Presa?

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Ludmilla P.O.V

As algemas apertam um pouco meus pulsos. O colchão também não é lá muito confortável, e eu não consigo dormir por conta do barulho infernal na 23°a Delegacia de Polícia de Los Angeles. Os policias parecem discutir sobre alguma coisa que veio errada no pedido de rosquinhas deles. Panacas. Ao invés de prenderem bandidos de verdade, me prendem só por ter entrado em uma casa. Eu nem mesmo roubei algo, só queria saber como era. Só queria saber como era a casa "dela". E agora estou aqui, em uma cela mal-cheirosa, na companhia de policias insuportáveis, e desejando nunca ter feito tamanha loucura

Algumas horas antes

Escuto a voz de Kurt Cobain e sei que é hora de acordar. Me sinto extremamente cansada após ter ficado 4 malditas horas arrumando e limpando um cenário. Sou Ludmilla Oliveira, tenho 25 anos, e sou estagiária de cinema com o famoso Drake Adams.
Estagiária mesmo era só o nome. A última coisa que eu fazia pro Drake era algo relacionado a cinema. Ele me fazia limpar sua casa, passear com seus cachorros, lavar seu carro, todo tipo de tarefa doméstica. Drake era um filho da puta folgado. Acho não me demiti até agora porque o novo filme dele tem algo que me interessa. A estrela do seu filme, que contava a história de uma serial killer, tinha nada mais, nada menos, que minha atriz favorita, Brunna Gonçalves.
Eu era completamente apaixonada por ela, desde que ela fez a série Lost Stars. Brunna era uma jovem atriz, nascida em Cuba, mas morava aqui desde os 5 anos de idade. Ela tinha 26 anos e morava aqui em LA. Eu sempre quis saber onde ela morava, e até 6 meses atrás eu não tinha a menor esperança de conhecê-la até ficar sabendo que ela faria o novo filme de Drake, o que quer dizer que eu teria a oportunidade.

Me levanto preguiçosamente e vou ao banheiro tomar um rápido banho. Logo saio de lá, colocando uma calça jeans, uma jaqueta preta de couro, meus óculos de grau e uma blusa da Calvin Klein, que tinha estampas da Ponte do Blooklin em NY, um lugar que eu era maluca pra conhecer mais nunca tive grana. Saio do meu quarto e vejo minhas amigas e companheiras de apartamento, Daiane e Fernanda, no maior amasso. Elas eram um casal desde sempre, havíamos estudado juntas no ensino médio e na faculdade. Daiane era personal trainner em uma academia e Fernanda era advogada em um escritório aí. Eu sempre me sentia excluída quando estava junto com elas, sempre me sentia de fora. Eu havia namorado uma vez na vida, uma garota do colégio aos 17 anos. Durou 3 meses até ela descobrir minha intersexualidade e me chutar. Digamos que as garotas não gostam tanto assim de descobrir que eu tenho um pênis ao invés de Vagina.

- Será que vocês me deixam entrar nessa cozinha pra pegar pelo menos um café? - Falo risonha, e elas se soltam imediatamente, coçando os cabelos e dando sorrisos amarelos - Valeu.

Pego meu copo de café, e as chaves do meu fusca Jerry, presente do meu avó aos 17 anos.

- Bom dia, Lud. - Fernanda fala sem graça - Pega alguma coisa pra comer, não bebe só café, vai ficar com fome. - Fernanda era extremamente protetora, e eu confesso que adoro isso, saber que alguém se preocupa comigo.

- Tudo bem, vou pegar uma barrinha de cereais. - Sorrio pra ela e pego uma barrinha, dando um tchauzinho pra Daiane.

- Se cuida, Ludmilla! - Fernanda grita enquanto fecho a porta, e grito um "claro" de volta, sabendo que me cuidar dependia do Drake e da Brunna Gonçalves. Jerry demora um pouco pra pegar no tranco, mas logo estou na estrada, dirigindo pelo trânsito louco de LA. A maioria da galera daqui tinha carros esportivos, então eu era uma coisa destoante no trânsito com meu fusca.

A dona dos direitos do filme do Drake era a Universal Pictures, o que quer dizer que eu tinha que dirigir até o seu estúdio. Chego lá até rápido e corro pro estúdio, porque tenho que preparar o café dos atores. A maioria bebia café, exceto Brunna, que bebia chailatte. Faço os cafés rapidamente e escuto Drake me gritar. Acelero o passo e vou até o estúdio 4. Brunna gravava uma cena com Tiago Martins, e me permito observar o modo maravilhoso que ela se porta. Durante todos esses 6 meses Brunna se mostrou uma pessoa bem fechada, só conversando com Drake e Tiago, ignorando todo o resto. Isso incluía eu. Ela me ignorava bastante, e sempre evitava me olhar.

- Os cafés pessoal! - Grito, e todos param pra poder vir beber. Levo o café de Drake até ele, que tem a companhia de Brunna. Entrego suas bebidas a eles, e Brunna nem mesmo me olha. Fico frustada com isso, porque poxa, eu era completamente apaixonada por ela e não recebia nem um simples obrigado. Isso era algo que eu devia ter me acostumado.

Saio voando de lá ao ver o olhar que Drake me dá ao me ver parada como uma idiota olhando pra Brunna. Enquanto passo pelos corredores dos camarins, vejo uma garota correndo apressada até mim.

- Brunna Gonçalves está aqui? - Ela fala ofegante

- Sim. Está sim. O que você quer?

- Mandaram entregar isso pra ela. Falaram que como não a encontraram na casa dela, resolveram mandar aqui. Pode entregar a ela? - Pego a carta e não vejo nenhum selo nem nada. Mais havia o endereço de Brunna. O ENDEREÇO DELA!

- Pode deixar que eu entrego. - A garota sai correndo, me deixando com uma chance de ouro na mão. Era minha chance de ter proximidade de Brunna. Eu iria invadir a casa dela. Anoto o endereço no meu celular e volto ao estúdio 4.

- Drake. Há uma carta para Brunna aqui.

Drake tira os olhos da cena e me fita com um ar interrogativo.

- Ah é? Corta! Brunna querida, tem algo aqui pra você.

Brunna vem andando devagar até nós e para, fitando Drake com as sobrancelhas arqueadas.

- Pra mim? - Sua voz é sedutora e percebo um sotaque leve nela.

- Sim. A Ludmilla que trouxe.

- E quem seria Ludmilla? - Ela indaga.

- Eu. - Falo tímida, levantando a mão. Brunna se vira em minha direção, me olhando com aqueles olhos castanhos lindos. Sua testa enruga um pouco, como se estivesse confusa com algo. Ela anda até mim e estende a mão.

- Pode me entregar? - Ela está falando diretamente pra mim. Seus olhos pousados em meu rosto, coro as bochechas e lhe estendo a carta.

- Aqui está senhorita Gonçalves. - Brunna pega a carta e seus dedos resvalam nos meus; sinto um choque no corpo

Ela pega a carta e se afasta de nós.

- Pode ir, Ludmilla. - Drake me tira do transe, dando um cutucão em meu braço. Saio do estúdio voando, com o objetivo de ir a uns dos lugares dos meus sonhos. A casa da mulher a qual eu era apaixonada. Brunna mora em um condomínio em Beverly Hills. Não havia porteiro, o que facilitou muito o meu trabalho. Subo uma rua íngreme e paro Jerry em frente a uma belíssima mansão. Desço do carro hesitante, olhando para todos os lados, me aproximando da casa. A porta estava trancada. Merda, porque não pensei nisso? Mas será que...

Olho debaixo do tapete e encontro a chave. Dou um sorriso maroto, abrindo a porta. A mansão de Brunna era maravilhosa. Todos os móveis era de alguma cor clara e havia fotos dela pela casa. Fotos com seus pais e a irmã, viagens, premiações, e na parede havia um pôster de Lost Stars. Havia uma escada que subia para um segundo andar. Subo rápido, deixando minha jaqueta no chão da escada.

O segundo andar da casa de Brunna era maravilhoso. Havia vários cômodos e em um deles era o seu quarto. O quarto de Brunna era lindo. Tinha uma cama de casal enorme e uma sacada que dava a visão de LA. A casa dela era linda, e me pego cheirando suas roupas. Não sei quanto tempo estou aqui, mas já escureceu e decido que devo ir embora antes que Brunna chegue. Mas meus planos são impedidos quando vejo a luz da sala do andar debaixo acesa. Merda. E assim que começo a descer as escadas, um grupo de policiais entra na casa.

- Parada, parada, parada!

Eles tem armas apontadas pra mim e me sinto encurralada. Logo há um par de frias algemas em volta do meu pulso.

- Senhorita, você está presa por invadir a casa de Brunna Gonçalves.

Sinto um frio passar pelo meu corpo. Os policiais me arrastam para fora da casa e vejo que há 3 viaturas paradas. Sou colocada no camburão de uma delas e vejo Brunna parada na porta de sua casa. Ela me encara sem expressão alguma e continua assim até que o carro da polícia se afaste e eu não a vejo mais.

Hands To Myself - BRUMILLAOnde histórias criam vida. Descubra agora