa o que quiseres - reviro os olhos.
Não queria admitir, mas se formos a pensar bem, ele até tem razão. O Duarte foi o único que não se deu ao trabalho de conhecer o Max.
-Estás a pensar que tenho razão não estás? - pergunta com um sorriso todo parvo.
Olho para ele de lado e volto a concentrar a minha atenção no nada. Mas sempre atenta aos movimentos dele. O Max levanta-se da sua cadeira e começa a andar na minha direção, parando atrás de mim. Pousando as suas mãos nos meus ombros, descendo-as pelos meus braços, enquanto se vai baixando. Com uma mão afasta, o cabelo do meu pescoço e dá-me um leve beijo, voltando para cima até à minha orelha, mordendo-me o lóbulo. Os meus dedos vão pressionando cada vez com mais força os braços da cadeira, tentando reprimir a vontade que tenho de lhe saltar para cima.
Não o posso pressionar
. Repito interiormente, como uma mantra, mas não ajuda muito
-Vou levantar a mesa, para depois podermos ir ver um filme. Fica à vontade - sussurra-me ao ouvido. 
Ele tem estado a ser um querido, mas eu sinto que estou a abusar. Não o ajudei a fazer o almoço, no mínimo tenho de o ajudar a arrumar a louça. 
-Eu ajudo-te Max - apercebo-me que ele ia reclamar, por isso adianto-me. -Nem penses que me vais deter. É o mínimo que posso fazer. Não há discussão. 
Pego no meu prato e no dele e levo para a cozinha. Quando estava a colocar os pratos dentro da máquina, o Max entra com os copos e a garrafa de água. Tiro-lhe os copos da mão e coloco-os na máquina também. Depois de fechar a máquina, trato de guardar o resto da lasanha de legumes que sobrou. Aí apercebo-me de que não faço ideia onde está o papel-prata e nem sei se o Max a guardaria assim. O Max entra de novo na cozinha, agora com os panos individuais. 
-Max, queres deixar o resto da lasanha no tabuleiro ou passar para uma marmita? 
-Hm, deixa no tabuleiro. Mete só um bocado de papel-prata por cima. 
Ele aproxima-se de mim e abre a gaveta do fundo tirando de lá um rolo de papel-prata. Corta um pouco e passa-ma para envolver o tabuleiro. Por fim, coloco o tabuleiro no frigorífico. 
-Obrigado pela ajuda - sorri, e dá-me um beijo na bochecha.
-Obrigada eu pelo almoço. Vamos então a esse filme? 
De mãos dadas, vamos para a sala e sentamo-nos no sofá. A chaise longue do Max é larga o suficiente para nós os dois, por isso sentamo-nos lado a lado.
-Que filme queres ver? - pergunta-me enquanto vai passando filmes na Netflix.
-E se víssemos esse? In the Tall Grass? - digo esfregando os braços.
Não me tinha apercebido que tinha arrefecido. O Max apercebe-se.
-Estás com frio? 
-Só arrefeceu um pouquinho, já volto a aquecer. Não te preocupes. 
-Espera aí, vou ver se encontro uma manta no quarto. 
-Max, não é prec... - e deixa-me a falar sozinha.
Entretanto o Goji aparece à entrada da sala. Ele vê-me e salta para o sofá para junto de mim. Faço-lhe festinhas e ele derrete-se todo ao meu lado. O Max aparece pouco depois, com uma sweat branca da puma. 
-Não encontrei a manta, deve estar para lavar. Por isso trouxe-se esta sweat. 
-Não faz mal. De servir para me tapar toda. É enorme - digo esticando-a à minha frente.
Ele ri-se e volta a sentar-se. Eu levanto-me para poder vestir a sweat. Quando passo a camisola pela cabeça, o cheiro dele logo se faz sentir. Como disse, a sweat é enorme. Para além de me ficar pelos joelhos, ainda cabia umas quantas de mim ali dentro. Satisfeita volto a sentar-me ao seu lado.
-Esqueci-me de ligar o aquecimento. É por isso que arrefeceu.
-Já estou bem, não te preocupes - sorrio-lhe.
O Max põe o filme a dar. Eu aninho-me contra ele, e ele passa um braço á minha volta. O Goji apercebe-se que vamos ficar por ali, então vem aninhar-se no nosso colo. 
-Não sabia que eras menina de filmes de terror - diz.
-Há muita coisa que ainda não sabes sobre mim - uso as suas palavras contra ele, piscando-lhe o olho. 
-Engraçadinha. 
Pouso a cabeça no seu ombro para ficar o mais junto de si possível, e deixamo-nos ficar assim a assistir o filme.

O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora