[35] UM CORAÇÃO DIVIDIDO

83 16 0
                                    

< Arcebispo Adam >

Sentindo a necessidade de arrancar um dos braços, Adam gania as suas dores enquanto desciam ele, Gertruida, Eleonor e seu filho rumo aos porões secretos de sua habitação.

Ele estendeu o braço entorpecido e pressionou o mecanismo que ergueu uma porta pesada que desemborcava num corredor pálido e iluminado por algumas tochas nas paredes. Ao fim dele havia uma porta de metal com uma pequena abertura retangular, para onde o homem se arrastava, sobre o clamor e o choro da esposa em desespero pelos erros que havia cometido em vida por ter escolhido aquele homem como seu parceiro.

Eleonor desde sempre desconfiava que Adam não prestava, mas, o que fazia as pessoas se apaixonarem de fato? Para alguns, o dinheiro e o poder eram importantes, enquanto que para outros, apenas a mais pura devoção ao Senhor lhes era atrativo o suficiente para que saísse de casa cedo, deixando os país para trás a fim de conseguir uma vida e uma boa família ao lado do marido temente.

— Não machuque o meu filho, Adam! — a esposa puxava o pulso, mas a sábia era mais forte e a impedia.

— Ele não é o seu filho... Eleonor — o homem para trás antes de acionar o outro mecanismo que fez a porta se abrir. — Fará um bem maior se continuar calada. Já não me basta... ESSA MALDITA AGONIA!

— Posso tentar cura-lo, meu príncipe.

No interior da segunda sala, eles se depararam com um salão circular fechado onde havia um altar sobre uma piscina redonda cercada por oito velas com chamas azuis e estranhos e icônicos ídolos de pedra que lembravam antigos demônios e gárgulas que observavam o altar silenciosamente.

O homem se virou e agarrou o garoto pelo braço.

— Papai!

— Nãooo! — a sábia impediu que Eleonor se aproximasse quando o homem cruel praticamente arremessou o garoto no centro do altar e ele não sabia para onde fugir, estando cercado de aguas escuras.

A sábia tomou o outro braço da esposa do bispo antes de empurra-la ao chão com o joelho, enquanto ela chorava e gania, tentando erguer a mão para a criança que havia criado com tanto afinco, tendo se apaixonado por ele desde o momento em que o viu pela primeira vez.

O homem desembrulhou de suas vestes uma adaga comum e a ergueu ao ar, sentindo o espasmo no braço direito fazendo-o recuar momentaneamente.

— Oh grande rei Huru — entoou. — fundador de tudo o que é. Eis aqui o seu príncipe, aquele que foi injustiçado e que do paraíso foi renegado por sua inocência! Revele sobre o sangue derramado sob os templos profanos onde adoraram o seu inimigo, a sua glória e a sua graça. Venha reinar para sempre sobre essa terra de homens e espíritos. Venha, senhor que é o caos e as trevas que antes existiam, pois seu nome é poder e a sua vingança é o sabor que permeará nos lábios dos inimigos! — o homem então virou-se na direção da esposa, que estava congelada com o rogo do homem com quem dormia nos últimos anos.

Ela tentou se arrastar, mas imobilizada, nada podia fazer quando ele prostrou-se diante dela e tomou-lhe o rosto entre as mãos. Gertruida a fez se levantar unicamente para que ele pudesse empurra-la novamente, de joelhos diante da piscina.

— Deus! — ela olhou para cima, aterrorizada. — O que vai fazer comigo, seu monstro! — seu brado fez com que o garotinho paralisasse.

— Mamãe! — ele estendeu a mão.

— Fica ai! — ele gritou, acuando-o. — Já que está aqui... minha amada esposa, por que não abaixa a cabeça e adora o grande rei huru? É ele quem a livrará da minha faca — o homem apontou-lhe uma adaga simples e brilhante que ergueu-lhe o queixo molhado de suor e lagrimas.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora