[6] O REINO QUE VEM

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— Guerra, dor e um sofrimento como nunca antes. Homens morrerão aos milhares, pilhas de corpos espalhados, criaturas vindas dos lugares mais escuros perambulando pela terra e sombras se espremendo pelas entranhas desse mundo querendo sair e ganhar os céus escuros demais para que se visse algo.

Innamabel silenciou, abismada.

Valentin, no entanto, parecia querer saber mais, não da guerra que se achegava, mas do que havia acontecido naquela sala; o que havia os coberto de sangue da cabeça aos pés.

— De onde essa mulher teria saído? Taú e eu vimos outros três como ela, manipulavam as pessoas no comercio e correram quando nos notaram. Posso afirmar com tal certeza que esse não era um Verndare comum, uma possessão. Era infinitamente mais poderosa, mais pura. Como se...

— Ela tivesse vindo de Gallir — afirmou Gertruida a Valentin, virando-se a Innamabel em seguida, disposta a sanar as dúvidas que flutuavam sobre sua mente. — Assim como os Sirus, os Verndare se manifestam no mundo humano através do mundo espiritual; possessão. Homens e mulheres são escolhidos hospedeiros para os Verndare antes mesmo de serem concebidos e quando nascem, personificam esse espirito de luz devoto a proteger e cuidar da humanidade sem interferir em suas lutas. A partir de Gallir eles recebem seus poderes e as tarefas que devem desempenhar. Mas essa feiticeira, ela ancorou-se no mundo humano e contraiu a forma física dos homens de carne e osso.

Então, pequenos fragmentos de cascalho deslizaram para os lados quando com um ranger, a porta aos fundos abriu-se, chamando a atenção de todos para a icônica figura que dali surgia as vistas de Inna pela primeira vez. Um velho, dobrando as mangas de seu felpudo agasalho escuro e sendo acompanhado por uma bengalada firmemente segura quando começou a andar até deixar a penumbra, para o deslumbre de todos.

Aos olhos de Innamabel, o velho lembrava um patriarca experimentado por uma longa vida. Não era muito alto, nem opulento, apenas dotado de uma expressão amena. Negro, com felpudos cabelos esbranquiçados e uma barba rente, olhos escuros e feições enrugadas. Ele olhou a todos com um vazio crescente.

— Eu estava em meu resguardo quando ouvi um tumulto... um tumulto infernal.

— Theodor — aproximou-se Gertruida, afeta a presença do enigmático velho que, mesmo ela sendo a mais experiente, pouco ou quase nada sabia acerca do homem que voltou seu olhar placidamente até a jovem Inna, que parecia curiosa quanto a ele.

— Isso não vai sair nunca das minhas vestes! — resmungou Valentin, carrancudo ao fundo.

— Essa é Innamabel... sua transição já estava completa antes de podermos agir.

A mulher reverenciou em respeito ao velho, que apenas correspondeu com um aceno de cabeça.

— Seu nome representa força de vontade, jovem. E é com essa vontade que renunciará a todas as outras no momento em que decidirá pela salvação ou pela destruição do mundo o qual preza.

Ela manteve-se em silêncio, mas compreendia o peso das palavras que aquele homem dizia e o quão assertivas quanto a sua vida poderiam ser. De um lado, a constante luta para desvendar o motivo de seu retorno da morte. De outro, a devoção que adquiria ao convento e aos seus membros do qual pouco sabia.

— Mestre...

O velho ergueu a mão ante a sábia numa censura.

— A resposta que procuram estará em Gallir, lar da mãe que sofre o rapto de seu filho e da cruel soberana que condena a luz sobre os 7 pilares do pecado.

— Sim, mestre — afirmou Gertruida.

O velho deu um par de passos bêbados a fim de encontrar a jovem Sirus de olhar gentil. Ele tocou-lhe a bochecha fria afetuosamente e depois regressou, passando por sua mais antiga e fiel aliada e depois ganhando a sala aos fundos que a ele pertencia desde a chegada.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora