Innamabel havia descoberto depois de vinte e dois anos, que suas noites nunca mais seriam de sono ou de repouso. Acreditava ela que em algum momento sentiria as pálpebras pesarem ou o corpo enfraquecer, mas, à medida em que aquela noite decaia, o que se assomava aos seus pensamentos era apenas a vontade de sair e deslumbrar todo um mundo novo e feroz, inspirado por um estranho sentimento, uma chama que envolvia o seu ventre e fazia sua respiração parecer mais carregada por um desejo incompreensível.
Quando a primeira luz chegou aos céus pela manhã, ela estava enrodilhada na banheira, possuída por uma carranca e prontamente sentiu os efeitos da luz do dia em suas costas desnudas quando um facho chegou até ela. Fumaça ergueu-se e sua pele fumegou, nisso ela gritou profundamente, mas as correntes reprimiram seus movimentos, impedindo-a de escapar dali.
Até que surgiu Gertruida, vindo da umbra em sua direção.
Gertruida, ao contrário dos outros que aparentavam estar em sua plenitude, lembrava uma mulher de mais idade, experimentada pela vida e pelos obstáculos que teve de enfrentar até que estivesse diante da mais noviça alma presa ao grilhão da eternidade.
— Trouxe-lhe algo.
A moça gemeu, tentando se arrastar para fora. E a única coisa que a fez parar, fora o pano jogado sobre as costas e a cabeça.
— A partir de agora — disse. — Esses panos que envolveram a sua mortalidade, serão sua única companhia para que tenha o mínimo de conforto.
— Por quê? — ela olhou para cima, encontrando-se com a luz branca do soberano sol e não sentiu nada.
— A luz pune a escuridão que há em nossos corações.
— Por Deus, eu não pequei. Não mereço a cólera do Senhor.
— Sinto pelo uso das minhas palavras, minha jovem... mas as trevas que se apossaram de você repudiam a luz, sendo assim... a noite agora é o seu lar. Seus antigos temores relacionados a ela se esvão por agora e a noite te abraçará com alegria quando estiver pronta e se sentir confortável. Mais tarde clamarei a Dália para que teça algo mais vistoso para você com esses panos, talvez um toucado, sim?
Ela balançou a cabeça.
Então, na chegada de Dália, tanto ela quanto a sábia retiraram a jovem da banheira de sangue desataram seu corpo das corretes que simplesmente desapareceram no ar. Limparam-lhe o sangue das curvas e lhe deram roupas novas e limpas de camponesa. No entanto, o odor de seu corpo permanecia e a sábia lhe ofertou uma solução de ervas aromáticas para que pusesse no corpo sempre que necessário para mascarar o seu cheiro.
E só depois os outros surgiram trazendo a urgência de que os acontecimentos da madrugada já haviam sido descobertos pelos aldeões, tanto o incêndio na igreja quanto as duas mortes dos camponeses. Explicou Gertruida que tal era a ansiedade dos líderes do vilarejo em culpar os Verndare, que Innamabel não conhecia por tal nome, mas que se tratavam de antigas divindades pagãs que serviam como guardiões daquela cidade e de tantas outras.
Para ela, as temidas bruxas.
— Ж —
< Grão-Inquisidor Heinrich Harz >
Longe dali, os responsáveis pela manutenção da cidadela enfim haviam chegado, empurrando os curiosos, afastando-os de todos os cenários mencionados apenas como "obra de Satanás", afinal, descobriu-se a pouco um jovem casal de camponeses decapitados e uma igreja em chamas, cujo a oferta posta sobre a cruz inversa era uma mulher recém morta.
O responsável pelos assuntos relacionados a cristianização daquela terra parecia ter uma expressão sombria e de total desgosto quando enfim se pôs junto ao cenário, atirando os blocos de madeira e barro queimados para o lado e as marcas evidentes de um sangue escuro.
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Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)
Vampire[VENCEDOR DO PRÊMIO #THEWATTYS2020 EM PARANORMAL!] Infeliz em vida e atormentada na morte, Innamabel Gertsner reencarnou, trazida por forças das trevas, após o seu fim precoce e misterioso que pode estar ligado a desavença com os homens da sua vida...