Capítulo 20

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Como prometido, ao fim da tarde lá estava eu na sala com o meu pai à espera do início do jogo. Tinha-me vestido a rigor, ainda que não fosse sair de casa. Estava com a camisola de jogo e um cachecol. Não despregava os olhos da televisão, esperando ver o Max a aquecer. Quando começaram a dar publicidade, peguei no telemóvel e mandei uma mensagem rápida ao Max a desejar-lhe boa sorte. Talvez ele não visse já, mas iria ver depois, e o que importa é a intenção certo? 
Faltavam agora poucos minutos para começar o jogo. Estava em pulgas, mas ao mesmo tempo triste por não poder lá estar. Estavam agora a passar imagens dos jogadores no túnel, antes de subirem para o campo. Estava atenta a ver se via o Max, mas ainda nada. Quando começaram a avançar para o campo, vi o Max de relance. Os jogadores entram em campo e colocam-se todos em fila virados para as bancadas. A câmera ia passando à frente de cada jogador. Começaram pelos do Braga. Quando passaram para os do Sporting, parecia um falcão à espera de o Max aparecer. E, de repente, lá estava ele na ponta. Gostava imenso de o ver com o equipamento vestido. Aliás sempre tive uma grande fixação por homens de farda... Todos se põem nas suas posições para dar início ao jogo. 

O jogo já estava quase no fim. O jogo estava empatado. O Sporting começou a ganhar, mas no início da segunda parte o Coates fez um corte perigoso na grande área que levou a um penalti para o Braga. 
Neste momento estava a rezar a todos os santinhos para conseguirmos ganhar, mas o Braga não está a tornar as coisas fáceis. Estávamos agora nos minutos de compensação. O Braga estava a começar a atacar cada vez mais, o que me causava um nervoso miudinho dentro de mim. O Bruno Fernandes avança com a bola para a baliza, e depois faz um remate alto demais. O meu pai e eu levantamo-nos do sofá a reclamar. Visto de fora, até tem a sua piada. A bola passou de novo para o lado do Braga, quando o guarda-redes bracarense chuta a bola para o outro lado do campo. Um dos adversário começa a conduzir a bola para a baliza do Max. Com tanto nervosismo, nem reparei que as minhas unhas se estavam a cravar nas palmas das minhas mãos. O Max começa a avançar na direção da bola, tentando cortar a jogada dele, mas não corre bem e o adversário marca mais um golo, ficando na frente do marcador. 
Estavam agora a focar no Max. Ele ainda estava sentado no chão, com os cotovelo por cima dos joelhos e mãos na cabeça, enquanto encarava o chão.
Tadinho do meu Max...
Eu devia mesmo ter ido ao jogo. Agora sinto-me mal por não estar lá a apoiá-lo. O Bruno vai ter com ele, dizendo-lhe qualquer coisa. No minuto seguinte, ele já se estava a levantar do chão com a ajuda do Bruno. 
Olho para o relógio do jogo e constato que já passou o tempo de compensação. O jogo recomeça, mas o árbitro não dá mais do que uns meros segundos de jogo.
Fim do jogo.
Levanto-me super irritada e começo a reclamar:
-Estes árbitros são todos uns abutres. Nem meio minuto deu. Parece que estava só à espera que os outros totós marcassem... 
O meu pai olha para mim impressionado com a minha reação, embora concorde comigo.
-Já sabes como é... - diz. -A arbitragem é uma fantochada.
Entretanto, a minha mãe entra na sala pondo o comer na mesa de jantar.
-Para a próxima corre melhor. Agora deixem lá de reclamar e venham jantar - ri-se. 
-Eu vou só lavar as mãos. 
Vou até à casa de banho e lavo as mãos. Antes de sair, pego no telemóvel e fico a observar o número do Max.
Será que mande mensagem?
A dúvida insiste e persiste, mas eu acabo por me decidir e mandar uma mensagem simples para ele. Quando ele estiver despachado verá.
"Lamento o resultado de hoje :( se precisares de algo liga-me. Beijos"

Depois do jantar, volto ao meu quarto. O Max ainda não tinha dito nada. Para não me estar a massacrar por ele não ter respondido, começo a arrumar as coisas para a escola. Assim que tinha tudo arrumado, vou até ao meu armário ver se decido algo para usar amanhã. Estava a passar cabide a cabide, quando ouço o meu telemóvel tocar. Dou a volta à cama e pego nele, atendendo.
-Max.
-Posso passar por aí? 
O tom dele era abatido. Não estava a gostar disso. 
É normal parvinha... Ele acabou de perder um jogo.
Afasto a minha voz interior e respondo-lhe.
-Claro que sim. 
-Quando estiver à porta dou-te um toque.
-Ok, até já.
Sem resposta, ele desliga a chamada. 
Será que ele estava só assim pelo jogo ou haveria algo mais? Não, não vamos entrar por aí de novo. É só o jogo, de certeza. 
Volto para a minha tarefa de escolher a roupa, esperando o Max. 
Pouco depois, o meu telemóvel começa a tocar. Eu pego nele, desligando e guardando o telemóvel no bolso das calças. Pego no casaco tipo fato de treino, visto-o e sigo para baixo. 
Entro na cozinha e cruzo-me com a minha mãe. 
-Mãe! 
-Filha! 
Aproximo-me dela. Agora não existem motivos para não lhe dizer.
-O Max está ali fora. Ele ligou-me a perguntar se podia passar por aqui. Ele não parecia muito bem, por isso disse-lhe que podia...
Ela começa a falar, não me deixando acabar de falar. 
-Tudo bem - sorri. -Vai lá dar mimos ao rapaz, que ele hoje deve precisar.
Dou-lhe um abraço e um beijinho.
-Obrigada mãe!! 
Passo as janelas grandes da cozinha para o jardim e dou a volta à casa para o portão da frente. O Max, estava de novo encostado ao carro de frente para a minha casa, mas desta vez estava com um ar abatido. Tal como percebi pela sua chamada. Ele ainda não se apercebeu que estou ali. Desta vez não perco tempo a observá-lo. Dirijo-me de imediato a ele. Mal passo o portão, ele levanta o seu olhar para mim e eu estaco nesse mesmo momento. O seu olhar provocou-me um arrepio pelo corpo todo. Ele endireita-se, tira as mãos dos bolsos e abre os braços, convidando-me para um abraço. Volto a ter poder sobre as minhas pernas e aproximo-me dele. Não querendo esperar mais, passa um braço pela minha cintura e puxa-me para si. 
Ele escondo a sua face no meu pescoço e aperta-me mais contra si. Estico-me e em bicos de pés, passo os meus braços para o abraçar também. Ficamos assim por um longo momento, até o Max se afastar o suficiente para me dar um beijo forte. Quando estávamos a ficar ofegantes, o Max encosta a sua testa à minha e ficamos assim.
-Estava a precisar de ti - diz.
-Estou aqui, Max - toco com o meu nariz no seu para ele saber que estou mesmo ali.
-Viste a vergonha de jogo? 
-Max...
-A culpa é minha - apressa-se a dizer. -Devia ter ficado quieto. Não me devia ter aproximado dele. 
O Max afasta-se de mim, seguindo até ao muro do meu portão. Está meio debruçado de costas para mim, com os cotovelos pousados no muro.Eu avanço para ele. Pouso as minhas mãos sobre o seu peito, encostando-me às suas costas.
-A culpa não é tua - digo, tentando tranquilizá-lo. -Acontece Max. Não conseguiste defender uma bola, perderam. Mas a culpa não foi tua. Avançaste pensando que seria o melhor, mas nem sempre conseguimos entender a estratégia do outro. 
Ele vira-se rapidamente de frente para mim e vocifera não muito alto, mas ainda assim alto.
-Eu devia saber! Devia conseguir entender, mas mesmo assim agi sem pensar. 
Ele volta a afastar-se de mim. Passou-se, pronto...
-Ouve - aproximo-me dele e viro-o para mim. -Se te queres culpar e recriminar pelo que aconteceu, tudo bem. Mas não contes comigo para isso. Não tiveste a mínima culpa por terem perdido o jogo. Foi azar. Azares que acontecem aos melhores. Agora deixa esse comportamento de bebé, porque já não tens idade nem altura para isso. 
Wow, estou impressionada comigo. E ele também. Está a olhar para mim como se me tivesse crescido mais um olho na cara, atónito e calado. Depois recompõem-se e passa as mãos pela cara.
-Desculpa. Fui um parvo - ele mira-me e gentilmente pega na minha mão. -Perdoas-me?
-A tua sorte é que não consigo ficar chateada contigo muito tempo... - abraço-o de novo. -Mas se voltas a fazer uma cena daquelas, volto-me a passar contigo.
-Entendido, flor - e volta a dar-me um beijo ternurento. -Pensaste naquilo? 
E lá vamos nós voltar ao assunto.
-Bem... ainda não sei.  Acho que...
Ele cala-me com um beijo rápido.
-Se ainda não sabes, continua a pensar. Se amanhã souberes a resposta, diz-me. Eu vou estar lá contigo, se assim o desejares.
Olho para ele tentando perceber se ele estaria ou não a brincar. Ele sorri-me.
-Estou a falar mesmo a sério - diz, como se lê-se os meus pensamentos.
Sem dizer nada, estico-me apanhando os seus lábios dando-lhe um beijo cheio de amor. Ele envolve a minha cintura com os seus braços e aperta-me contra si.
-Obrigada - digo.
-Não tens de agradecer linda - pisca-me o olho.
Ficamos os dois ali só abraçados por mais um momento. Com a cabeça encostada ao seu peito, escutando o seu coração bater, sentia-me extremamente satisfeita ali. Antes de começar a falar, dá-me um beijo no alto da cabeça.
-Não queria nada, mas tenho de ir... 
Grunho qualquer coisa, não querendo que ele se vá embora.
-Ainda não jantei e tu tens aulas amanhã. Já é tarde. 
Ele tem razão, tenho de ir dormir. Afasto-me dele, não tirando as mãos das suas ancas. Faço um ar tristonho e beicinho por aquele momento acabar. 
-Vá lá, não fiques assim. E se combinássemos qualquer coisa amanhã?
Penso se tenho qualquer coisa da faculdade para fazer depois das aulas, mas não me recordo de nada.
-Pode ser, acho que não tenho nada para fazer. Se à última da hora aparecer algo, mando-te uma mensagem ou ligo-te a avisar.
Ele dá-me um beijo na ponta do nariz e sorri.
-Está bem, senhora professora. 
-Futura senhora professora - meto-me com ele.
-Ok, futura senhora professora, está na hora de ir deitar. Até te levava lá acima e metia-te na cama, mas não sei se seria apropriado. 
-Hm, - faço um ar pensativo - não, acho que não seria.
Ele dá-me um beijo de despedida nos lábios, vira-me pelos ombros e dá-me uma palmada na brincadeira no rabo.
-Vai lá, flor. Até amanhã - sorri.
-Até amanhã, Max! 
Passo o portão e volto a fazer o percurso para dentro de casa. Antes de passar a esquina, viro-me para o Max, sabendo que ele ainda estaria ali, e atiro-lhe um beijo. Depois desapareço para dentro de casa, em direção ao quarto. Lavo os dentes e visto o pijama. Deito-me de seguida. Quando ia a colocar o telemóvel a carregar, recebo uma mensagem do Max.
"Dorme bem. Sonha comigo. Beijos."
Sorrio e respondo:
"Tu também, beijinhos"
Deixo o telemóvel na mesa de cabeceira e aconchego-me no meio dos lençóis e adormeço pouco depois.

O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora