[36] A VERDADE VEM A GALOPE

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< Innamabel Gertsner >

Era a centésima vez que Taú passava a frente de Valentin, ansioso com o retorno de Minerva acerca do que os oráculos poderiam tê-la assuntado sobre o que fazer com Eve que pudesse impedir Adam de chegar a ela e cumprir com as profecias.

Era impensável o tipo de mundo que se originaria a partir daquilo, daquela decisão que os divinos deviam tomar diante daquele problema.

Na cabeça de Valentin, seria um excelente momento para o Deus todo poderoso intervir no mundo humano, sendo que seu poder que tanto foi capaz de criar, seria de igual capaz de impedir que fosse destruído. E não apenas isso, mas também que a ordem entre os céus e o inferno não fosse mudada por intervenção daqueles seres — os quais sequer se sabia se eram entidades inumanas ou apenas o fruto da criação do sexto dia; o homem e a mulher.

De tal forma, ele ergueu as vistas, irritadiço.

— Vou te devolver para o inferno se não parar de perambular — os dois estavam face a face quando Valentin o agarrou pelo ombro.

Innamabel e Dália que buscavam nas inscrições de Theodor algo sobre a Espada Luz, olharam quando Taú esbarrou o braço de Valentin, encarando-o com uma espécie de agonia.

— Vocês dois... não é hora de desunião. Precisamos pensar no que fazer agora. Era Gertruida quem nos iluminava com seu saber.

— Ah, então viramos burros agora? — sarcástico, Valentin disparou.

— Ela quis dizer que nosso direcionamento independe agora de apenas uma pessoa. Somos quatro, precisamos pensar como quatro e por nós mesmos, afinal, não somos crianças desorientadas.

— E quanto a Espada Luz? — arriscou Innamabel. — Vocês persistiram tanto em alternativas que até então não olharam para a realidade; Adam está ferido e não poderá usar seus poderes. A Espada talvez possa ter algo capaz de mata-los.

— Talvez — acatou Valentin, mordendo um dos dedos fortemente. — Mas... quais serão os riscos de nós a empunharmos?

— Bem... eu a empunhei.

— Não, você foi uma negação erguendo-a. É diferente de ter feito algo — Valentin cuspiu. — Alias... por que Silene honraria Innamabel? Tal é nossa dignidade!

— Mas é Innamabel quem dentre nós não sucumbiu — Dália estava centrada nas páginas dos livros. — O arauto não entregaria seus segredos a pessoas como Heinrich, mas a Innamabel confiou um grande fardo; o poder de escolher. E quando o momento chegar, certamente ela saberá o que escolher.

— E se não souber? Ela nunca foi um exemplo de autocontrole.

— Perdão, mas ainda me encontro aqui! — disse. — Posso não ter alcançado a forma perfeita de vocês, mas fiz reservas durante toda a minha vida.

— Reservas não, submissão.

Ela se arrastou do altar até o centro do templo, onde ele também se arrastou e a encarou de cima.

— Não se matem — rogou Taú, apartando-os.

— Minha virtude está na minha força de vontade... se eu quiser, certamente escolherei pelo melhor.

— Ou não.

— Ou sim — rebateu Dália. — Innamabel não é uma criança mimada. Gertruida a intitulou de leoa, então isso deve significar a sua força.

Valentin suspirou, entediado.

Taú arrastou Innamabel para que se sentassem junto, em silêncio. Ela só queria conforto em um ombro amigo para que não mais se preocupasse com o futuro que os aguardava e parecia tão terrível de se encarar, principalmente ao passar de uma mera camponesa, mulher de família, para uma guerreira envolta num véu sobrenatural e escolhida para erguer uma espada capaz de apartar as trevas.

Sirus: Os Outros Vampiros (Vencedor #TheWattys2020)Onde histórias criam vida. Descubra agora