Jaqueta

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Eu nunca iria imaginar que seria presa.
Ainda por cima, presa por invadir a casa de uma das pessoas que eu mais admirava nesse mundo. Só de lembrar da expressão fechada de Brunna ao ver que eu era a intrusa de sua casa, meu estômago se revirava. Ela com certeza acha que eu sou maluca, e talvez eu seja, e vai pedir ao Drake que me demita. O que eu tinha na cabeça?
Acho que levei essa obsessão além do que deveria.

Os policiais continuavam falando de rosquinhas.

- Ei, policial! - Chamo um policial gordinho que estava sentado em uma cadeira lendo um exemplar da Sports Illustraded.

- O que você quer? - Ele se aproxima, com cara de tédio

- Pode me falar que horas são?

Ele olha em seu relógio de pulso. - 2 da manhã - Meu deus, já era tarde pra caramba! Daiane e Fernanda deviam estar preocupadas.

- Posso fazer meu telefonema agora? - Ele faz uma careta, e leio na placa que há em seu uniforme que seu nome é Timbers. - Valeu, Timbers. - Digo quando ele abre a porta de minha cela. Timbers me leva até um canto da delegacia onde havia um telefone, no caminho vários policiais me encaram e eu dou um sorriso amarelo.

- Está aí. - Timbers se afasta. Decido ligar para o celular de Fernanda, que atende rapidamente.

- Alô? - Ela tem a voz afobada

- Oi, Fernanda. Sou eu Ludmilla.

- Ludmilla! - Ela grita, e escuto a voz de Daiane ao fundo: " Aquela desgraçada deu sinal de vida?"

- Fernada, escuta, não posso demorar. Preciso que você me busque aqui na 23°a Delegacia.

- Delegacia, mas por que?

- Digamos que eu fui presa.

- O que? - Fernanda grita. - Por que você fez isso Ludmilla Oliveira? Qual o seu problema?

- Olha Fernanda, eu te explico depois. Você pode vir aqui?

- Está bem. Daiane e eu estamos indo pra aí. - E desliga o telefone. Timbers se aproxima novamente.

- De volta pra cela, Oliveira. - Bufo, frustada por ter que voltar pra aquele lugar abafado. Sento no chão da cela e Timbers coloca uma cadeira ao meu lado, mas obviamente fora da cela. Daiane e Fernanda estavam furiosas e minha cabeça doía só de pensar nas broncas que iria levar. Tento pegar no sono, mas é óbvio que não consigo. Eu queria desesperadamente ir pra casa. Passam-se uns 20 minutos, eu acho, até eu ouvir uma voz que me faz pular de alegria. Fernanda.

- Fernanda! Fernanda! - A baixinha está com uma expressão séria, conversando com o delegado, que foi quem me prendeu. Ela mostra uns papéis pra ele e se aproxima de mim.

- O que você tinha na cabeça? - Seu tom de voz é furioso. - Invadir propriedade privada, e ainda por cima a casa da Gonçalves?

- Eu...

- Você nada! Você não tem noção do quão preocupadas Daiane e eu ficamos, Ludmilla Oliveira. - Me sinto envergonhada  e baixo a cabeça.

- Me desculpe. Fernanda, eu só fiz isso porque queria de alguma forma me sentir próxima dela. Entende?

Fernanda suspira, pegando na minha mão. - Olha, eu vou te tirar daqui, ok? Daiane está lá fora e eu liguei pro Renatinho. Ele está morto de preocupação e só não vai vir porque a Amber está com bastante cólica. - Me sinto um pouco melhor ao saber que Fernanda ligou pro Renatinho. Renato Smith, ou Renatinho, era o meu melhor amigo de infância. Nos conhecemos desde os 8 anos e somos inseparáveis. Ele é bioquímico, casado com Rômulo Mello, também bioquímico. Os dois se conheceram no primeiro ano da faculdade e tem uma filha chamada Amber, que eles adotaram de uma mãe adolescente que não queria a criança. Amber tem 7 meses e é a coisa mais linda do mundo.

- Tudo bem, Fe. Muito obrigada.

Fernanda se afasta, me deixando sozinha com Timbers e meus pensamentos culposos. Eu simplesmente estava ferrada. Passa um bom tempo e o delegado se aproxima da minha cela.

- Você está liberada, senhorita Oliveira.

- Liberada?

- Sim. A Srta. Gonçalves retirou sua queixa contra você. Ela está aqui e mandou que nós a soltássemos

Dou um salto e ele abre a porta, tirando as minhas algemas. Saio de lá de dentro vacilante, sem saber exatamente o que fazer. Brunna me liberou? E estava aqui? No momento em que chego até o Hall da delegacia, vejo Brunna lá parada. Ela me encara, seus belos olhos faiscando, mais maravilhosa do que nunca. Ela usa uma jaqueta preta, e percebo com assombro que era a minha jaqueta deixada no chão de sua escada.

- Oi, Ludmilla. - Ela diz sorrindo. Quantas vezes eu não sonhei com esse dia? O dia em que ela saberia o meu nome.

- Oi. - Falo tímida

- Ficou sabendo que eu retirei a queixa contra você?

- Sim. - Abaixo a cabeça, atordoada.

- Ótimo. Você e eu temos assuntos a discutir. Mas quero que você vá pra casa e descanse. A senhorita Brooke está lá fora te esperando. - Fico encabulada por ela saber o nome de Fernanda e falar que tem assuntos comigo.

- Tudo bem. - Ela me entrega um cartão, que tinha seu nome e um número.

- Esse é meu número. Quero que me ligue mais tarde o mais rápido que puder.

Confirmo com a cabeça, assombrada por finalmente ter seu número. Isso tá tão estranho. Brunna se afasta, indo em direção a saída, mas para.

- Adorei a sua jaqueta. - Diz e sai, me deixando de boca aberta. Assino alguns papéis, pego meu celular e saio para fora. Liberdade

Daiane e Fernanda estão paradas próximas ao Prius da primeira. Fernanda me abraça e entramos dentro do carro. - Você tem bosta na cabeça, Ludmilla? Eu sempre soube que você era retardada, afinal você é fã da Brunna, mais invadir a merda da casa dela? - Daiane diz finalmente, após uns minutos se silêncio. - Nós estávamos mortas de preocupação. Fernanda chegou a chorar.

- Eu sinto muito, Daiane. Sério. Eu não pensei direito - Ela se cala e vejo Fernanda sorrir pelo retrovisor.

- Vai ficar tudo bem. - Tento acreditar em suas palavras, mas sem sucesso. A presença de Brunna na delegacia não é citada e fico satisfeita. Não queria ter que explicar coisas que nem eu sabia. Logo estamos em casa e eu corro para o banho. Fernanda e Daiane não falam nada comigo, entendendo que eu queria ficar sozinha. Fiquei deitada na minha cama, pensando em tudo que aconteceu. Por que ela me liberou?

Por que pegou minha jaqueta e disse que queria falar comigo?

Bom, Brunna Gonçalves era mais estranha e maravilhosa do que pensei.



Hands To Myself - BRUMILLAOnde histórias criam vida. Descubra agora