[41] VELHOS INIMIGOS

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< Innamabel Gertsner >

— O livro de Theodor não pode ser danificado, sobretudo onde a história ainda não aconteceu — alertou Minerva, em meio aos outros. —, por isso, quando o pegarmos, não podemos nos precipitar em separar quaisquer das páginas a fim de nos precaver. Apenas cheguem ao garoto, recuperem o livro e a espada.

— Espero que Deus não me abandone agora — rogou Valentin.

— O epicentro dos distúrbios na magia vem daquela direção. Talvez possamos encontra-los, e então estarei apta a tentar mais uma vez o feitiço de transmigração.

— Quero ver onde encontrará uma flor no meio desse inferno — disse Taú.

Minerva riu. Pela primeira vez e espantosamente ela havia rido de algo e fez com que Valentin e Taú se encarassem.

Cercados por hordas de criaturas, hora humanos, eles evitavam passar por sobre as ruas onde a movimentação era maior. Haviam incontáveis, Roma era uma cidade magnânima construída sobre séculos de vitórias de um império que até pouco era o maior sobre a terra, mas que a ganancia do homem implodiu, diminuindo sua influência e o poder que antes tinha de se proliferar através de outras nações.

Eles estavam sozinhos, mas eram tão resistentes que mesmos os choques mais duros apenas reduziam a distância que deveriam percorrer. Com uma mão, Valentin digladiava com soldados romanos que ali surgiram. Mais fortes fisicamente que as outras pessoas, eles precisavam de dois golpes ou mais para que desabassem e mesmo assim, não eram o pior entre os obstáculos.

Não quando um grande som os cercou. O chão estremeceu sob seus pés, mas não os permitiu cair, apenas olhar para o céu, de onde uma forte luz manou, como um buraco entre as nuvens que iluminou a terra com a cor do sangue num facho resplandecente e carregado de uma energia densa, antiga, pura e demoníaca que ligava os céus ao inferno como uma grande corrente.

Minerva olhou, espantada.

Não obstante, os sons cresceram, tornando-se quase insuportáveis para eles — os únicos "vivos" sobre aquela terra de mortos e corrompidos — Taú acotovelou uma mulher que se aproximava enquanto tapava os ouvidos, doloridos pelos pulsares que, de repente, deram vida a algo além daquelas coisas que os cercavam.

E uma marcha começou a partir dos céus. Pontos brancos gotejavam como uma chuva de neve, mas neve não era. Do contrário, era aquele o sinal que precisavam para que não se sentissem tão solitários naquele batalha. No entanto, do outro lado, a mesma quantidade que havia descido dos céus, pontos que pareciam fagulhas chamejantes também se erguiam a partir da terra, das plantas, das comidas estragas.

Uma nevoa erguia-se também, mas ela não era negra e nem vermelha, e sim azul-esverdeado e todos sentiram uma agonia percorrer por seus próprios corpos, como se de repente...

— O que está... — Minerva tocou os lados de sua cabeça e olhou para o céu, sentindo a pior do que já havia sentido na vida.

E Dália, Valentin e Taú também se contorceram, antes que seus olhos reluzissem o carmesim infernal dos demônios que jaziam em seus corpos.

Eles deram um passo à frente e Minerva indagou-se mentalmente se estava realmente segura.

— Os Sirus estão aqui! — suspirou Dália.

E estavam lá os Sirus, em sua forma verdadeira; nevoa, silhuetas macabras e urros sinistros. Eles serpenteavam através das casas, pontuando tudo com verde e com negro, fantasmas cerceavam pela terra a procura de quaisquer coisas em que pudessem se hospedar.

— Os Reinos estão colidindo, o sigilo de Gallir está caindo! Devemos continuar.

Não apenas os Sirus, mas toda uma esquadra de anjos também surgia dos céus, fazendo chover sobre a terra, magia e o poder angelical tragado do Reino dos Céus quando uma escadaria incomensurável surgiu a partir das nuvens.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora