Capítulo 8

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Depois de uma longa viagem, finalmente começo a perceber tudo. 
-Trouxeste-me à Ericeira? - digo formando o maior sorriso que consigo.
-Exatamente - sorri. 
-A Ericeira é dos meus sítios preferidos. Oh meu Deus, estava capaz de te beijar agora. 
Quando me apercebo do que digo, arrependo-me no segundo a seguir. O Max está a olhar-me com um sorriso algo sugestivo. 
-Não digas isso duas vezes, sou capaz de cobrar assim que sairmos do carro. 
Ia contrapor, mas o meu telemóvel começa a tocar. Olho para o nome da minha mãe no ecrã a brilhar e a realidade abate-me.
-Porra. 
-O que se passa? - pergunta o Max, olhando-me preocupado.
-É a minha mãe. Ligo-lhe sempre depois das aulas, mas desta vez esqueci-me. Ela deve estar preocupadíssima. 
Atendo de imediato a chamada e o seu tom preocupado faz-se ouvir. 
-Camila! Está tudo bem? 
-Sim mãe, está tudo bem. Desculpa, esqueci-me de te avisar que ia almoçar fora. 
-Fiquei preocupada, não me ligaste como de costume. 
-Sim, distraí-me. Desculpa mãe. 
Com a conversa, nem dei pelo Max estacionar o carro. Estava agora a olhar-me, enquanto eu falava com a minha mãe. Faz-me sinal, dizendo que posso demorar o tempo que quiser, mas também não quero abusar da paciência dele. 
-Mãe, falamos logo sim? 
-Sim, mas está tudo bem mesmo?
-Sim, eu depois explico-te tudo.
-Ok, beijinhos filha. 
-Beijinhos mãe. 
Desligo a chamada e guardo o telemóvel na mala de novo.
-Não precisavas de desligar a chamada tão depressa - diz.
-Não queria abusar do teu tempo também. 
-Nada disso. Mas bem, vamos então almoçar? 
-Vamos sim. 
Sai do carro e eu saio ao mesmo tempo não lhe dando tempo para chegar junto da porta do lado do passageiro. Ainda assim, junta-se a mim. 
Subimos juntos umas escadas estreitas, que dão acesso à esplanada de um restaurante.
O Max encaminha-me a uma mesa para dois. Ajuda-me a sentar e depois senta-se à minha frente.
A vista dali dá diretamente para o mar, tornando a vista maravilhosa. Porém, a minha atenção é desviada para o rapaz à minha frente. 
-Gostas deste restaurante? 
-É a primeira vez que venho a este, mas assim à primeira vista sim. Tem uma vista fantástica. Aposto que durante o jantar deve ser mais bonita, com o pôr do sol. 
-Um dia trago-te a jantar aqui - olha-me carinhosamente.
Sorrio timidamente, olhando para baixo. 
Entretanto, um empregado aproxima-se da nossa mesa com um bloco de notas.
-Boa tarde, já sabem o que desejam?
Ainda não tínhamos visto os menus, por isso fico meio atrapalhada.
-Posso pedir por ti? - pergunta-me.
-Depende, - sorrio - sou um bocado esquisita com a comida. 
-Gostas de salmão? Eles fazem o melhor salmão ao vapor do mundo. É dos meus pratos preferidos. 
-Ok, então pode ser.
O Max vira-se para o empregado e entrega-lhe os menus. 
-Então são dois pratos de salmão ao vapor com batata cozinha e salada. Para beber...? - olha para mim.
-Água - digo.
-Duas então.
O empregado afasta-se com o nosso pedido, deixando-nos a sós. Eu volto a olhar para o mar e aprecio. Acho que poderia ficar a olhar para isto que nunca me iria cansar. 
-Começo a sentir ciúmes da paisagem. 
Volto a minha atenção para o Max e entro na brincadeira com ele.
-Se estivesse no teu lugar, teria ciúmes sim. Com uma paisagem destas... não sei se terias hipótese - sorrio.
-Se tu estivesses no meu lugar, não terias de te preocupar minimamente. 
Olhamo-nos nos olhos. Durante aquele momento só nós existíamos. Tudo parou. O seu olhar é intenso. Sinto um calor a atravessar-me que me causa um ligeiro desconforto. Quero desviar o olhar, mas não consigo. Ele prendeu-me a si. O Max tem o dom de me fazer sentir coisas que nunca senti e nem sei explicar. O meu coração está demasiado acelerado. Tão acelerado que penso que me vai sair do peito. 
Aquele contato termina, quando o empregado chega com os nossos pratos. Ele dispõem os pratos à nossa frente e depois volta a deixar-nos sozinhos. 
Começo a provar o prato que o Max escolheu para nós. Ao levar a primeira garfada, fecho os olhos deliciando-me. Sinto o peso de um olhar em mim, e abro os olhos. Como desconfiava, o Max continua a olhar para mim. Acabo de comer o que tinha no garfo, e aclaro a garganta. 
-Sabes que isso é um pouco assustador, não sabes?
-O quê?
-Isso, de estares aí especado a olhar para mim. 
-Cada um olha para aquilo que gosta - faz um sorriso sedutor. 
Estremeço e continuo a comer.
-Isto está muito bom mesmo. Obrigada. 
-De nada! Obrigada eu por teres vindo almoçar comigo. 
Faço-lhe um sorriso. 
Acabamos o nosso almoço calmamente, e depois pedimos um café e a conta. O Max insiste em pagar o meu almoço. Tento fazê-lo mudar de ideias, mas como era de esperar não consigo.
No momento em que vamos a sair do restaurante, tenho a perfeita noção de que algumas cabeças se viram na nossa direção. Sinto-me um pouco desconfortável, visto não estar habituada. 
Estava a dirigir-me para o carro, quando o Max me puxa para o lado contrário. 
-Onde vamos? - pergunto.
-Vamos dar uma volta pela praia. A não ser que tenhas que ir estudar ou tenhas qualquer outra coisa para fazer.
-Não, não tenho nada. Vamos então. 
Ele sorri-me e eu sorrio-lhe em resposta. 
Descemos até à praia e chegamos mais perto da água. Caminhamos lado a lado, ouvindo apenas as ondas do mar. O Max para e eu paro também. 
-Queres sentar-te um pouco? - pergunta.
Eu assinto e sento-me. Ele senta-se demasiado junto a mim. Ficamos a fitar o horizonte. 
-Então, fala-me de ti. - começa ele.
-Hm... não há muito para dizer. 
-De certeza que há. Conta-me o que é que estás a tirar na faculdade, esse tipo de coisas.
-Ah, bom. Estou na faculdade, a tirar o curso do professora. 
-Professora? Uau... É preciso ter paciência não?
Rio-me.
-Todos me dizem isso, e eu própria vejo, mas é algo que sempre gostei imenso. Até em pequena, quando me juntava com as minhas amigas, o que mais gostava de brincar era às escolas. Ao entrar no secundário, ainda pensei em ir para psicologia, mas depois acabei por mudar de ideias. Adoro o facto de poder ensinar as crianças, para não falar do quanto adoro crianças. 
Ele está-me a olhar maravilhado, como se tivesse visto algo magnifico. 
-Max? Estás bem? 
Ele sai do transe e sorri-me.
-Sim, estou. É só que ouvir-te falar disso, assim com tanta paixão, é tão gratificante. Vê-se que gostas mesmo disso. E se queres saber da minha opinião, acho que estás no caminho certo e que é isso mesmo que estás destinada a ser. Não é que eu já te tenha visto com crianças ou algo do género, mas basta ver nos teus olhos que gostas mesmo dessa ideia. 
-Obrigada. Então e tu? Sempre quiseste ser jogador de futebol?
-Pois... - ri-se. -A proposta de ser jogador chegou-me um bocadinho mais cedo que deveria. Eu sempre adorei jogar à bola, em especial, ser guarda-redes. Adorava esfolar-me no chão e chegar a casa todo sujo. A minha mãe não gostava lá muito disso, mas enfim... Certa altura, depois de terem andado uns olheiros no clube onde eu estava, lá em Braga, recebi uma proposta do Sporting. A minha mãe não queria e a mim também me custava sair de ao pé da minha família, mas aquilo foi uma oportunidade fantástica. Não a podia perder. Acabei por aceitar. Foi muito difícil, mas consegui sobreviver e pronto, agora cheguei à equipa principal - senti-o ficar nostálgico.
-Não imagino o quão difícil isso tenha sido - acaricio-lhe o braço. -Mas fizeste amigos aqui que agora são uma família para ti. 
-Sim, conheci pessoas fantásticas aqui. Mas vamos mudar de assunto, não te quero deixar triste. Vais muitas vezes aos jogos? 
-É difícil... com tantos trabalhos da faculdade torna-se complicado, mas sempre que posso vou. 
-Muito bem, devia ter estado mais atento. 
Estranho o que ele diz.
-Mais atento? 
-Sim, não sei como é que só agora reparei em ti - ele vira-se para ficar de frente para mim. 
Está demasiado junto a mim. As nossas respirações cruzam-se. Sinto que se um de nós se mexer vai acontecer algo que não sei até que ponto será bom.
O seu olhar desce dos meus olhos para os meus lábios, demorando-se, e depois voltam para os meus olhos de novo. Está se a conter. Ele quer beijar-me. Não sei o que fazer. 
O Max volta a chegar-se para trás acabando com aquela tensão. Volto a olhar para o horizonte, sentindo uma pontada de tristeza no meu coração. Queria eu que ele me beijasse? Afasto esses pensamentos e desço à terra.
De repente, o Max levanta-se e olha para mim.
-Já venho. Vou ao carro num instante. 
Ele começa a afastar-se e eu viro-me para trás observando-o até ele desaparecer do meu campo de visão.
Isto é demasiado para mim. Ele é tão doce, meigo... intenso. Quando ele está por perto, só me apetece abraçá-lo. Tê-lo bem perto de mim e nunca mais o deixar ir. Aos poucos e poucos, sem me aperceber, ele vai-me conquistando. 
Desço à terra, quando ouço o Max chamar por mim. Viro-me para trás e olho meio perdida para ele.
-Para que é isso?

O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora