Capítulo 32

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MAX

Não aguentava estar mais ali. Tinha de sair, pensar e deixá-la pensar, também. Ela sabia que eu iria ficar à espera dela. 
Peguei no carro e comecei a dirigir para nenhum lugar. A música tocava baixinho, apenas como ruído de fundo. Porém, Touch dos Lawson começou a tocar e as lágrimas começaram a atacar-me. Desliguei de imediato o rádio e encostei na berma, tentando acalmar-me. 
Inspirei e expirei um monte de vezes, mas não conseguia ficar calmo, quando a minha única forma de relaxar era a Camila. Precisava dela, dos seus abraços, das suas palavras. Nela encontrava a minha paz, a minha felicidade, o meu pilar. Pode ser estranho dizer isto, ainda mais por nos conhecermos há um par de semanas, mas é a mais pura das verdades. Em pouco tempo, ela tornou-se muito. 
Olhei para o lado de lá da janela do pendura, para ver onde me encontrava, e vejo um bar. Sem pensar saí do carro e dirigi-me para lá. Não estava com muito gente, mas para o que eu queria até um bar vazio servia. Precisava de espairecer, de esquecer o assunto por um momento. Sentei-me ao balcão e uma rapariga aproximou-se para me atender.
-Olá, querido - sorriu. -O que é que vai ser?
-Qualquer coisa forte. 
-Hm... Já vi que alguém te fez mal. 
Ao ver que não ia responder, dirigiu-se às garrafas atrás dela e preparou-me uma mistura qualquer. Ao virar-se de novo para o balcão, entregou-me a bebida que eu emborquei de um só trago. Entreguei-lhe o copo de volta, para que ela o voltasse a encher.
-Wow, estás mesmo mal. 
-Não me deixes o copo vazio, ok?
Ela acenou afirmativamente com a cabeça e voltou a encher o copo. 
O bar começou a encher há medida que as horas iam passando. Entretanto entrou uma pequena banda no palco ao fundo do bar, que começou a cantar algumas músicas conhecidas. Os clientes do bar iam acompanhando a banda. Enquanto isso, eu continuava na minha meta de esquecer os acontecimentos dos últimos dias.
A rapariga do bar, que antes me fazia companhia, enquanto limpava e arrumava alguns copos lavados, estava agora de um lado para o outro a atender o resto das pessoas que se encontravam ao balcão. Assim que a vi passar por mim, tentei levantar o meu copo, fazendo-lhe sinal para voltar a encher o meu copo, mas este caiu para o lado de dentro do balcão, partindo-se em bocadinhos. Desatei-me a rir e pedi imensas desculpas à rapariga. 
Ela chamou alguém para a ajudar no balcão e dirigiu-se a mim.
-Ok, fofinho. Acho que chegou altura de ires para casa. 
Voltei a rir-me.
-Porquê? Eu estou bastante beeem - arrastei as palavras. -O copo apenas me escorregou das mãos.  
-Vou chamar um táxi para ti. 
-Nããooo. Eu tenho o meu carro ali fora - comecei a procurar as chaves nos meus bolsos.
-Sim, como se eu te deixasse conduzir da maneira que estás - disse.
-Bem, eu também não posso deixar o meu carro aqui. 
-Então, alguém tem de te vir buscar. Não vais conduzir e ponto final.
Revirei os olhos e bufei. 
-A quem é que posso ligar? - pergunta.
Quando estava a procurar o meu telemóvel, começo a senti-lo a vibrar no meu bolso traseiro das calças. Levanto-o muito próximo da cara, para tentar ler o nome do contacto, e vejo que era o Edu. Carrego no botão para atender e a voz do Edu faz-se ouvir.
-Então meu? Onde é que te meteste? Saíste do restaurante e nem disseste nada. 
-Desculpa, lá meu - volto a arrastar as palavras. -Precisava de sair de lá. 
-Max, onde é que estás? Não consigo perceber nada do que dizes.
Tentei falar mais alto para ver se ele me percebia, mas o telemóvel foi-me arrancado das mãos pela rapariga que até há um bocado me servia uns copos. Enquanto ela falava com o Eduardo, virei-me de frente para a banda que estava a tocar.
Estavam a despedir-se, o que me fez entender que já não iriam tocar mais. Para substituí-los, estava já um dj qualquer ali ao lado. Ele sobe para a sua mesa e começa a pôr música. Pelas colunas do bar, começou a soar uma música que já não ouvia há bastante tempo. A pista começou a encher-se de pessoas e eu segui o mesmo caminho.  Comecei a mover-me ao som da batida e muitas das raparigas que ali estavam juntaram-se a mim, roçando-se, tocando-me. 
Passou-se uma música, duas, três, cinco. De repente, sinto alguém puxar-me pelo braço, tirando-me do meio daquela gente. 
-Meu... Estás completamente perdido. 
O Edu estava ali. Admiro-me como ele conseguiu chegar aqui tão rápido. Se calhar fui eu que perdi a noção do tempo. 
-Então, Dudu! - abracei-o. -Vamos, eu pago-te um copo.
Ele largou-me e parou-me. 
-Nem pensar, meu. Nós vamos é embora daqui. Já bebeste demais e é uma sorte não ter aparecido aqui nenhum jornalista.
-Relaxa, puto. Eu estou bem. 
Passei por ele e dirigi-me ao bar. A rapariga do balcão estava ali a limpar alguns copos. 
-Linda! É um copo aqui para o meu irmão e, já agora, um para mim. Parece que se acabou - viro o copo para baixo.
Ela mete o copo e o pano de lado e fita-me.
-Não te vou servir mais nada. Acho que é melhor ires andando para casa e descansares.
-Não sejas assim... Vá lá. Estou cheio de sede. 
A moça não se mexeu, o que me chateou um pouco. 
-Ok, vou voltar para a pista de dança e, quando voltar, vou querer o meu copo. 
O Eduardo volta a barrar-me a passagem.
-Max, meu, anda lá. Tu precisas de ir para casa. 
-Puto, vai tu para casa. Eu estou-me a divertir. 
Voltei a ir para a pista e juntei-me às minhas parceiras de dança. Três canções depois, já não aguentava mais o calor e a garganta seca e dirigi-me ao bar. 
Estava a avançar pelo meio das pessoas, quando avisto o Eduardo a falar com alguém. Ele faz-lhe sinal e a rapariga vira-se para me olhar. Estaco. Ela voltou... Avancei até ela e abracei-a.
-Olá, amor! Estava com tantas saudades. Anda - comecei a puxá-la pelo braço em direção à pista. -Vamos dançar.
Porém, ela não se mexeu. Virei-me para ela para ver o porquê de ela não se mexer.
-Então? 
-Não vamos dançar. Tu vais pagar o que deves e vais com o Eduardo para casa. 
Bufei.
-Tu também? Eu só me estou a divertir. Não estou a fazer mal nenhum. Vocês são uns secas...
Virei-me para voltar à pista, mas a Camila puxou-me pelo braço, impedindo-me. 
-Uau, ficaste mais forte nas últimas horas, princesa? - brinquei.
-Max, para com isso. Não estou com disposição para brincadeiras. - ela começou a apalpar-me os bolsos do casaco e das calças, procurando algo.
-Querida, é melhor parares. Estamos num local público. 
Ela revirou os olhos e, finalmente, encontrou o que procurava. 
Fez sinal ao Eduardo e este pôs-se ao meu lado, como se tivesse medo de me perder de vista, enquanto a Camila se dirigia ao balcão para pagar a minha conta. Despediu-se da rapariga e agradeceu-lhe. 
Voltou para junto de mim e do Eduardo e deu-me a carteira.
-A conta dele está paga. Eu vou agora andando para casa. Vê se ele não se mete em asneiras de novo - pediu ao Edu.
-Então, mas como é que vais para casa? Eu posso te levar.
Ela negou com a cabeça.
-Não. Eu chamo um táxi ou algo do género. Preocupa-te só em levá-lo a casa.
-Mas tu não vens, fofinha? - perguntei.
Como ela não respondeu, voltei a falar:
-Não vou sair daqui sem ti. Se ela não vai, eu também não vou.
-Deixa de ser parvo, está bem? - diz ela.
Como forma de protesto, sentei-me na mesa que ali estava.
-Camila, vá lá - implorou o Edu. -Eu já só quero ir para casa e tirá-lo daqui.
Ela levou as mãos às ancas e bufou olhando para cima, como sinal de desespero. 
-Ok, vamos embora daqui. 
Saímos do bar e entrámos no carro do Eduardo. 


O Sorriso Que Me ParouOnde histórias criam vida. Descubra agora