[11] MALDIÇÃO AOS HOMENS SANTOS.

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< Grão-Inquisidor Heinrich Harz >

Heinrich peregrinou desde o começo da tarde até o começo da noite em direção a floresta, guiados pelas luzes cálidas de lampiões que bruxuleavam sobre a brisa pesada da noite e do clima úmido que se fazia naquela floresta. Seus olhos sugeriam enganação, mas a ambição em cumprir sua tarefa o fez seguir por aquele desconhecido caminho indicado pelo representante da igreja em um mapa mal feito e pela companhia de dois dos habitantes de um dos braços da floresta indicaram, seguindo-se também pelas menções a nefastas aparições e aos riscos os quais estariam expostos o tempo todo.

Ele, o fiel assistente e seus homens traziam consigo as bandeiras do papado e crucifixos suficientes para todos, além de tochas, agua benta, forcados, espadas e todo um equipamento para o que chamou de "pescaria em aguas desconhecidas". De certo acreditava serem anedotas as menções do velho arcebispo acerca de uma entidade que morava o rio e tinha o poder das revelações guardadas em segredo.

Para ele aquilo não passava de insanidade e clara heresia, pois somente de Deus era o poder da revelação e não de quaisquer criaturas terrenas que fossem. E tanto ele quanto seus homens gorgolejaram com ar quando abaixaram a cabeça no instante em que uma sombria aparição pulou ante eles e desapareceu na copa das arvores.

Ouviram sussurros, mas eram deles mesmos.

— Coragem, homens. Soltem os cães!

E soltaram os cães, que dispararam pela relva alta e o barro molhado aos seus pés. Os latidos desapareceram em poucos segundos, mas o brilho de suas coleiras que continham pequenos pingentes piscantes serviram de direcionamento.

Tudo estava muito silencioso e Henrinch claramente sentia que aquela coisa, indiferente do que pudesse ser, trabalhava para realizar a obra do demônio e impedir a aproximação de quaisquer invasores. Isso o forçou a puxar o seu mosquete e engatilhar com a única munição que podia carregar por vez.

— Acha que Adam disse a verdade, senhor?

Ele ergueu o queixo, desconfiado.

— Em tese um homem de Deus não deveria mentir, rapaz. Se eu soubesse que seria tão fácil chegar a esse lugar, tinha mandado apenas você no meu lugar! — ele riu, enquanto o jovem não se agradou em nada daquela ideia que por sorte não vidou real, mas estava rindo falsamente para não parecer apático.

Então... silêncio quando percebeu que apenas ele estava rindo.

Mas também ao perceber que os cachorros haviam parado de ladrar.

Ele acenou e dois de seus homens partiram a frente, armados, cortando o gramado com longos facões. Os outros rogavam proteção a Deus a todo instante.

— Da pra parar com isso! — exigiu em clara irritação, e os homens se recolheram no canto.

Mas, quando virou-se, Heinrich sentiu uma pontada aguda sobre o peito ao ouvir um par de gritos esganiçados e o que se assemelhava a rugidos ao fundo, mais a oeste de onde tinham ido e pegou aquele caminho junto ao seu grupo. Quando todos pararam, formaram uma linha de frente, protegendo-o como dava. Os sons provocados pelos movimentos das tochas e as respirações pesadas de boca aberta fomentavam a agonia e ansiedade de cada passo que o inquisidor deu rumo a fonte dos sons de urgência.

Então... um latido feroz, que se dissipou através da floresta e assustou a todos.

— O que está esperando?! Vai lá ver o que está acontecendo, seu boçal! — e escoiceou um dos seus que estava à frente fazendo-o gritar, fugir, desaparecer no sentido oposto ao que estavam. — Será maldito, homem! Vamos, Yoseph.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora