Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)

[19] CLAMAI A PRESENÇA DE DEUS

< Grão-Inquisidor Heinrich Harz >

Certa comoção movimentava a praça da cidade naquele começo de manhã. Impassível estavam Heinrich e o arcebispo que, sentindo-se cercados, pediram reforço de sua guarda pessoal para que fortemente reprimissem os agressores que ali jaziam, dispostos apenas a tumultuar o cenário montado diante da bruxa enrodilhada por correntes por todo o corpo, com olhos e boca tapados com panos sujos e totalmente exposta a depravação de alguns dos homens velhos.

Seus novos amigos, a família Vanderbilt, ansiava pelos próximos passos de Heinrich. Sendo aceitos pela nobreza e pelos principais membros da igreja como porta-vozes e doutrinadores excepcionais, Heinrich havia permitido — até de muito bom humor — a presença e a obra deles porquanto beneficiassem aquela sociedade decadente e obtivessem as respostas que procuravam.

— Vê o que está causando, bruxa? — Heinrich aspirou sobre o rosto da virgem com um sussurro. — Espero que tenha gostado dos seus dias... parece até mais bronzeada – ele tocou-lhe a lombar até que sua pele alva ficasse avermelhada. — Suas irmãs tinham a intenção de me atingir quando provocaram o meu assistente. Mas, digo-lhe que mande seus servos, seus homens, suas feiticeiras porque eu destruirei todos eles da mesma forma que vou destruir você... está me ouvindo? — ele a estapeou no rosto e segurou-lhe o queixo, antes de forçar um sorriso afetado. — Pode ser mais fácil, bruxa. Pode facilitar se me der os nomes, os rostos, apontar quaisquer um que possa ser seu servo ou simplesmente nos dizer como encontra-los ou como combate-los além dos métodos antigos; fogo e forca. Ou, de forma excepcional... usar alguns de seus dons diabólicos para contar algo que quero saber. Poderia dizer primeiramente o que significam esses estigmas dourados que pulsam por todo esse corpo infestado pela obra do diabo? Poderia fazer isso?

Ela moveu o queixo forçadamente e ele conteve a vontade que tinha de esmurra-la.

— Já lidei com algumas carnes-de-unha arredias como você, "Virgem do Lago". Um nome inadequado para uma erva maligna usada por satanás para nos encantar os homens com essas... curvas — ele lhe amassou um dos mamilos até que ela mordesse o lábio com um gemido de dor. — Você é diferente, não sei se entende. Mas... o grande homem que está logo ali a conhece, não sei como. De qualquer forma, não importa. O que importa é que ele revelou-me sua capacidade de revelar o que está oculto. O que quer para me dizer um A do que preciso saber? Precisa de recursos? Precisa de uma cópia das escrituras para seguir o caminho certo e ter o Reino dos Céus como destino? Precisa de uma família para não mais ficar naquele lago? Há muitos desses ensebados perambulando as ruelas sujas por onde a praga passou. Praga essa que você e seus servos jogaram sobre a terra. Diga-me algo.

— Há morte por onde você passa... mau homem.

— É claro que há! — ele esturrou. — Os ímpios resistem e são mortos, mas, em nome do Senhor, nosso líder maior... Jeremias, pegue o ferro quente — ele acariciou-lhe o cabelo, enquanto um de seus homens abaixou-se e tirou do fogo ardente uma barra de ferro com o inscrito da cruz e o entregou nas mãos do homem que aproximou do rosto da virgem e ela recuou. — Não serei condenado por uma morte a mais ou uma a menos.

— Eu já sofri o suficiente para... que homem algum... sobre quaisquer torturas, me faça falar o que não quero.

— Ouviram? — o homem clamou a participação da população ao redor, que a excomungava com xingamentos. — Ela está disposta a jogar duro contra o que acha ser uma injustiça. Pior... eu sempre acreditei em bruxaria, em poderes mágicos, nas forças de Satanás agindo sobre nós. Mas então eu me ergui, virei um servo, um guerreiro, um caçador e descobri que... a única forma de provocar verdadeira dor a uma bruxa... é através da sua própria magia — então, o inquisidor surpreendeu quando devolveu a lamina de ferro fumegante as mãos do ferreiro e desembrulhou sua mão enluvada do traje vermelho que usava.